quarta-feira, dezembro 20, 2017

Óvulo faz seleção e controle de qualidade de espermatozoides

Até agora, a ciência tratou o papel do óvulo na fertilização como o de uma atriz de figuração que só espera a fala do protagonista para responder: “Sim, senhor.” Um estudo realizado no Instituto de Pesquisa Pacific Northwest, em Seattle, nos Estados Unidos, entretanto, descobriu que o óvulo não é uma célula passiva; pelo contrário, ele é capaz de escolher ou rejeitar os espermatozoides de acordo com a carga genética do gameta masculino. É como se o óvulo fizesse uma avaliação da identidade do espermatozoide e estivesse ativamente pronto para decidir entre “hoje, não” ou “hoje, sim”. A corrida de espermatozoides, pequenos e ágeis, para fecundar o óvulo é uma das figuras mais frequentemente estampadas nos livros de Biologia e no nosso imaginário.

A pesquisa feita pelo cientista Joe Nadeau acrescenta, porém, uma novidade fundamental nesse cenário: o fato de que o óvulo não é uma célula dócil e submissa durante o processo de reprodução. A esse quadro, o cientista deu o nome de “fertilização geneticamente tendenciosa”.

Em entrevista ao site especializado em ciência Quanta Magazine, o pesquisador que desafia a Lei de Mendel explicou que, de acordo com as evidências do estudo, o óvulo faz as vezes de um recrutador e elimina da corrida os espermatozoides com genes inadequados – tudo para que a fecundação seja o mais saudável possível. Ou seja, a fecundação não é aleatória, e, nessa teoria, o óvulo pode dar preferência ou afastar espermatozoides. Tudo eleva a seleção sexual no nível celular a um patamar ainda mais complexo – assim como a escolha entre as pessoas (e é o cientista quem afirma isso). “É o equivalente a escolha de um parceiro”, explica Joe.

Para chegar aos resultados, o cientista colocou camundongos machos com genes normais para cruzar com dois grupos de fêmeas: parte com genes normais e parte carregando artificialmente genes com chances de desenvolver câncer de testículo, uma das formas mais hereditárias de tumor. Nos primeiros cruzamentos, nasceram ratinhos com genes aleatórios, de acordo com as leis de Mendel. Em uma segunda fecundação, Joe inverteu o jogo, colocando fêmeas com genes normais para cruzar com machos com a cópia do gene mutante. Conclusão: apenas 27% dos filhotes apresentavam o gene mutante do pai; a estimativa era de que 75% nascessem com a variação genética.


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