Fé e coragem no campo de batalha |
[Meus comentários seguem entre colchetes. –
MB] “Até o Último Homem” é uma das grandes surpresas da temporada do Oscar, para o qual conquistou seis
indicações – filme, direção, edição, mixagem de som, edição de som e ator,
com Andrew Garfield. E também a prova de que Mel Gibson foi reabilitado
por Hollywood depois de anos no ostracismo. [...] O filme é baseado na história
real de Desmond Doss (interpretado por Garfield), o primeiro soldado a alegar
imperativo de consciência ao ser condecorado com a Medalha de Honra do governo
americano. Doss se recusava a pegar em armas e a matar, por motivos pessoais e
religiosos, mas mesmo assim se alistou no Exército durante a Segunda Guerra
Mundial porque acreditava ser a coisa certa a fazer. Depois de uma batalha
sangrenta em Okinawa, salvou sozinho algo entre 50 e 100 soldados feridos,
deixados para trás no alto de um penhasco quando a companhia bateu em retirada.
“Independentemente
de suas crenças religiosas, a história de Desmond, um homem que não compromete
seus princípios, é poderosa”, diz em entrevista ao blog É Tudo História Robert
Schenkkan, que se baseou em um documentário e nas transcrições de entrevistas
feitas para aquele filme para escrever o roteiro. “Será que seríamos tão
firmes? Também acho que há um certo tipo de masculinidade sendo celebrado hoje
em dia que se baseia na dominação, no narcisismo e na crueldade indiferente.
Desmond é modelo de outro tipo de masculinidade: de autossacrifício, modéstia e
generosidade.” [Na verdade, o verdadeiro tipo de masculinidade que deveria ser
a característica de qualquer cristão.]
A
modéstia explica por que a história demorou tanto tempo para ser contada, já
que Desmond Doss resistiu
até quase o fim de sua vida a vender os direitos para Hollywood – ele
morreu em 2006, aos 87 anos. [Modéstia também deveria ser uma característica de
qualquer cristão.] Schenkkan precisou condensar alguns fatos para caber no
filme e ficcionalizou certos aspectos para obter efeito dramático, mas chegou a
deixar de fora certas coisas por acreditar que eram inverossímeis. [Hollywood
sempre dramatiza suas histórias. Pior que isso: as distorce. Não assisti ao
filme, mas, pelo trailer, pude
perceber que há uma cena que sugere que Doss e sua namorada têm relações
sexuais. Você acha que um homem fiel ao quarto e ao quinto mandamentos não
seria fiel também ao sétimo?]
Leia
abaixo o que é real e o que foi criado:
Infância de Desmond Doss
(100%) – Criança
ainda, na cidade natal de Lynchburg, no Estado da Virginia, Desmond briga com o
irmão Harold e joga uma pedra na cabeça dele, deixando-o desacordado.
Percebendo que podia tê-lo matado, entrega-se às orações – a família é
adventista do sétimo dia. E inspira-se num quadro com os Dez Mandamentos. “Sim,
havia uma gravura dos Dez Mandamentos na sala de sua casa, e ele ficou muito
comovido com as figuras de Caim e Abel”, diz Schenkkan. Assim surgiu a sua
convicção de que matar uma pessoa era errado.
Pai alcoólatra e violento
(50%) – No filme, o pai
de Desmond sofre com os efeitos da depressão depois de ter lutado na Primeira
Guerra Mundial, em que perdeu muitos de seus amigos de infância. Por isso, não
quer que seus filhos se alistem. Na verdade, o carpinteiro William Thomas Doss
nunca chegou a ir para o campo de batalha, portanto, não sofria de estresse
pós-trauma. “Mas ele realmente tinha problemas com álcool”, diz Schenkkan.
A razão para não pegar em
armas (40%) – Em “Até
o Último Homem”, Desmond segue seus princípios religiosos, mas também
pessoais para se recusar a pegar em armas e a matar. Num flashback, ele vê o pai batendo na mãe, com uma arma na mão.
Desmond interfere, toma o revólver e aponta para o pai. Na realidade, o pai de
Desmond puxou o revólver em uma briga com o cunhado. Sua mulher, mãe de Desmond,
o convenceu a entregar a arma, que ela pediu para o filho jogar no rio, o que
ele fez. “Fiz a mudança porque queria torná-lo mais humano. Ele não era um
santo. Podia ficar bravo como qualquer pessoa. Era capaz de pensar em atos
violentos. Por isso, sua decisão de imperativo de consciência é ainda mais
impressionante”, afirma o roteirista. [O que o roteirista talvez não saiba é
que uma pessoa controlada por Jesus, ainda que imperfeita e humana, é capaz de
feitos realmente impressionantes, pois é Deus quem opera nela “tanto o querer
quanto o realizar”.]
Namoro e casamento com
Dorothy (80%) – No
filme, Desmond conhece Dorothy (Teresa Palmer), uma enfermeira, quando doa
sangue no hospital depois de ajudar um acidentado. “Eles se conheceram no
hospital mesmo”, diz o roteirista. Mas não foi exatamente depois de ele ajudar
um acidentado. Os dois começam a namorar e continuam mesmo depois de Desmond
decidir se alistar. Planejam se casar antes de ele ser mandado para a guerra,
em um dia de folga do treinamento. Mas o pedido de folga é negado e o
casamento, adiado por algumas semanas. O casamento aconteceu em 17 de agosto de
1942.
