A revista Época desta semana traz uma entrevista com o pesquisador britânico Richard Lynn, que dedicou mais de meio século à análise da inteligência humana. Nesse tempo, publicou quatro best-sellers e se tornou um dos maiores especialistas no assunto. Nos últimos 20 anos, passou a investigar as relações entre raça, religião e inteligência. Ao publicar um trabalho na revista científica Nature, que sugeria que os homens são mais inteligentes, um grupo feminista o recepcionou em casa com o que ele chamou de salva de ovos. O mesmo aconteceu quando disse que os orientais são os mais inteligentes do planeta. “Faz parte do ofício de um cientista revelar o que as pessoas não estão prontas para receber”, diz. Ao analisar mais de 500 estudos, Lynn disse estar convencido da relação entre Q.I. alto e ateísmo. “Em cerca de 60% dos 137 países avaliados, os mais crentes são os de Q.I. menor”, disse. Seu trabalho será publicado em outubro na revista científica Intelligence.
Por que o senhor diz que pessoas inteligentes não acreditam em Deus?
Os mais inteligentes são mais propensos a questionar dogmas religiosos. Em geral, o nível de educação também é maior entre as pessoas de Q.I. maior (um Q.I. médio varia de 91 a 110). Se a pessoa é mais educada, ela tem acesso a teorias alternativas de criação do mundo. Por isso, entendo que um Q.I. alto levará à falta de religiosidade. O estudo que será publicado reuniu dados de diversas pesquisas científicas. E posso afirmar que é o mais completo sobre o assunto.
Segundo seu estudo, há países em que a média de Q.I. é alta, assim como o número de pessoas religiosas.
Sim, mas são exceções. A média da população dos Estados Unidos, por exemplo, tem Q.I. 98, alto para o padrão mundial, e ao mesmo tempo cerca de 90% das pessoas acreditam em Deus. A explicação é que houve um grande fluxo de imigrantes de países católicos, como México, o que ajuda a manter índices altos de religiosidade nas pesquisas. Mas, se tirarmos as imigrações ao longo dos últimos anos, a população americana teria um índice bem maior de ateus, parecido com o de países como Inglaterra (41,5%) e Alemanha (42%).
Cuba é um país mais ateu que os Estados Unidos, mas o nível de Q.I. não é tão alto.
Você tem razão. É outra exceção. Pela porcentagem de ateus (40%), o Q.I. (85) dos cubanos deveria ser mais alto que o dos americanos. Mas há também aí um fenômeno não natural que interferiu no resultado. Lá, o comunismo forçou a população a se converter. Houve uma propaganda forte contra a crença religiosa. Não se chegou ao ateísmo pela inteligência. A população cubana não se tornou atéia porque passou a questionar a religião. Foi uma imposição do sistema de governo.
E o Brasil, como está?
O Brasil segue a lógica, um porcentual baixíssimo de ateus (1%) e Q.I. mediano (87). É um país muito miscigenado e sofreu forte influência do catolicismo de Portugal e dos negros da África. Fica difícil mensurar a participação de cada raça no Q.I. atual. O que posso dizer é que a história do país se reflete em sua inteligência.
Nota: Lynn, que já atacou a inteligência das mulheres, por certo aprendeu uma lição com a saraivada de críticas que James Watson recebeu ao afirmar que os africanos seriam menos inteligentes. Lynn associa a educação formal ao ateísmo, mas se esquece de mencionar que os centros acadêmicos seculares foram dominados pelo naturalismo filosófico (o naturalismo metodológico é bem-vindo). Num ambiente acadêmico como esse, que geralmente caracteriza todo tipo de religião como obscurantista, o que pensarão os estudantes? Com a carga de estudos e atividades a que são submetidos, poucos universitários vão além daquilo que seus professores lhes apresentam em termos filosóficos. Terão Q.I. elevado, sim, mas quem disse que inteligência conteudista é sinônimo de mente aberta e falta de preconceito?
Se Lynn estiver certo, fica difícil explicar a conversão de ateus inteligentes como Antony Flew, por exemplo. E o que dizer de C. S. Lewis, Francis Collins, Alister McGrath, Patrick Glynn e outros? Todos exceções?[MB]