Se há um relógio, houve um... |
Segundo
Morris, “os criacionistas não propõem que as escolas públicas ensinem a criação
em seis dias, a queda do homem e o dilúvio de Noé. Eles propõem, entretanto,
que devem ser ensinadas apenas questões discutidas pelo criacionismo científico, tais como as evidências de uma criação complexamente completada, o
princípio universal da decadência (em contraste com a suposição evolutiva de
organização crescente) e as evidências mundiais de catastrofismo recente. Todos
esses temas estão implícitos em dados científicos observáveis”.[2]
Quando
tratamos especificamente do criacionismo científico, é possível, sim,
demonstrar cientificamente que o universo e a vida foram criados.[3] Só não é
possível demonstrar quem criou. Portanto, o criacionismo científico trabalha
apenas a questão de se o universo e a vida foram criados ou surgiram
espontaneamente. Como se pode ver, a proposta do criacionismo científico não é
religiosa, embora, por vezes, possua implicações religiosas.
É
válido lembrar que o criacionismo científico não se preocupa em defender uma Terra
jovem, de cerca de seis mil anos de idade, tal como faz grande parte dos
adeptos do criacionismo bíblico. Por exemplo, o Dr. Thomas Barnes analisou as
medições diretas feitas do campo magnético da Terra durante os últimos 140 anos
e observou um declínio rápido da sua força; um decaimento da ordem de 5% por
século.[4, 5] Diante disso, o Dr. Barnes calculou que esse campo não poderia
estar decaindo há mais de dez mil anos, o que significa que essa evidência
sugere a possibilidade de a vida na Terra ter dez mil anos de idade, em lugar
dos usais seis mil anos. No entanto, questões sobre a idade são irrelevantes
para o criacionismo científico.
Por
outro lado, muitos acusam a Teoria do Design
Inteligente (TDI) de ser apenas um “criacionismo disfarçado”. Pensando nisso, o
físico Adauto Lourenço explica a diferença existente entre as duas propostas: “É
verdade que ela [TDI] encontra-se incorporada direta e indiretamente na maioria
das posições criacionistas conhecidas. No entanto, ela não é um sinônimo de
criacionismo, pois sua ênfase está na busca por sinais de inteligência na
estrutura da vida e do universo, e não nas causas que teriam produzido esses
sinais. A existência de um Criador, quem seria Ele e quais os Seus propósitos
na criação não fazem parte dos questionamentos da teoria do design inteligente.”[6: p. 14]
O
biólogo molecular Dr. Michael Denton também já havia feito distinção há algum
tempo entre o design inteligente (DI)
e a acusação de “premissas religiosas”: “A inferência de planejamento é uma
indução puramente a posteriori,
baseada numa aplicação inexoravelmente consistente da lógica e da analogia. A
conclusão pode ter implicações religiosas, mas não depende de pressuposições
religiosas.”[7: p. 341]
Outro
fato que não se pode ignorar é que, dentro do escopo do criacionismo científico,
é possível acomodar, de igual modo, algumas de suas variações, tais como: criacionismo
do dia-era, criacionismo da Terra velha e criacionismo da Terra jovem.
Para
o médico Carl Wieland, fundador da Journal
of Creation e ex-diretor geral do Creation Ministries International (CMI),
na Austrália, o design inteligente
pode ser entendido como um “subconjunto” do criacionismo científico.[8] Em relação ao mérito
do pioneirismo, o Dr. Henry Morris afirma que as ideias de “design inteligente estavam em nossos
argumentos criacionistas desde que começamos [em 1970]”.[9] Segundo ele, “um de
nossos cientistas do ICR (o falecido Dr. Dick Bliss) já usava este exemplo [do
flagelo bacteriano] em suas conversas sobre criacionismo há algumas décadas”.
Inclusive,
o Dr. William Dembski, proponente do DI, concordou com a afirmação de Morris ao
dizer que ele [Morris] “aptamente nota” o uso do flagelo como exemplo.[10] O Dr. Morris
acrescenta: “Os criacionistas deram as boas-vindas aos insights e argumentos do DI: certamente não vemos qualquer conflito
com o criacionismo científico. Para nós, não é criação ou design Inteligente.”
