No pensamento contemporâneo, a religiosidade é um elemento da vida responsável pelo consolo (apoio psicológico), esperança (na acepção de crença em algo futuro) e fundamento místico (provendo uma ligação com os aspectos irracionais, não-empíricos da existência). Essa maneira de encarar a religião a torna distante de algo verificável, que possa ser entendido em termos de certo ou errado; não há uma crença melhor, ou mais correta. Há simplesmente um determinado tipo de credo que sirva melhor a um paladar e não a outro. Cada vez mais aparecem exemplos que comprovam haver um reducionismo no papel da religião para o homem do século 21. Foi-se o tempo em que a herança judaico-cristã formava a base do pensamento social e da própria cultura.
A religião ganhou a sua própria gaveta – ela não passa de uma pequena esfera incapaz de influenciar a vida como um todo. Quase não se pode apresentar o que se crê em pontos lógicos, porque a crença é difusa, ilógica, utilitária e circunstancial. Tão enfraquecida como está, não é à toa que a religião seja relegada a um papel sem importância, e apenas em nível particular para a maioria das pessoas.
Eventualmente as pessoas se unem em passeatas ou fóruns religiosos, eventos de caráter humanitário capazes de convergir elementos e indivíduos oriundos de culturas religiosas diferentes em uma massa guiada pelos mesmos objetivos.
Assim, enquanto crenças tradicionais perdem seus referenciais na mente de indivíduos no século 21, torna-se mais comum que ocorram esforços no sentido de reunir todos sobre uma fé comum, na qual crenças tradicionais são diluídas em alguns poucos valores aceitos por quase todos: amor/tolerância pelos diferentes, concepção de Deus como sendo Amor (mas sem o senso de Justiça que a Bíblia Lhe atribui), fazer bem ao próximo (causas humanitárias) e a busca da satisfação imediata de problemas de várias áreas da vida através da comunhão mística com Deus (proporcionada pela forma contemporânea de culto, com seus apelos emocionais, discursos subjetivos e o emprego de música popular com a qual as pessoas se identifiquem).
Dentro do quadro descrito acima, não choca mais que algumas pessoas afirmem crer em Deus, conquanto não pautem sua conduta pessoal pelo entendimento tradicional do Cristianismo. Quero destacar um caso que exemplifica a premissa pós-moderna da fé como sendo independente da conduta da pessoa.
Recentemente, a cantora Katy Perry, 23 anos, passou a ser uma das mais populares cantoras de sua geração. A moça, filha de pastor, começou como cantora gospel, mas já declarou em uma de suas músicas sentir-se atraída por uma garota (a canção chama-se “I Kissed a Girl”, ou “Eu beijei uma garota”).
A própria Perry afirma: "Já cantei músicas gospel, sim. Tenho fé, acredito em Deus, acredito que haja algo muito maior do que nós, mas minha perspectiva mudou um pouco."
Katy Perry não é a única que mudou de perspectiva. O engavetamento da fé é um processo admitido por muitos cristãos, em detrimento da perspectiva bíblica. Resta saber até quanto tempo mais uma fé soft se sustentará, a despeito das contradições que possui.
(Blog Questão de Confiança)