O consultor e palestrante James C. Hunter criou uma ficção (essa é a parte frágil de sua obra; depois digo por quê) para transmitir seus conceitos de liderança – próprios ou aprendidos de outros entendidos do assunto. De modo geral, o livro é interessante e apresenta bons conceitos de gerenciamento que podem ser adotados por empresários, líderes religiosos ou mesmo cônjuges e pais. O grande objetivo do autor é mudar o foco do leitor da liderança pelo poder para a liderança pela autoridade, tendo como um dos grandes exemplos disso Jesus Cristo, que ensinou que o verdadeiro líder deve amar seus liderados e servi-los.
Aqui e ali, Hunter soltas pérolas como estas: “Estar no poder é como ser uma dama. Se tiver que lembrar às pessoas que você é, você não é” (Margaret Thatcher); “Ouvir é uma das habilidades mais importantes que um líder pode escolher para desenvolver”; “Liderança é a habilidade de influenciar pessoas para trabalharem entusiasticamente visando atingir aos objetivos identificados como sendo para o bem comum”; “A chave para a liderança é executar as tarefas enquanto se constroem relacionamentos”; “Uma das principais tarefas do amor é prestar atenção às pessoas”; “Perdoar é lidar de modo afirmativo com as situações que aparecem e depois desapegar-se de qualquer resquício de ressentimento”; “Amar não é como você se sente em relação aos outros, mas como se comporta em relação aos outros”; “Devemos elogiar as pessoas em público e nunca puni-las em público”; “Há apenas duas coisas que vocês têm que fazer. Vocês têm que morrer e fazer escolhas. Dessas não há como escapar. ... Não fazer uma escolha é uma escolha”; “Não vemos o mundo como ele é, nós o vemos como somos”.
Uma das ênfases de O Monge e o Executivo é esta: “O mundo exterior entra em nossa consciência através dos filtros de nossos paradigmas. E nossos paradigmas nem sempre são corretos”, daí ser necessário desafiá-los continuamente e descartá-los, se for necessário.
Hunter transmite esses e outros conceitos por meio da história de John Daily, o bem-sucedido gerente de uma grande empresa, casado e pai de dois filhos. Tudo vai bem na vida dele, até que as coisas começam a desandar, tanto na empresa quanto na família. Incapaz de encontrar a solução para seus problemas de gerenciamento, Daily, mais para agradar a esposa, aceita a sugestão do pastor de sua igreja de passar uma semana de retiro num pequeno mosteiro de frades da Ordem de São Bento. Quando descobre que um dos frades é Leornad Hoffman, ex-executivo de uma das maiores empresas dos Estados Unidos que abandonou tudo em busca de novo sentido para a vida, Daily começa a manifestar verdadeiro interesse nas aulas e conversas com o sábio monge.
Com sua ficção, Hunter procura chamar atenção para a necessidade de se colocar o pé no freio de vez em quando e ter momentos de paz, daí levar seu personagem principal para um mosteiro, com seus serviços religiosos, estilo de vida simples e horários rígidos. Mas é justamente a ficção que se torna o ponto fraco de O Monge e o Executivo – pelo menos para os leitores acostumados com literatura mais densa. Hunter cercou Daily de outros personagens pouco elaborados e os fez travar diálogos e debates em sala de aula durante os quais citam textualmente inúmeros pensadores, autores e ideias. Com isso, a verossimilhança fica comprometida.
Melhor seria Hunter ter dispensado a ficção fraca e se dedicado a explorar diretamente os bons conceitos de que o livro trata. Mas aí, provavelmente, O Monge e o Executivo seria apenas mais um livro de liderança entre tantos.
Michelson Borges