Vale
lembrar que o design inteligente, tal
como o conhecemos hoje, foi oficialmente estabelecido como teoria científica no
ano de 1993, quando um grupo de cientistas e filósofos norte-americanos se
reuniu em uma conferência na cidade de Pajaro Dunes, Califórnia, a fim de
questionar a teoria da evolução.[11]
Por
outro lado, a geneticista criacionista Dra. Geórgia Purdom diz que “as raízes
históricas do movimento do DI estão no movimento de teologia natural dos
séculos 18 e 19.”[12] Ademais, cientistas cristãos respeitados como Newton e
Kepler e a maioria dos outros “pais da ciência” acreditavam no design inteligente como o próprio
fundamento da ciência.[13, 14]
Para o
físico Adauto Lourenço, “o ‘criacionismo científico’
procura demonstrar que processos naturais e leis da natureza não teriam trazido
à existência o universo, a vida, nem a complexidade neles encontrada. Logo, o
criacionismo científico trabalha apenas com processos naturais e leis da
natureza. Por outro lado, o ‘design inteligente’ procura demonstrar
se o design observado na natureza é genuíno ou um produto
das leis naturais, necessidades e do acaso. Logo, o design inteligente trabalha apenas com a detecção de design.”
Em
outras palavras, “o criacionismo científico
não faz do design o seu objetivo
final, mas, sim, as leis da natureza e os processos naturais. O design inteligente faz do design o seu objetivo final”, afirma
Adauto.
Portanto,
podemos concluir, diante da análise das evidências levantadas, que apesar de alguns autores afirmarem que o criacionismo foi o ponto de origem do design inteligente, este se desenvolveu ao longo do tempo e se tornou uma
teoria independente, isenta de pressuposições religiosas.[15] A conclusão é esta: o
criacionismo científico e o design
inteligente são proposições distintas uma da outra.
(Everton Alves)
Referências:
[1]
Morris HM (Ed.). Scientific Creationism. San Diego: C.L.P. Publishers, 1974, p.12.
[2]
Morris HM. The Tenets of Creationism. Acts & Facts. 1980;9(7). Disponível
em: https://www.icr.org/article/168/
[3]
Entrevista concedida por Adauto Lourenço. Pesquisador defende criação do mundo.
Entrevistadora: Gisele Barcelos. JM Online, (16/06/2013). Disponível em: http://www.jmonline.com.br/novo/?noticias,27,entrevista,82036
[4]
McDonald KL, Gunst RH. Na analysis of the Earth’s Magnetic Field from 1835 to
1965. ESSA Technical Report, IER 46-IES 1, U.S. Government Printing Office,
Washington, 1967.
[5]
Barnes TG. Origin and Destiny of the Earth’s Magnetic Field. 2. Ed. El Cajon,
CA: Institute for Creation Research, 1983, p. 101-106.
[6]
Lourenço A. Como tudo começou: uma introdução ao criacionismo. São José dos
Campos, SP: Editora Fiel, 2007.
[7]
Denton M. Evolution, A Theory in Crisis. Bethesda, MD: Adler and Adler, 1986.
[8] Wieland C. Intelligent
Design: why the fuss, and what’s it about? Creation.com. Disponível
em: http://creation.com/intelligent-design-why-the-fuss-and-what-is-it-about
[9]
Morris HM. Intelligent Design and/or Scientific Creationism. Acts & Facts.
2006; 35(4). Disponível em: https://www.icr.org/article/2708/
[10]
Dembski WA. Intelligent design's contribution to the debate over evolution: a
reply to henry morris. Site pessoal de Dembski, (01/02/2005). Disponível em:
https://billdembski.com/documents/2005.02.Reply_to_Henry_Morris.htm
[11]
Nelson PA. Life in the Big Tent: Traditional Creationism and the Intelligent
Design Community. Christian Research Journal 2002; 24(4):20-25. Disponível em: http://www.equip.org/article/life-in-the-big-tent/
[12] Purdom G. The Intelligent
Design Movement: Does the identity of the Creator really matter? Answers
magazine, (02/05/2006). Disponível em: https://answersingenesis.org/intelligent-design/the-intelligent-design-movement/
[13]
Stewart MA (Ed.). Selected Philosophical Papers de Robert Boyle. New York e Manchester: Manchester University Press,
1979, p.144.
[14] Torley VJ. Newton
on Intelligent Design. Uncommon Descent, (14/03/2013). Disponível em: http://www.uncommondescent.com/intelligent-design/newton-on-intelligent-design/
[15]
Numbers RL. The Creationists: From Scientific Creationism to Intelligent Design.
Harvard University Press, 2006. 624p.