quarta-feira, maio 27, 2009

Hans Küng: a Igreja Católica se dirige à Idade Média

Tübingen é uma pequena cidade próxima de Estugarda. Aqui cruzaram-se, nos anos sessenta, as vidas de dois membros da igreja católica. Foi nessa década que o teólogo Hans Küng convidou o amigo Josef Ratzinger, o atual Papa Bento XVI, para ensinar na Universidade Católica. Chocado com a revolta estudantil de 1968, Ratzinger assume convicções conservadoras enquanto Hans Küng, visto como uma estrela da teologia europeia, se torna num crítico acérrimo da hierarquia dentro da igreja, exigindo o fim do celibato e a aceitação dos métodos contraceptivos. Küng e Ratzinger participaram no Concílio Vaticano II, o maior “abanão” na Igreja Católica do século 20, um símbolo da chegada do mundo moderno e do diálogo entre religiões e diferentes convicções. Do século 20 ao 21, as posições mudaram. Küng tem opinião firme sobre as atitudes e declarações controversas do Papa. (...)

Os bispos reformam-se aos 75 anos, e os cardeais aos 80. O Papa fará 82 dentro de dias. Deveria se reformar? Se fosse possível?

Eu não o aconselharia a reformar-se. Aquilo que, de fato, não funciona é o sistema na hierarquia católica. O Papa não tem o seu gabinete nem uma estrutura que o aconselhe. O Papa decide e faz tudo ele próprio, sozinho. Essa não é uma forma de governar adaptada ao século 21. Dei-me conta que tudo depende do Papa, todas as questões dentro da igreja, infelizmente. Estamos presos a um sistema absolutista comparável ao período de Luís XIV. (...)

Acha que, hoje, corre-se o risco de a Igreja dar um passo atrás, regressar à Idade Média? Acha que as reformas do Vaticano II podem ser postas em causa?

Sim, absolutamente. A Igreja Católica dirige-se, mais uma vez, à Idade Média, o período da contra-reforma e do anti-modernismo.

Na sua opinião, porque continua a ser o Vaticano II tão importante hoje em dia? O que devemos reter dele?

Antes do Vaticano II, a Igreja Católica parou, basicamente, o relógio no Catolicismo Romano da Idade Média. Lutamos contra a Reforma. Organizamos uma contra-reforma. Lutamos contra os tempos modernos. Nesse contexto, o Concílio Vaticano II foi muito importante. Foi um combate real para estabelecer, de forma sólida, a liberdade religiosa e a liberdade de consciência. Foi fantástico e, nessa altura, Josef Ratzinger e eu próprio partilhávamos as mesmas ideias e pensamentos. As consequências do Vaticano II foram imensas e históricas. (...)

(Euronews)

Nota: "E, convém lembrar, Roma jacta-se de que nunca muda... Enquanto se aplicam à realização de seu propósito, Roma está visando a restabelecer o seu poder, para recuperar a supremacia perdida" (O Grande Conflito, p. 581). Logo o passado estará de volta.[MB]