Os fundamentos são sólidos? |
Em
resposta ao meu artigo “Revista desconversa quando o assunto é evolução”, publicado no Observatório
da Imprensa, o biólogo Adelino de Santo Júnior (que também é mestre em Ecologia
pela USP), escreveu o texto “Alguns pontos sobre a evolução das espécies”. Vou deixar de lado os
argumentos ad hominem que não levam a
lugar algum e me deter na argumentação de Adelino. Já que ele apontou alguns
“pontos”, passo a seguir aos contrapontos, os quais agrupei em três grandes áreas,
para simplificar a discussão:
Primeiro ponto:
Adelino afirmou: “Nós não viemos
dos macacos, nós somos macacos! Caso houvesse um agrupamento biológico definido
como ‘macacos’, certamente estaríamos dentro dele. A espécie humana faz parte
da ordem dos primatas, na qual se inserem todos os macacos!”
Quando
Adelino diz que somos macacos, ele levanta um problema para os cientistas.
Quais os critérios que nos definem como macacos? O DNA? E os taxonomistas? Será
que estão de acordo com os geneticistas? Então por que somos classificados como
Homo sapiens e não como Pan troglodita? Outra coisa: Por que Adelino
evitou mencionar o gênero Homo? Ele não salienta para os leitores que a
paleoantropologia é uma das áreas científicas mais controversas e polêmicas. Por
exemplo, o registro fóssil permanece fragmentário, pois nenhum fóssil de
hominídeo foi encontrado para o período entre 6 e 13 milhões de anos atrás,
tempo em que a diversificação entre as linhagens de chimpanzés e humanos teria
ocorrido. Um artigo interessante sobre esse tema é “Pattern pluralism and the
Tree of Life hypothesis, de Doolittle e Baptest (PNAS, 29 de janeiro de 2007
[doi: 10.1073/pnas.0610699104]). Nele é questionado o dogma da ancestralidade
comum universal.
Donald
Johanson (o descobridor de Lucy)
e Blake Edgar destacaram, em 1996: “Cerca da metade do intervalo de tempo nos
últimos três milhões de anos permanece não documentada por quaisquer fósseis
humanos”, e “desde o período mais antigo da evolução hominídea, mais de quatro
milhões de anos atrás, somente um punhado de fósseis não diagnosticados tem
sido descoberto” (Donald Johanson and Blake Edgar, From Lucy to Language [New York: Simon & Schuster, 1996], 22-23).
Devido
à condição “fragmentária” e “desconexa” dos dados, Richard Lewontin,
paleontólogo da Universidade Harvard, disse que “nenhuma espécie hominídea pode
ser estabelecida como nosso ancestral direto” (Richard Lewontin, Human Diversity [New York: Scientific
American Library, 1995], 163).
Outro
grande desafio enfrentado pelos paleoantropólogos são os próprios exemplos de
fósseis. Geralmente, os fósseis tipicamente hominídeos consistem literalmente
de meros fragmentos de ossos. Isso dificulta ao cientista chegar a conclusões
definitivas sobre a morfologia, o comportamento e as relações de muitos
espécimes. Stephen Jay Gould admitiu isso, quando disse: “A maioria dos fósseis
hominídeos, muito embora sirvam como base de especulação interminável e contar
de historinhas bem elaboradas, são fragmentos de mandíbulas e de pedaços de
crânios.”
A
paleoantropologia é uma área científica que lida com dados fragmentados, mas,
mesmo assim, os paleoantropólogos fazem afirmações confiantes sobre como teria
ocorrido a evolução humana. A discordância grave entre os cientistas sobre
nossos ancestrais é bem descrita por Constance Holden, no artigo “The politics
of paleoanthropology” [A política da paleoantropologia], publicado na revista Science. No artigo, Holden reconhece que
“a principal evidência científica” em que os paleoantropólogos se apoiam “para
construir a história evolucionária do homem” é “um deplorável conjunto pequeno
de ossos. [...] Um antropólogo comparou a tarefa à reconstrução da trama de Guerra e Paz com 13 páginas selecionadas
aleatoriamente” (Constance Holden, “The politics of paleoanthropology”, Science, 213 [1981]: 737-40).
No
Abstract do artigo “Evolution of the genus Homo”, publicado no Annual Review of Earth and Planetary Sciences, volume 37:67-92
(Volume publication date May 2009), Ian Tattersall e Jeffrey H. Schwartz escreveram
o seguinte: “A definição do gênero Homo é quase tão carregada quanto a
definição de Homo sapiens. Nós
consideramos a evidência para o ‘Homo primitivo’ e encontramos pouca base
morfológica para estender nosso gênero para quaisquer das formas fósseis de 2,5–1,6
milhões de anos designadas para o ‘Homo primitivo’ ou Homo habilis/rudolfensis.”
