quinta-feira, outubro 03, 2013

Será que o papa é católico?

Declarações surpreendentes
“Será que o papa é católico?”, eis o sarcasmo que a maioria dos fiéis católicos nunca iria perguntar; pelo menos não seriamente. Mas com uma série de recentes pronunciamentos e decisões que atacam a tradição papal, o papa Francisco deixou muitos católicos se perguntando se a Igreja Católica irá sobreviver a este papado. Nos últimos dias, a mídia se ateve a uma declaração que parece sugerir que os descrentes (ou mesmo os não católicos, ou até ateístas) podem ganhar a salvação e ser admitidos no céu (confira), enquanto seu recém-nomeado secretário de Estado, a segunda posição mais importante no Vaticano, sugeriu que eles estão prontos para repensar o celibato e o clero, sugerindo que padres e freiras poderão ter permissão de se casar. Agora, o fiel católico se pergunta: “Será que a Igreja Católica irá sobreviver ao papado de Francisco?”

O choque com o pensamento tradicional católico começou quando o papa Francisco decidiu voltar ao avião e conceder uma entrevista aos repórteres no voo de volta do Brasil para casa, em sua primeira viagem internacional como papa. Em vez de dizer que o homossexualismo é um “mal moral intrínseco”, conforme disse seu predecessor Bento XVI, o papa Francisco respondeu à pergunta de um repórter: “Se alguém é gay e procura o Senhor de boa vontade, quem seu ou para julgar?”

Então, em 11 de setembro, em uma carta publicada na primeira página de um jornal de Roma, o La Repubblica, o papa Francisco respondeu à pergunta do fundador do jornal e editor de longa data, Eugenio Scalfari, de 89 anos, que perguntou se Deus iria perdoar uma pessoa sem fé por um pecado cometido. Sua resposta saiu nas manchetes de todo o mundo, concluindo que o papa abriu as portas para a salvação dos que não acreditam em Deus.

Escreveu o papa: “E assim chego às três perguntas que me coloca no artigo de 7 de agosto. Parece-me que, nas duas primeiras, aquilo que lhe está no coração é entender a atitude da Igreja com quem não partilha a fé em Jesus. Antes de mais nada, pergunta-me se o Deus dos cristãos perdoa a quem não acredita nem procura acreditar. Admitido como dado fundamental que a misericórdia de Deus não tem limites quando alguém se dirige a Ele com coração sincero e contrito, para quem não crê em Deus a questão está em obedecer à própria consciência: acontece o pecado, mesmo para aqueles que não têm fé, quando se vai contra a consciência. De fato, ouvir e obedecer a esta significa decidir-se diante do que é percebido como bem ou como mal; e é sobre essa decisão que se joga a bondade ou a maldade das nossas ações.”

Na mesma carta, o papa Francisco se dirigiu aos judeus, continuando um tema que o tornou famoso na Argentina desde o ataque a bomba a um centro judeu em Buenos Aires, em 1994, matando 85 pessoas e deixando centenas feridas. O papa destaca que o povo judeu é a “raiz” de onde germinou Jesus. “Na amizade que cultivei durante todos esses anos com os irmãos judeus, na Argentina, também eu muitas vezes questionei a Deus na oração, especialmente quando a mente se detinha na recordação da experiência terrível do Holocausto.” “O que posso lhe dizer – com palavras do apóstolo Paulo – é que nunca esmoreceu a fidelidade de Deus à aliança estabelecida com Israel e que, através das terríveis provações destes séculos, os judeus conservaram sua fé em Deus.”

Na ocasião do Rosh Hashaná (ano novo judaico), o papa desejou aos judeus um feliz ano novo e encorajou um diálogo aberto em questões de fé. Ainda assim, Giulio Meotti, um jornalista italiano, ao escrever um editorial ao Israeli National News, não ficou satisfeito. “Mas conforme mostra essa nova carta, um dos graves perigos no diálogo do Vaticano com o judaísmo é a tentativa da Igreja de dividir os judeus ‘bons’ e dóceis da Diáspora e os judeus ‘maus’ e arrogantes de Israel”, escreve Meotti. “O papa Francisco nunca se dirigiu aos israelenses nas suas mensagens, nem defendeu abertamente o Estado Judeu desde que foi eleito pelo Colégio dos Cardeais. Parece que não há espaço para os sionistas fiéis e obstinados no sorriso leniente do papa. Em seus discursos, as aspirações nacionais judaicas são ignoradas, e até mesmo denegridas.”

Meotti fez referência a uma carta que a Conferência de Bispos Católicos dos EUA distribuiu recentemente junto com a Universidade Católica da América, que condenava a expansão dos assentamentos israelenses. A carta argumentava que a expansão dos assentamentos é “uma fonte primária de violações dos direitos humanos dos palestinos”, sugerindo que os palestinos que vivem em Israel sofrem “uma ocupação militar prolongada” por judeus israelenses.

Enquanto o papa Bento XVI proibiu um diálogo aberto sobre se padres e freiras deveriam ter permissão de se casar, o papa Francisco, que notoriamente disse que o celibato clerical poderia mudar, pode estar prestes a colocar o assunto na pauta para um debate sério. Assim afirma Clelia Luro, uma mulher de 87 anos cujo romance e eventual casamento com um bispo se tornou um enorme escândalo na década de 60. Sua história não impediu o papa Francisco de ser seu amigo muito próximo, que lhe telefonava todos os domingos quando era cardeal chefe da Argentina, segundo reportagem da Fox News.

Aquela previsão pareceu estar se concretizando depois que o arcebispo italiano Pietro Parolin, núncio da Venezuela que foi recentemente indicado para ser secretário de Estado do papa, segundo no comando do vaticano, disse ao jornal venezuelano El Universal que o celibato do clero não é um dogma.

Traduzindo para fora da terminologia formal da Igreja Católica, com esse pronunciamento, o arcebispo Parolin está sinalizando que o celibato para o clero não é um artigo obrigatório para a fé na qual todos os católicos praticantes devem acreditar, mas uma prática ou tradição que deveria ser aberta ao debate.

(Jerome R. Corsi, traduzido por Luis Gustavo Gentil do original do WND; trechos da carta do papa Francisco ao jornal italiano retirados de News.va; via Julio Severo)

Leia aqui trechos de uma entrevista publicada no Estadão.