É preciso usar com moderação |
Apesar
dos grandes avanços na prevenção e tratamento do câncer, as taxas da doença
permanecem altas no mundo todo. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde,
de 2008 a 2012, a incidência e o número de mortes por câncer cresceu: foram
mais de 14 milhões de casos (versus 12,7 milhões em 2008) e 8,2 milhões de
mortes (versus 7,6 milhões). De acordo com pesquisadores americanos, um culpado
importante para esses números podem ser nossas próprias práticas médicas. O uso
de imagens médicas com altas doses de radiação – tomografias em particular –
tem aumentado nos últimos 20 anos. Nos EUA, a exposição resultante de radiação
médica cresceu mais de seis vezes entre os anos 1980 e 2006, segundo o Conselho
Nacional de Proteção e Medidas de Radiação. As doses de radiação da tomografia
computadorizada (uma série de imagens de raios-X a partir de vários ângulos)
são de 100 a 1.000 vezes maiores do que os raios-X convencionais.
Claro,
o diagnóstico graças à imagiologia médica pode salvar vidas. Mas há pouca
evidência de melhores resultados de saúde associados com a alta taxa atual de
exames. Enquanto isso, a relação entre a radiação e o desenvolvimento de câncer
é bem compreendida: uma única tomografia computadorizada expõe o paciente a uma
quantidade de radiação que evidências epidemiológicas acreditam ser causadora
de câncer.
Os
riscos foram demonstrados diretamente em dois grandes estudos clínicos na
Grã-Bretanha e Austrália. No estudo britânico, crianças expostas a múltiplas
tomografias foram três vezes mais propensas a desenvolver leucemia e câncer
cerebral. E um relatório de 2011 concluiu que a radiação de imagens médicas e a
terapia hormonal foram as principais causas ambientais do câncer de mama,
aconselhando as mulheres a reduzir a sua exposição a exames desnecessários.
Tomografias
computadorizadas, uma vez raras, agora são rotina. Esse aumento do uso do exame
é resultado de vários fatores, incluindo o desejo de diagnósticos precoces,
tecnologia de imagem de qualidade superior e interesses financeiros dos médicos
e centros de imagem.
Embora
seja difícil saber quantos tipos de câncer resultarão de imagiologia médica, um
estudo de 2009 do Instituto Nacional do Câncer nos EUA estima que tomografias
realizadas em 2007 projetarão 29 mil casos de câncer e 14.500 mortes a mais
durante a vida útil dos pacientes expostos. De acordo com os cálculos, se o
país não mudar as práticas atuais, de 3 a 5% de todos os cânceres futuros podem
resultar da exposição a imagens médicas.
Cientistas
creem que esses testes são usados em excesso. Mas, mesmo quando são
adequadamente utilizados, eles nem sempre são feitos da maneira mais segura
possível. A regra é que as doses de imagiologia médica devem ser tão baixas
quanto razoavelmente possível. Mas não existem diretrizes específicas para
essas doses e, portanto, há uma variação considerável dentro e entre
instituições. A dose de um hospital pode ser 50 vezes mais forte do que em
outro.
Um
estudo recente em um hospital de Nova York descobriu que quase um terço dos
seus pacientes submetidos a vários exames de imagem cardíaca estava recebendo
uma dose efetiva acumulada de mais de 100 millisieverts de radiação – o
equivalente a 5.000 radiografias de tórax.
Nem
os médicos nem os pacientes querem voltar aos dias anteriores à invenção da
tomografia computadorizada. Mas, de acordo com os pesquisadores, é preciso
encontrar maneiras de utilizá-la sem matar pessoas no processo.
É
possível reduzir a taxa de imagiologia médica simplesmente evitando testes
desnecessários e minimizando a radiação quando não for necessário. Por exemplo,
muitos médicos de pronto-socorro rotineiramente encomendam várias tomografias
antes mesmo de ver um paciente. Tais práticas, para as quais há pouca ou
nenhuma evidência de benefício, devem ser eliminadas, segundo os cientistas.
Melhor
acompanhamento e diretrizes também ajudariam, como a supervisão regulamentar de
como os aparelhos são usados e normas claras publicadas pelas sociedades de
radiologia profissionais. As instituições que oferecem os exames deveriam ser
obrigadas a seguir doses garantidamente tão baixas quanto possível,
comparando-as com diretrizes publicadas.
Os
pacientes têm um papel a desempenhar também. Antes de concordar com uma
tomografia computadorizada, eles devem perguntar se ela vai levar a um melhor
tratamento da sua condição, se podem receber terapia sem o teste, se existem
alternativas que não envolvem radiação, tais como ultrassom ou ressonância
magnética, e, quando uma tomografia computadorizada for necessária, como a
exposição à radiação pode ser minimizada.
Nota:
Como sugere o texto acima, essas tecnologias que envolvem radiação devem ser
usadas com muita responsabilidade e moderação. O que chama a atenção é o
aumento dos casos de câncer, a despeito da melhora nos procedimentos de diagnóstico
e da maior eficácia dos tratamentos. Isso indica que o estilo de vida atual
favorece o desenvolvimento de doenças como o câncer: muita comida
industrializada, sedentarismo, estresse, etc. É preciso cortar o mal pela raiz –
mudar o estilo de vida – para minimizar ao máximo a necessidade de se submeter
a exames cujos efeitos colaterais são sabidamente nocivos. [MB]