A
ausência de fósseis intermediários é tanta que a transição hipotetizada de
hominídeos/Homo é confirmada pelos antropólogos da Universidade de Harvard
Daniel E. Lieberman, David R. Pilbeam e Richard W. Wrangham: “Uma das várias
transições que ocorreram durante a evolução humana, a transição de
Australopithecus para Homo, foi, sem dúvida, uma das mais críticas na sua
magnitude e consequências. Como em muitos dos principais eventos
evolucionários, há tanto boas como más notícias. Primeiro, as más notícias são
que muitos detalhes dessa transição são obscuros por causa da pobreza dos
registros fósseis e arqueológicos. [...] E quais são as boas notícias? Embora
não tenhamos muitos detalhes sobre exatamente como, quando e onde a transição
ocorreu de Australopithecus para Homo, temos dados suficientes de antes e após
a transição para fazer algumas inferências sobre a natureza geral das
principais mudanças que ocorreram” (Daniel E. Lieberman, David R. Pilbeam, and
Richard W. Wrangham, “The transition from Australopithecus to Homo”, in Transitions in Prehistory: Essays in Honor
of Ofer Bar-Yosef, eds. John J. Shea and Daniel E. Lieberman [Cambridge:
Oxbow Books, 2009], p. 1).
Ian
Tattersal, um dos maiores especialistas nessa área, também reconhece a falta de
evidência de uma transição de hominídeos para humanos: “Nossa história
biológica tem sido de eventos esporádicos em vez de acréscimos graduais. Ao
longo dos cinco milhões de anos atrás, novas espécies hominídeas regularmente
surgiram, competiram, coexistiram, colonizaram novos ambientes e tiveram êxito
– ou falharam. Nós somente temos a percepção mais obscura de como essa história
dramática de inovação e interação se desenrolou” (Ian Tattersall, “Once we were
not alone”, Scientific American [January,
2000]: 55-62).
Ernst
Mayr, o “Darwin do século 20”, reconheceu o surgimento abrupto do gênero Homo
sem transições: “Os fósseis mais antigos de Homo, Homo rudolfensis e Homo
erectus, estão separados dos Australopithecus por uma grande e desconectada
lacuna. Como podemos explicar esse salto aparente? Não tendo quaisquer fósseis
que possam servir de elos perdidos, temos que lançar mão do honrado método
antigo da ciência história – a construção de uma narrativa histórica” (Ernst
Mayr, What Makes Biology Unique?:
Considerations on the Autonomy of a Scientific Discipline [Cambridge:
Cambridge University Press, 2004], 198).
Além
disso, uma leitura objetiva da literatura demonstra que as conclusões obtidas
nas pesquisas geralmente perdem seu caráter explicativo quando novas evidências
surgem nessa área, contrariando aquelas.
Afinal
de contas, os humanos são mesmo mais aparentados com chimpanzés ou com orangotangos?
“Nossas análises mostram que para ~0,8% de nosso genoma, os humanos são mais
aproximadamente relacionados com os orangotangos do que com os chimpanzés” (Asger
Hobolth et al, “Incomplete lineage sorting
patterns among human, chimpanzee, and orangutan suggest recent orangutan speciation
and widespread selection”, Genome Research, vol.
21:349-356 [2011]). Detalhe: ~0,8% equivale a 20 milhões de pares de bases.
Outra
pesquisa revela que em “aproximadamente 23% de nosso genoma nós não partilhamos
ancestralidade genética imediata com o nosso parente vivo [sic] mais próximo, o
chimpanzé. Isso engloba genes e éxons na mesma extensão que as regiões
intergênicas. Concluímos que cerca de 1/3 de nossos genes começaram a evoluir
assim que as linhagens especificamente humanas antes de ocorrer a diferenciação
de humanos, chimpanzés e gorilas” (Ingo Ebersberger, Petra Galgoczy, Stefan
Taudien, Simone Taenzer, Matthias Platzer, and Arndt von Haeseler, “Mapping human
genetic ancestry”, Molecular Biology and Evolution, vol. 24[10]:2266-2276 [2007]).
E
convenhamos, 23% não é uma porcentagem pequena...
As
árvores moleculares são baseadas na premissa de que o grau de semelhança
genética reflete o grau de relação evolucionária. Um artigo mostra
explicitamente essa premissa: “A sistemática molecular é (amplamente) baseada
na premissa, primeiramente articulada claramente por Zuckerkandl e Pauling
(1962), de que o grau de semelhança geral reflete o grau de parentesco. Essa
premissa deriva da interpretação da semelhança molecular (ou dessemelhança)
entre os táxons no contexto de um modelo darwinista de mudança contínua e
gradual. A revisão da história da sistemática molecular e suas afirmações no
contexto de biologia molecular revelam que não existe base para a ‘premissa
molecular’. [...] Para os historiadores e filósofos de ciência, as questões que
surgem agora são como surgiu a crença na infalibilidade dos dados moleculares
para a reconstrução das relações evolucionárias e como essa crença se tornou
tão central” (Jeffrey H. Schwartz, Bruno Maresca, “Do molecular clocks run at all?
