Homossexualidade pré-natal? |
Segundo
o holandês Dick Frans Swaab, autor de We
are our Brains (Spiegel & Grau, 448 páginas) (“Nós somos os nossos
cérebros”, em tradução livre), a homossexualidade estaria ligada a uma mudança
na composição hormonal e na formação do cérebro. Nesse sentido, o neurologista
acredita que fumar ou ingerir drogas na gravidez pode influenciar na formação
da sexualidade do feto. “Mulheres grávidas que sofram de estresse tem maior
chance de dar à luz bebês homossexuais, porque os níveis elevados do hormônio
de estresse cortisol afeta a produção de hormônios sexuais fetais”, escreve
Swaab. A abordagem de Swaab, professor emérito de neurobiologia da Universidade
de Amsterdã, parte do pressuposto de que a sexualidade é determinada no útero e
não pode ser alterada, contrariando uma visão partilhada por outros
especialistas de que a orientação sexual é uma escolha individual.
“Embora
seja frequente ouvirmos que o desenvolvimento após o nascimento também afete a
orientação sexual, não há absolutamente nenhuma prova científica disso”,
vaticina Swaab.
Para
exemplificar sua tese, Swaab cita o caso de uma droga prescrita a dois milhões
de mulheres para evitar abortos nas décadas de 40 e 50 que, segundo ele,
aumentou as chances de bissexualidade e homossexualidade nos recém-nascidos. “A
exposição à nicotina e à anfetamina durante a gravidez eleva as chances de a
mãe gerar uma filha lésbica”, afirma o holandês.
O
neurocientista também acredita que as chances de que um bebê se torne
homossexual são maiores quando a mãe já gerou filhos homens antes. “Isso se
deve à resposta imunológica da mãe às substâncias masculinas produzidas por
bebês do sexo masculino no útero. Essa reação se torna cada vez mais forte
durante cada gravidez”, acrescenta Swaab.
Há
mais de cinco décadas pesquisando a anatomia e a fisiologia do cérebro, o
holandês, que coleciona diversos prêmios em seu currículo, é um crítico voraz
do chamado “livre-arbítrio” humano e muitas de suas teses têm causado polêmica.
O neurologista acredita que o cérebro é pré-programado durante a gravidez,
influenciando as decisões de um indivíduo durante toda a sua vida, desde suas
experiências emocionais às suas preferências religiosas.
Sua
primeira investida no campo da orientação sexual ocorreu na década de 80 e,
desde então, Swaab vem provocando reações acaloradas de grupos de defesa dos
direitos gays, que afirmam que suas descobertas enquadram a homossexualidade
como um “problema médico”. O neurologista holandês, entretanto, discorda das
críticas e afirma que sua tese desconstrói o argumento de entidades
ultraconservadoras que acreditam na chamada “cura gay”.
Além
disso, como afirma que a homossexualidade é definida durante a gravidez, Swaab
descarta a hipótese de que filhos de pais homossexuais tenham maior chance de
se tornarem gays. “Crianças que cresçam em famílias de pais gays ou lésbicas
não têm mais chances de ser homossexuais. Não há qualquer evidência de que a
homossexualidade seja uma escolha de vida”, afirma.
A
tese de Swaab, entretanto, não é inédita. No 21º Encontro da Sociedade Europeia
de Neurologia, realizado em 2011, o professor Jerome Goldstein, do Centro de
Investigação Clínica de São Francisco, nos Estados Unidos, apresentou dados
baseados em tomografias computadorizadas que mostraram a diferença dos cérebros
entre homossexuais e heterossexuais. Segundo Goldstein, “a orientação sexual
não é uma opção, ela é essencialmente neurobiológica ao nascimento”.
Mas
essa não é a única polêmica do livro de Swaab. Na obra, o neurologista também
afirma que o comportamento “irritante” dos adolescentes seria uma evolução
natural para evitar o incesto e que partos difíceis seriam, na prática,
resultantes da predisposição, nos recém-nascidos, a transtornos mentais como
esquizofrenia, autismo ou anorexia.
Além
disso, o holandês também defende outras teses, como a de que pessoas
inteligentes costumam ser ateias, de que crianças bilíngues tem menos chance de
desenvolver Alzheimer ou de que uma desilusão amorosa tem a mesma reação no
cérebro do que a abstinência de um viciado.
Nota:
Polêmica como possa ser, a tese de Swaab adiciona mais lenha à fogueira da
discussão sobre as origens da homossexualidade. Na minha humilde opinião, as
duas coisas devem ser levadas em consideração: influências pré-natais e na
infância. Talvez com mais “peso” para o segundo motivo. É sabido que o caráter
está em construção antes da primeira década de vida, portanto, a maneira como a
pessoa é criada e o ambiente em que ela vive vão determinar em grande medida
sua personalidade e suas preferências. Mas a pesquisa de Swaab ajuda a lembrar
que o estilo de vida da mãe antes e durante a gestação também terá grande
influência na vida da pessoa que ela carrega no ventre. Como, diferentemente de
Swaab, eu creio em milagres e que Deus pode mudar tendências herdadas
(genética) e cultivadas (durante a vida) – e isso quem diz é Ellen White –,
acredito que Deus atua no sentido de curar ou manter sob sujeição certas
tendências “anormais”, como é o caso do próprio pecado em si. [MB]
Leia também:
"Gays nascem gays?"