A dança da divisão celular é cuidadosamente coreografada e possui pouco espaço para erros. Informações genéticas emparelhadas são alinhadas no meio da célula na forma de cromossomos. Os cromossomos devem então ser cuidadosamente separados de modo que cada célula-filha resultante tenha uma cópia idêntica do DNA da célula-mãe. A maquinaria molecular que guia e, literalmente, puxa os cromossomos para o lado consiste de microtúbulos emparelhados que irradiam pólos opostos da célula em divisão e um enorme, mas preciso, complexo molecular chamado cinetócoro. Esse “gigante gentil” se agarra a uma única região especial do cromossomo conhecida como centrômero. Paradoxalmente, quanto maior a tensão nos microtúbulos, mais forme é a força exercida pelo cinetócoro. É semelhante ao mecanismo de certas armadilhas em que, quanto mais você tenta retirar o dedo, mais ele é apertado. Em realidade, a quantidade adequada de tensão pode ser uma pista para a célula de que tudo está ocorrendo conforme o planejado. Na ausência de tensão, a célula é alertada sobre danos ou mutações tais como câncer e, como resultado, é frequentemente levada à autodestruição.
Em outro feito de acrobacia molecular e precisão, à medida que o microtúbulo atrai o cromossomo capturado em direção ao pólo, ele na verdade é encurtado ao perder subunidades de tubulina. Para tornar a situação um pouco mais complicada, o microtúbulo é desmontado no ponto exato em que o kinetochore é fixado. Em outras palavras: imagine-se subindo em uma corda, mas à medida que você sobre, a ponta da corda vai desaparecendo bem debaixo de onde a segurou. Isso é o que esse mecanismo hábil realiza. Sendo que o cinetócoro possui muitos pontos de contato (como a armadilha que mencionamos), é bom não deixar de ir ao microtúbulo enquanto percorre a distância.
Com 100 nanômetros de diâmetro, o cinetócoro é um verdadeiro gigante. Uma das moléculas mais complexas funcionais na célula é o ribossomo, mas que em comparação mede apenas 25 nanômetros de diâmetro.
Essa perspectiva de tamanho e complexidade moleculares são exemplos das descobertas que Bungo Akiyoshi (do Fred Hutchinson Cancer Research Center, Seattle) e seus colegas estão relatando ao realizarem o isolamento do cinetócoro para fora da célula e com ela executar as mesmas tarefas que in vitro são vistas serem realizadas ao vivo. As descobertas estão relatadas na edição de 25 de novembro da revista Nature. A pesquisa foi, em parte, subsidiada pela National Science Foundation.
Sue Biggins, que participou da pesquisa, declara: “Isolar essa molécula para fora da célula é tão emocionante hoje, como era ver um ribossomo 50 anos atrás!”
(National Science Foundation; tradução: Matheus Cardoso)
Nota: Ao ler artigos como esse e tomar conhecimento de pesquisas que descem a esse nível de minúcias do mundo celular (a “caixa-preta” de Darwin), só posso dizer que não tenho fé suficiente para crer no acaso cego e na seleção natural como mecanismo evolutivo agregador de complexidade e informação genética. Curiosamente, nesse tipo de pesquisa/artigo a palavra “evolução” geralmente não é usada; fica fora de contexto.[MB]