A
pergunta acima é relevante por dois motivos: primeiro, porque alguns
criacionistas acham que não precisam saber disso; quem precisa saber é quem não
é criacionista. Eles já sabem o que significa. Segundo, porque os que não são
criacionistas acham que já sabem porque não são. Quem é criacionista é que
precisa entender porquê o criacionismo não faz sentido. Obviamente ninguém tem
o monopólio do que significa ser criacionista, pois existem muitas versões
diferentes de criacionismo. Porém, muitas pessoas que se dizem criacionistas e
muitas das que acham que ideias criacionistas são absurdas no mundo de hoje
também não conhecem alguns fatos cruciais relacionados ao criacionismo.
O
consenso acerca das bases do mundo moderno é de que houve a Antiguidade Clássica
em que gregos e romanos foram sociedades prósperas que desenvolveram a
filosofia, as artes, as leis e então o mundo ocidental se tornou cristão. A
volta aos ideais gregos e romanos resultou em valorização da razão, em
humanismo e direitos humanos e em progresso novamente. Que o cristianismo
lançou o mundo nos séculos da Idade Média em que, apesar da influência da
cultura greco-romana, a sociedade mergulhou no obscurantismo e na superstição.
Embora, hoje, muitos tentem argumentar que a Idade Média não foi exatamente um
período de trevas intelectuais em que não houve progresso, ainda há a tendência
de se atribuir à religião a responsabilidade pela ignorância e pouco
desenvolvimento da época.
Sabe-se
que nos séculos medievais a cultura grega não estava esquecida, pois os
filósofos e teólogos baseavam seus ensinos em autores gregos e temas da Bíblia.
O fato é que tanto os autores gregos quanto os temas da Bíblia não eram
ensinados verdadeiramente. Os livros eram escassos, tanto obras gregas e
romanas quanto Bíblias, pois a imprensa não havia sido ainda inventada. Uns
poucos eruditos detinham algum conhecimento para ler obras traduzidas e menos
deles ainda para ler em línguas originais.
A
religião do período medieval era o que resultou da fusão do cristianismo, desde
o tempo de Constantino, com as práticas e crenças religiosas greco-romanas
acrescidas de ideias filosóficas dessas culturas.
O
Renascentismo não foi um reaparecimento e valorização da cultura grega-romana,
já que, de certa forma, elas já eram valorizadas; apenas permitiu que essa
cultura se tornasse mais plenamente conhecida e divulgada. Se tudo o que
tivesse ocorrido fosse somente esse despertar para os valores clássicos, o
mundo de hoje poderia não ter tido a Declaração Universal dos Direitos Humanos nem
progresso da Ciência. Por que afirmo isso? Porque muitos dos que foram famosos
renascentistas não tinham intenções de mudar o status quo (confira);
quem desejava que ele mudasse eram os reformadores, pois os eruditos
renascentistas eram patrocinados pelo clero e a realeza da época.
Os
reformadores descobriram na Bíblia o sacerdócio de todos os crentes (1 Pedro
2:9, 15-16) e defendiam a liberdade de consciência e educação para todos (“A
verdadeira riqueza de uma cidade, sua segurança e sua força, é ter cidadãos
instruídos, sérios, dignos e bem-educados”, Lutero, History of the
Reformation of the Sixteenth Century, Livro 10, capítulo 9. Tradução livre).
Foi quando pessoas pobres e humildes começaram a descobrir que podiam pensar
por si mesmas sem a mediação dos sacerdotes.
Além
disso, a redescoberta dos clássicos pode ter fomentado a filosofia, mas não foi
o que desencadeou a Revolução Científica. O que fez a diferença na explosão de
conhecimentos foi a percepção da necessidade da matemática para estudar a
natureza.
“A
[verdadeira] filosofia está escrita neste grandioso livro que está sempre
aberto à nossa contemplação (refiro-me ao Universo), mas que não pode ser
entendido sem que primeiro se aprenda a língua, e conheçam-se os caracteres com
os quais está escrito. Ele está escrito em linguagem matemática, e seus
caracteres são triângulos, círculos, e outras figuras geométricas sem as quais
é humanamente impossível entender sequer uma de suas palavras; sem estes
[caracteres] fica-se a vagar por um escuro labirinto.
“Deixando
de lado as sugestões, falando abertamente e tratando a Ciência como um
método de demonstração e raciocínio humanamente alcançável, sustento que
quanto mais isso participa da perfeição, menor será o número de proposições que
prometerá ensinar, e menos ainda provará conclusivamente. Consequentemente,
quanto mais perfeita é [a metodologia], menos atrativa será e menos seguidores
terá” (Galileu Galilei, Il Saggiatore,
1624. Grifos acrescentados).
“Nenhuma
investigação humana pode ser chamada de científica se não passar no teste das
demonstrações matemáticas” (Leonardo da Vinci, citado em W. J. Meyer, Concepts
of Mathematical Modeling. Grifo acrescentado).
A
descoberta do Cálculo por Newton e seu estudo das leis do movimento e da ótica
permitiram a “investigação do calor, da luz, eletricidade, magnetismo e química
dos átomos” (confira),
levando ao desenvolvimento da Química, Biologia, Medicina, Revolução
Industrial, Revolução Tecnológica, etc.
Esses
pais da Ciência era todos cristãos e Newton gastou tanto tempo estudando a
Bíblia quanto a natureza (confira).
Maupertuis,
o matemático e filósofo francês que descobriu o princípio da ação mínima, do
qual todas as leis básicas da Física podem ser deduzidas, extraiu esse
princípio do que ele aprendeu na Bíblia sobre as características de Deus (confira).
Dessa
forma, o que teve como resultado a ideia de liberdade e igualdade dos seres
humanos e o progresso científico e tecnológico do mundo atual foi o estudo da
mensagem bíblica não misturada com a religião e a cultura greco-romana, como
acontecia durante a Idade Média. Mas a humanidade ainda prossegue culpando o
cristianismo pelo atraso moral e intelectual do período medieval.
(Graça
Lütz é bióloga e bioquímica)