Este 15 de agosto marca o trigésimo-primeiro aniversário do evento (sério) mais próximo que tivemos de contato extraterrestre. Esse evento ficou conhecido como “sinal uau”, do inglês wow signal. Apesar de nunca ter sido dada nenhuma explicação razoável para o fenômeno, infelizmente não podemos dizer que realmente tivemos um contato extraterrestre. Vamos aos fatos.
Em agosto de 1977, o Dr. Jerry Ehman estava em um projeto de busca de sinais de origem extraterrestre, que depois acabou evoluindo para o projeto Seti (procura por inteligência extraterrestre, na sigla em inglês). Ehman estava usando o radiotelescópio da Universidade de Ohio, nos EUA, conhecido como Orelhão (Big Ear, em inglês). Esse radiotelescópio era fixo no chão, de modo que não havia apontamento. Uma parede refletia o sinal do céu em uma superfície parabólica que focava o sinal em dois detectores, chamadas de “cornetas” no jargão. Como todo o aparato era fixo, as cornetas apenas recebiam o sinal daquilo que passava no céu naquele instante, e aí um computador registrava tudo. Como o volume de informações era gigantesco, todo sinal detectado pela antena era codificado em uma seqüência alfanumérica de 6 caracteres, que resumia as suas principais características. A idéia era detectar algo suspeito e depois partir para observações mais precisas em outros telescópios.
No dia 19 de agosto de 1977, o Dr. Ehman estava checando as saídas impressas do computador para ver o que tinha acontecido nos dias anteriores. O volume de dados era gigantesco, de modo que não dava para fazer tudo simultaneamente. Olhando uma das folhas impressas ele notou o seguinte código: “6EQUJ5″ no canal 2 do telescópio. Isso significava que um forte sinal em rádio, com uma banda em freqüência bem estreita vinda de uma região bem pequena do céu (vista na foto que abre esse post), havia sido detectado. Impressionado com isso, Ehman circulou o código e escreveu UAU! (Wow! no original) em vermelho. Ele continuou a análise dos dados dos outros dias, especialmente procurando por uma repetição do sinal, já que a mesma região do céu era observada a cada dia. Mesmo não tendo encontrado uma repetição do sinal, Ehman comunicou a descoberta aos seus colegas John Kraus e Bob Dixon, que passaram a chamá-lo de “sinal Uau!”.
Esse sinal passa por todos os testes para classificá-lo como vindo de uma civilização extraterrestre tentando contato com alguém. Ele era intenso, vinha de uma fonte de pequenas dimensões do céu, tinha uma banda bem estreita e estava na freqüência da linha de 21 cm do hidrogênio, que é a linha sugerida para se procurar por sinais assim.
O hidrogênio é o elemento mais abundante do Universo; se alguém deseja estudar o material mais abundante do Universo, vai ficar observando essa linha. Então, se você quiser que alguém detecte um sinal seu, é melhor escolher uma freqüência em que você sabe que vai ter alguém escutando. A escolha mais natural é a linha de 21 cm do hidrogênio.
Então por que ninguém admite que temos um sinal de vida inteligente fora da Terra desde 1977? Por que esse sinal falha em um único ponto, justamente o mais crítico: ele não se repetiu. Ehman, Kraus e Dixon procuraram uma repetição do sinal por meses a fio usando o mesmo Orelhão e nada.
Anos mais tarde, os radioastrônomos Robert Gray e Kevin Marvel decidiram procurar esse sinal. Eles nunca ficaram convencidos que se tratava de um sinal espúrio, provocado por ruído. De fato, o próprio método de observar deixa poucas dúvidas da origem celeste do sinal. Como o Orelhão ficava parado e as fontes é que corriam por sobre suas cornetas, um sinal celeste (não necessariamente de vida inteligente) tem um padrão de intensidade quando detectado. Ele deve crescer do zero até atingir um máximo e depois cair a zero novamente, seguindo um perfil bem específico. Isso aconteceu com o sinal Uau e durou exatamente 72 segundos, o tempo em que a fonte no céu leva para percorrer o campo de detecção de uma das cornetas (chamado de feixe). Esse fato descarta um sinal de interferência vindo da Terra, ou mesmo de algum satélite em órbita baixa. ...
Então, o que teria causado esse sinal? Uns 20 anos depois, o próprio Ehman listou as possibilidades. Dentre elas, planetas e asteróides podem ser excluídos, bastando olhar suas posições. Uma transmissão de satélite também é improvável, pois a freqüência de 1420 MHz é protegida. Existe um acordo mundial para que essa freqüência nunca seja usada por ninguém, pois ela é muito importante para a astronomia. Mas e se alguém ali por perto do radiotelescópio resolvesse mandar uma mensagem ao espaço justo naquela hora? Também parece improvável, pois o sinal teria de ser apontado direto para que o Orelhão o detectasse. Além do mais, o sinal se comportou exatamente como o esperado para uma fonte astronômica, o que também exclui um sinal de rádio vindo de um avião.
E se esse sinal tivesse sido transmitido da Terra e tivesse sofrido uma reflexão no lixo espacial em órbita da Terra? Nesse caso, teria de ser um pedaço de metal. Até aí tudo bem, mas ele teria de estar em uma órbita muito alta, e pior, não poderia ter rotação alguma. Essas duas características, especialmente a última, são bem improváveis de acontecer com um pedaço de lixo espacial. Um efeito produzido por lente gravitacional duraria mais tempo, e a cintilação interestelar (um tipo de cintilação parecido com aquela que vemos no céu) só corrobora a idéia de que o sinal tem origem no espaço distante.
Depois de listar todas essas possibilidades Ehman admite que ele só consegue imaginar um sinal emitido por alguma civilização inteligente. Mas por que não admitir isso? Nas palavras dele (traduzidas por mim): “Porque eu sou um cientista, e como tal eu sei que essa hipótese só seria aceitável se eu e outros colegas também detectássemos esse sinal mais vezes.” ...
(Blog Observatório)
Nota: É interessante notar como a predisposição faz as pessoas verem o que querem. Um simples código um tanto questionável só não é aceito como evidência de fonte inteligente pelo fato de não ter se repetido. No entanto, a vida está cheia de evidências de planejamento inteligente em padrões que se repetem e podem ser observados em qualquer lugar do mundo. Segundo Richard Dawkins (cf. O Relojoeiro Cego), a mensagem encontrada apenas no núcleo de uma pequena ameba é maior do que os 30 volumes combinados da Enciclopédia Britânica. O que dizer, então, de órgãos complexos como o cérebro? Esses, sim, fruto do acaso cego? Vai entender...[MB]
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