A matéria de capa da revista IstoÉ desta semana trata de um tema oportuno para os pais: É errado se valer de pequenas mentirinhas para evitar acessos de birra dos filhos? Até que ponto é aceitável mentir para os pequenos? Para os especialistas, os pais devem sempre dizer a verdade e tomar cuidado ao lançar mão de truques e desculpas. “Em uma relação em que a confiança é fundamental não há espaço para inverdades, em nenhum nível, em nenhuma fase da vida”, diz a psicopedagoga Quézia Bombonatto, presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp). “A maioria dos pais mente para facilitar a vida deles, mas isso não educa. É melhor a criança crescer com a imagem real do que é a vida do que falsear a realidade”, diz Tânia Zagury, filósofa, mestre em educação e autora de 13 livros na área de ensino e relacionamento entre pais e filhos.
A matéria aponta outra contradição ocasionada pela mentira: para não comprar o que o filho pede em uma loja de brinquedos, por considerarem caro, inútil ou inadequado, muitos pais alegam não ter dinheiro. Mas, em seguida, entram no supermercado e enchem um carrinho de compras. Isso as confunde. “A criança, especialmente a partir dos três anos, percebe a gafe”, diz a psicopedagoga Maria Irene Maluf. “Esse tipo de comportamento acaba com a confiança dos filhos nos pais. Eles não vêem mais força na palavra do adulto”, afirma. Nessas situações, o ideal é conversar e explicar o porquê de ela não ganhar o brinquedo naquele dia.
A psicopedagoga Quézia alerta os pais para outro detalhe importante: só falarem de castigos que são capazes de pôr em prática. Do contrário, ficam desacreditados.
É importante lembrar ainda que o filho se espelha no comportamento dos pais para moldar sua personalidade - e ninguém quer criar um mentiroso contumaz. Aquela mania do pai de pedir à criança para atender ao telefone e dizer que ele não está, por exemplo, é péssima.
Contar a verdade sempre não significa que não se deva respeitar os níveis de compreensão dos filhos. A matéria de IstoÉ também chama atenção para isso: “Transparência é importante, mas às vezes não contar a verdade inteira pode ser o mais adequado. No caso de uma separação, sobretudo se houver traição, os pais não precisam entrar em detalhes dos motivos. ‘Isso não é da competência dos filhos, pode até gerar raiva neles’, afirma a educadora Tânia Zagury. Da mesma forma, não precisam falar que estão namorando até se sentirem seguros no novo relacionamento. A empresária Nelcy Del Grossi, 45 anos, chegou a levar três meses para contar às filhas adolescentes que tinha um namorado.”
E o que fazer se for confrontado sobre seu passado [digamos, “torto”] pelo filho? “Esta é uma decisão que os pais têm de pesar muito bem”, opina Tânia. “Existem pais que fumaram e se sentem desonestos ao negar. Mas há o risco de o adolescente decodificar essa mensagem como ‘se ele usou e está tudo bem, por que não posso usar?’”, diz Tânia. O importante é ter em mente que é algo a ser tratado em uma conversa longa, com calma. “É preciso aproveitar a pergunta para estruturar um diálogo”, diz o hebiatra Ramos, da Asbra. “Se for admitir que usou drogas, explique antes o contexto e qual era o momento da sua vida, faça-o refletir para não chocá-lo”, aconselha. Na opinião dele, se o pai nega ter experimentado e o filho depois descobre a mentira, pode ser mais complicado clarear a situação. Educar nem sempre é preto no branco. Cabe aos pais encontrar o equilíbrio na missão de criar os adultos de amanhã.
A matéria é equilibrada e nos lembra (sem querer) de que o imperativo bíblico de Êxodo 20 – “não levantarás falso testemunho” – é sempre o melhor caminho.