quinta-feira, outubro 11, 2012

A grande missão dos EUA: o código de Romney

“A grande missão da América é derramar a luz da verdade e da democracia sobre todo o mundo.” Não é a primeira vez que o “resto do mundo”, atolado nas trevas e ditaduras, está ouvindo tal lema. Esse postulado acompanha cada corrida presidencial nos Estados Unidos. Mas, desta vez, a palavra de ordem causou inquietação a muitas pessoas, porque Mitt Romney, um dos candidatos a presidente, é um alto hierarca da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Não é de excluir que no caso de sua vitória os Estados Unidos serão mandados por mórmons, consideram alguns peritos. Nos Estados Unidos, os mórmons apoiaram tradicionalmente, inclusive financiando, o Partido Republicano. Contudo, é pela primeira vez que o posto de chefe de Estado é pretendido por um representante dos mórmons. Mas é compreensível. Até recentemente, a atitude da sociedade americana para com os mórmons foi, para não dizer mais, não uniforme.

Os cristãos consideram que os mórmons formem uma seita totalitária. Tal é a opinião tanto de católicos, como de cristãos e da maioria de protestantes, diz Konstantin Bendas, bispo da União Russa de Cristãos de Fé Evangélica: “Os mórmons não podem chamar-se de cristãos, porque falam de outra Escritura e de outra natureza de Cristo. Aquilo que professam difere cardinalmente do cristianismo bíblico. Não penso que qualquer igreja ou uma maioria cristã seja movida por essa ideia, a aceite e os reconheça. Tanto menos na Rússia, onde a igreja evangélica, protestante é muito conservadora na observação da Sagrada Escritura.”

As crenças dos mórmons assentam em “revelação” do simples fazendeiro americano Joseph Smith Jr. No início do século 19, aparecera diante dele o anjo Morôni e lhe transmitira um livro que relata sobre uma antiga geração de Israel que haveria mudado para a América 600 anos antes do nascimento de Cristo. Após a ressurreição, Jesus Cristo [teria] visitado os americanos, partilhando com eles sua sabedoria divina.

Os peritos descrevem essa religião como sistema de mistérios, conhecimentos ocultos sobre o passado das Américas de antes de Colombo, abertos só para aqueles que acreditam nessa doutrina, em que se afirma que irão se salvar só os membros da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias e seus familiares. Aponta-se, naturalmente, a “eleição divina” dos Estados Unidos: o segundo advento terá lugar no território de Salt Lake City, onde Jesus Cristo irá salvar os eleitos.

Essa é a ideologia. Na realidade, a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias é a mais rica confissão da atualidade, que dispõe de meios financeiros de 30 bilhões de dólares. Esse montante pode ser utilizado para quaisquer finalidades: tanto missionárias, como políticas. Todos os mórmons doam à Igreja uma décima parte dos seus rendimentos por maiores que sejam. O próprio serviço de segurança controla rigidamente essa regra. A hierarquia na Igreja Mórmon é muito rigorosa. Graças a tal estrutura totalitária, os santos dos últimos dias ocupam gradualmente nas últimas décadas altas posições também em outros países, destaca Alexei Yudin, perito em religiões:

“Essa não é apenas uma comunidade americana, muito influente na sociedade dos Estados Unidos. São também comunidades espalhadas pelo mundo. Nos últimos dez anos, a Igreja Mórmon dinamizou fortemente sua atividade também no continente europeu e pode ganhar caráter de projeto internacional: um apelo messiânico realizado concretamente em forma de diferentes projetos empresariais. Isso também se reflete na política real.”

Hoje, os mórmons controlam conhecidas corporações e grupos financeiro-industriais no mundo. Pertencem aos mórmons a maior rede de hotéis Marriott International, a companhia financeira americana American Express, a maior transportadora aérea europeia, Deutsche Lufthansa AG, a companhia de auditoria Price Waterhouse Coopers. No Credit Suisse, o principal banco da Suíça, o diretor executivo para a Europa, Oriente Médio e África é mórmon: Eric Varvel. Muitos gerentes dos bancos centrais de Wall Street são mórmons. Por exemplo, em 2010, o banco Goldman Sachs contratou 30 finalistas da Universidade Mórmon. Eles formam o esteio dos serviços secretos e das estruturas militares americanas e do Ministério das Finanças dos EUA. Mórmons têm laços muito fortes com o Grupo Rothschild. Já se pode dizer que eles determinam muitos aspetos da política externa e interna dos Estados Unidos.

A Igreja Mórmon utiliza todas as tecnologias informativas. Nas palavras do ex-dirigente da Delegação Russa da Interpol, Vladimir Ovtchinski, [existe] um banco mundial de dados eletrônicos sobre todos os mórmons vivos e mortos no planeta, que inclui também suas ligações de parentesco. O FBI e a CIA utilizam amplamente a base de dados dos mórmons. Até hoje, os mórmons dispõem de informações sobre quase mil milhões de habitantes da Terra. Nenhum serviço de reconhecimento tem algo semelhante, aponta Ovtchinski.

Após a entrada de Romney na corrida presidencial, muitas comunidades cristãs centraram de repente suas pregações num dos principais lemas do candidato-mórmon: “A América é luz para o mundo”, embora as pregações cristãs verdadeiras não se refiram ao regime político dos países, ressalta Piotr Eremeev, diretor da Universidade Ortodoxa da Rússia:

“O cristianismo ensina ao homem e à sociedade os princípios da coexistência, do amor e da irmandade entre as pessoas. Quanto ao regime estatal, um cristão ou cristãos, como comunidade, nunca viram a tarefa de sua missão na reestruturação de um Estado. É por isso que os cristãos viviam tranquilamente em impérios e em reinos.”

Os próprios americanos irão decidir a 6 de novembro quem irá ocupar o Salão Oval da Casa Branca. Mas, segundo aconselham peritos, os políticos devem se preparar para “iluminação à americana”, se nas eleições vencer Mitt Romney. Nas palavras de Vladimir Ovtchinski, 30 bilhões de dólares e 50 mil missionários espalhados pelo mundo, assim como figuras-chave no poder e nos serviços secretos, são uma força importante e será necessário levá-la em conta.