terça-feira, fevereiro 21, 2017

Dieta materna altera DNA do bebê

Hábitos que afetam gerações
Toda gestante deve receber alimentação rica em ácido fólico para prevenir anencefalia e diferentes graus de deficiência mental no futuro bebê. Mas de que maneira essa vitamina atua sobre o DNA e define o funcionamento dos genes no organismo em gestação? A busca de respostas para essa questão fez uma equipe da Faculdade de Medicina da USP em Ribeirão Preto (SP) estudar a ação do ácido fólico em genes ligados a doenças cardiovasculares e diabetes mellitus tipo 2. Os resultados da pesquisa mostraram que mudanças no fornecimento da vitamina a gestantes e lactantes interferem no controle da expressão gênica das proles para essas doenças. Os filhotes - os experimentos foram feitos em animais de laboratório - gestados com dieta deficiente da vitamina apresentaram maior expressão dos genes envolvidos com essas doenças, enquanto os filhotes de mães que receberam suplemento de ácido fólico, ao contrário, apresentaram pouca expressão desses genes.

Os resultados revelam mecanismos moleculares envolvidos na “reprogramação epigenética fetal” dos genes ligados a doenças cardiovasculares e diabetes mellitus tipo 2. Essa “reprogramação epigenética” corresponde a mudanças observadas nas expressões dos genes que não dependem da hereditariedade. É o próprio ácido fólico, vitamina normalmente retirada de alimentos, que atua no nível genético por meio das reações de metilação do DNA, conta a geneticista Paula Lumy Takeuchi, responsável pelo estudo.

A alteração da quantidade de ácido fólico fornecida pela alimentação das mães modificou o “ciclo da metionina, principal aminoácido doador de grupos metil para as reações de metilação do DNA e de proteínas”. Esse é um dos mecanismos pelo qual os genes são “ligados e desligados”; o que vale dizer que eles podem estar ativos ou inativos no organismo.

Embora não se possa fazer uma correlação direta entre esses resultados experimentais, em animais de laboratório, com o organismo humano, a pesquisadora lembra que as mulheres gestantes devem ingerir ácido fólico por várias razões, incluindo o fato de que ele é importante para a multiplicação celular e, portanto, importante para o desenvolvimento do embrião em formação, principalmente do tubo neural.

É do tubo neural, explica Paula, que se originam o eixo central do sistema nervoso, na cabeça e a coluna vertebral do feto. A recomendação do Conselho Federal de Medicina é de que as mulheres usem o ácido fólico antes da concepção e nos três primeiros meses de gravidez. A ingestão diária de 400 microgramas dessa vitamina pode reduzir em até 75% o risco de má formação no tubo neural do feto, o que previne casos de anencefalia, paralisia de membros inferiores, incontinência urinária e intestinal nos bebês. Isso, além de diferentes graus de deficiência mental e de dificuldades de aprendizagem escolar.


Nota: Cada vez mais fica clara a importância dos fatores epigenéticos sobre a nossa vida e de nossos descendentes. No começo do ano passado, participei de um simpósio de saúde e estilo de vida, em Orlando, nos EUA. Tive a oportunidade de conversar com alguns especialistas na área e pude entrevistar um cientista que trabalha com epigenética. A matéria foi publicada na revista Vida e Saúde. A certa altura da conversa, ele me disse algo que me chamou muito a atenção: hábitos de vida ruins (tabagismo, alcoolismo, sedentarismo, etc.) podem afetar, além de quem os têm, até a terceira e quarta geração. É claro que imediatamente me veio à mente o texto de Êxodo 20. De igual maneira, hábitos saudáveis podem afetar muitas gerações. Portanto, aquilo que os futuros pais fazem de sua vida terá reflexos na prole, e especialmente as gestantes devem ter muito cuidado com a alimentação e com os sentimentos que nutrem nessa fase importante e especial da vida. Pra variar, sempre à frente de seu tempo, no século 19 Ellen White já falava sobre as influências que os pais legam aos filhos. Ela não usou a palavra epigenética, evidentemente, mas o conceito já estava ali. Experimente ler O Lar Adventista, por exemplo. [MB]

“A felicidade da criança será afetada pelos hábitos da mãe. Seus apetites e paixões devem ser regidos por princípios. Existem coisas que lhe convém evitar, coisas a combater, se quer cumprir o desígnio de Deus a seu respeito ao dar-lhe um filho” (Ellen G. White, A Ciência do Bom Viver, p. 372).

“Nossos antepassados legaram-nos costumes e apetites que estão enchendo o mundo de doenças. Os pecados dos pais, através de desejos pervertidos, são, com poder assustador, visitados sobre os filhos até a terceira e quarta geração. A maneira incorreta de alimentar-se, de muitas gerações, a glutonaria e os hábitos de condescendência própria das pessoas, estão enchendo as casas de misericórdia, as prisões e os hospícios. A intemperança, a ingestão de chá, café, vinho, cerveja, rum e conhaque, e o uso do fumo, ópio e outros narcóticos têm resultado em grande degeneração física e mental, e esta degenerescência está em constante crescimento” (Ellen G. White, Review and Herald, 29 de julho de 1884; Conselhos Sobre Saúde, p. 49).

“Os anjos estão sempre presentes onde mais são necessitados. Eles estão com os que têm as mais árduas batalhas a ferir, com os que têm de combater contra a inclinação e as tendências hereditárias, cujo ambiente doméstico é o mais desanimador” (Review and Herald, 16 de abril de 1895).

Leia mais sobre epigenética aqui.