As dificuldades no
treinamento (50%) – Esta
foi uma das partes encurtadas no filme. “O treinamento de Desmond na verdade
foi mais extenso, e sua companhia viajou para múltiplos locais nos Estados
Unidos. Aí, quando foram mandados para o exterior, primeiro estiveram em Guam
antes de chegar a Okinazwa”, diz Schenkkan. Ele realmente era ridicularizado
por se recusar a pegar em armas. “Exageramos as surras que ele levou”, conta o
roteirista [hollywood gosta de violência...]. “Mas os outros soldados jogavam
seus sapatos nele enquanto rezava [orava].” No filme, seu principal algoz,
Smitty (Luke Bracey), é ficcional. Um dos comandantes tenta dispensá-lo por
razões psiquiátricas, o que aconteceu de verdade. Ele chegou a enfrentar a
corte marcial por causa de suas convicções, como no longa. “Dramatizamos um
pouco a participação de seu pai no julgamento”, confessa o roteirista. Em “Até
o Último Homem”, seu pai pede ajuda a um antigo companheiro da Primeira
Guerra Mundial, em posição de comando, para livrar o filho da prisão, e, como
costuma ser no cinema, a carta chega no último minuto. Já que na verdade ele
nunca foi a guerra nenhuma, há diferenças aqui. “O pai de Desmond tinha um
conhecido no Departamento de Guerra, e esse contato escreveu a carta que levou
o comandante a recuar. E a carta não chegou tão dramaticamente como no longa.”
A Batalha de Okinawa (90%)
– Desmond e sua
companhia passaram por outras batalhas antes de chegar a Okinawa, a única
mostrada no filme. A Batalha de Okinawa foi a mais sangrenta do conflito no
Pacífico, matando mais de 80.000 soldados. O batalhão de Desmond precisava
escalar um paredão de pedra, com a ajuda de escadas de corda, como é mostrado
no longa. Desarmado, ele corria para ajudar os feridos, sem nenhuma
identificação, porque os médicos eram alvo dos japoneses. Incansável, ele vai
conquistando o respeito de seus companheiros, inclusive do principal bully no treinamento, Smitty. Quando o
soldado Ralph Morgan (vivido pelo veterano de guerra Damien Thomlinson) perde
as duas pernas em uma explosão, outro paramédico diz para Desmond deixá-lo
para trás – é preciso priorizar os pacientes com chances de sobreviver. Mas
Desmond insiste em ajudá-lo. “É verdade, e aquele soldado sobreviveu”, disse
Schenkkan.
O salvamento (90%) – Cercados pelos japoneses, os americanos
precisam bater em retirada. Desmond Doss fica para trás, resgatando feridos,
por um período entre 10 e 12 horas. “Deus, me ajude a ajudar só mais um”,
ele repete, como relatou mais tarde [essa deveria ser a oração e o esforço de qualquer
cristão em relação ao perdidos]. Sob a mira de atiradores do exército inimigo,
ele arrasta cada ferido para a beira do penhasco e depois os baixa um a um, com
auxílio de uma corda, como aconteceu de verdade. A única diferença em
relação à realidade é que, depois de algumas horas, seus companheiros lá
embaixo enviaram reforços. No longa-metragem, ele se perde nas cavernas que o
exército japonês usava para esconder seus homens e chega a ajudar um soldado
inimigo. “Ele nunca mencionou ter entrado no sistema de cavernas, mas em mais
de uma ocasião cuidou de soldados japoneses feridos”, diz Schenkkan [o “próximo”
do cristão é todo aquele que precisa de ajuda]. Os relatos de quantos homens
ele salvou variam. Desmond achava que foram 50 e seus companheiros, mais
de 100. Então, eles concordaram com o número de 75.
O resgate (70%) – Desmond desce da montanha e é levado de
volta à base. Mas logo eles estavam de novo em combate. O respeito de seus
colegas e comandantes agora é total, tanto que eles esperam Desmond fazer sua
oração antes de escalar a encosta outra vez – é sábado, dia de descanso na
sua religião. “É verdade, eles se recusaram a ir sem ele!”, diz Schenkkan. Na
batalha, uma granada é jogada em sua direção, e Desmond a chuta para longe, para
que seus companheiros não sejam feridos. “Ele ficou gravemente ferido e foi
transferido de Okinawa para uma série de hospitais”, diz o roteirista. No
processo, ele perdeu sua Bíblia, como acontece no filme. “E sua companhia
realmente voltou ao campo de batalha e procurou até achá-la”, afirma Schenkkan.
Só que, em vez de recuperá-la antes de ser içado por um helicóptero, Desmond
Doss a recebeu de volta ao ser condecorado pelo presidente Harry Truman na Casa
Branca com a Medalha de Honra.
O que filme o não mostra – O roteirista decidiu cortar um trecho da
realidade, pois achou inverossímil demais. Quando estava sendo carregado de
maca, Desmond viu outro soldado ferido, saiu da sua maca e insistiu para que os
médicos carregassem o outro soldado primeiro, em seu lugar. [As atitudes de um
verdadeiro cristão às vezes são assim mesmo: inverossímeis. Mas isso se deve ao
fato de que o mundo está muito distante dos princípios do evangelho. Que a
história, o testemunho de Doss inspire e motive muitas pessoas, e as faça
perguntar: O que impeliu esse homem a agir como agiu?]
(Veja.com)
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