Cinegrafista brutalmente morto no RJ |
A
revista Veja desta semana “se espanta”
com a situação de barbárie que nosso país (e não é “privilégio” nosso)
enfrenta. E destaca a volta dos “justiceiros” – criminosos impunes, como os que
amarraram um adolescente delinquente a um poste para fazer justiça com as próprias
mãos –; o colapso no transporte; o caos aéreo e os apagões. E pergunta: “Onde
está o Brasil equilibrado, rico em petróleo, educado e viável que só o governo
enxerga?” A edição certamente foi fechada antes da morte do cinegrafista da TV Bandeirantes
que foi morto atingido por um explosivo enquanto cobria uma manifestação contra
o aumento do preço das passagens de ônibus, no Rio de Janeiro. Barbárie das
barbáries: um pai de família ser brutal e estupidamente morto enquanto fazia
seu trabalho! E alguns se preocupam apenas com a imagem que o Brasil está
projetando ao mundo em véspera de Copa do Mundo! Não deixem que vejam nosso
porão! Mostremos apenas a sala de estar com a sujeira devidamente coberta pelo
tapete fino.
Estive
em Porto Alegre no último fim de semana. As “arenas” (a do Grêmio e a do Inter)
estão bonitas. Pujantes. A cidade está em obras (e há até quem duvide que serão
concluídas nos poucos meses que faltam para os jogos, e os que têm certeza de
que muito mais dinheiro será desviado com a desculpa de que essas obras
precisam ficar prontas - ali e em outras cidades que serão sede de alguns poucos jogos do Mundial). Quem dera um esforço desses fosse empreendido em favor
da educação em nosso país... Que bilhões fossem investidos na capacitação e
valorização dos professores – e não para encher ainda mais os bolsos de
jogadores e “dirigentes” esportivos já milionários, e que só servem para “encantar”
o povo que adora o pão e o circo. Quem dera os hospitais, as escolas e mesmo as
prisões fossem “padrão Fifa” em nosso país... E não me venham engraçadinhos sem
graça dizer que Copa não se faz com hospitais! Claro que não. Mas a dignidade
de um povo passa pela prestação de serviços públicos de qualidade. Não pelas “arenas”
dos gladiadores milionários do século 21.
Enquanto
voltava para casa e lia tranquilamente um livro no avião, pude ver de relance a
tela da TV localizada na poltrona do passageiro que viajava à minha frente. Ele
assistia à novela das nove. Fiquei estarrecido! Em pleno horário nobre, uma
cena de estupro coletivo! Depois, no comercial, lá estava a rebolativa nua
Globeleza, cuja dança devia fazer corar quem estivesse assistindo – ali no avião
e em milhões de casas em todo o Brasil. Dança, sensualismo e comerciais
divertidos com múltiplos apelos ao consumo faziam esquecer o mal estar da cena
exibida fazia poucos minutos, nivelando todo esse conteúdo na mente anestesiada
dos espectadores. A barbárie está nas ruas, mas também está nas telas que “fazem a cabeça” do povo.
O
que está acontecendo com este país?! Qual o objetivo de uma novela exibir uma
cena de violência tão chocante e absurda? Qual o propósito de uma emissora que
tem concessão do governo exibir mulheres nuas rebolando em horário que, eles
sabem, as crianças ainda estão na sala?
Enquanto
o país afunda moralmente (e corre riscos tangíveis com o calor e a falta de
chuvas), as massas só têm olhos para o Carnaval e a Copa...
Violência,
erotismo barato, revolta sem justa causa, roubalheira descarada, falta de
educação, hedonismo – essa é a barbárie que nos
assusta. Uma barbárie anunciada, é verdade, e que só não é insuportável para
aqueles que sabem que essas coisas apontam para o fim deste sistema falido e corroído; apontam
para o momento em que Deus porá um ponto final nisso tudo. Que chegue logo
esse dia!
Michelson Borges