A critique of molecular systematics”, Biological Theory, vol. 1[4]:357-371 [2006]).
Essa
semelhança de 99% entre o DNA humano e o do chimpanzé é exata? Embora recentes
pesquisas tenham confirmado que certos trechos do DNA humano e de chimpanzé
são, em média, 1,23% diferentes, isso é meramente um cálculo com grandes
ressalvas. Um artigo na revista Science
observou que o cálculo de 1% “reflete somente as substituições de bases, não de
muitos trechos do DNA que têm sido inseridos ou deletados nos genomas”.
Então,
quando o genoma do chimpanzé não tem nenhum trecho similar no DNA humano, tais
sequências do DNA são ignoradas, alardeando-se a estatística de que humanos e
chimpanzés são apenas 1% geneticamente diferentes. O subtítulo do artigo da Science é “The myth of 1%” [O mito do
1%], e descreve assim a estatística de 1%: “Pesquisas estão demonstrando que
[humanos e chimpanzés] não são tão semelhantes como muitos tendem a acreditar”;
“a estatística de 1% é um ‘truísmo’ que deve ser retirado”; “a estatística de
1% é ‘mais um empecilho do que ajuda para a compreensão’”; “a diferença de 1%
não foi toda a história”; “pesquisadores estão descobrindo que além da
distinção de 1%, pedaços de DNA em falta, extragenes, conexões alteradas em
redes de genes e a própria estrutura dos cromossomos confundem qualquer
quantificação de condição humana versus
condição de chimpanzé” (Jon Cohen, “Relative differences: The myth of 1%”, Science,
vol. 316:1836 [June 29, 2007]).
Segundo ponto:
Adelino corretamente definiu microevolução como mudanças evolutivas em pequena
escala e macroevolução como surgimento de um novo táxon, uma nova espécie. Mas
erra em afirmar que elas são definições vagas utilizadas apenas por questões
organizacionais. Talvez ele desconheça, mas até hoje existe uma controvérsia
científica sobre se os processos observáveis dentro de espécies existentes e
pools genéticos (microevolução) podem explicar as mudanças de grande escala ao
longo do tempo geológico (macroevolução) e se continuam em ação até hoje. E a
macroevolução é um aspecto fundamental na teoria da evolução de Darwin através
da seleção natural.
Eis
alguns artigos com revisão por pares que mencionam essa controvérsia ainda não
resolvida:
David
L. Stern, “Perspective: evolutionary developmental biology and the problem of variation”,
Evolution 54 (2000): 1079-1091.
“Um
dos mais antigos problemas em biologia evolucionária permanece em grande parte
sem solução até hoje. [...] Historicamente, os sintetizadores neodarwinistas
enfatizaram a predominância das micromutações na evolução, enquanto outros
notaram as semelhanças entre algumas mutações dramáticas e transições
evolucionárias para defender o macromutacionismo.”
Robert
L. Carroll, “Towards a new evolutionary synthesis”, Trends in Ecology
and Evolution,
15 (January, 2000):27.
“Fenômenos
evolucionários de grande escala não podem ser entendidos somente na base de
extrapolação de processos observados no nível de populações modernas e
espécies.”
Andrew
M. Simons, “The continuity of microevolution and macroevolution”, Journal of Evolutionary Biology 15
(2002): 688-701.
“Um
debate persistente em biologia evolucionária é sobre a continuidade da
microevolução e da macroevolução – se as tendências macroevolucionárias são
governadas pelos princípios da microevolução.” Embora Simons creia que a
disputa possa ser resolvida, mesmo assim ele admite: “A continuidade dos
processos seletivos sobre o tempo microevolucionário e macroevolucionário
continua a ser uma fonte de discordância em biologia evolucionária (Solé et al, 1999; Erwin, 2000; Carroll, 2001;
Plotnick & Sepkoski, 2001); algo que Maynard Smith (1989) descreveu
como “não satisfatória”. A questão é se os efeitos da seleção natural operando
ao longo do tempo microevolucionário, ou em nível populacional, seriam
responsáveis pelas tendências observadas ao longo do tempo macroevolucionário.
A.
M. Simons, “The continuity of microevolution and macroevolution”, Journal of Evolutionary Biology, vol.
15:688-701 (2002).
Embora
diversas características de processos macroevolutivos possam ser previsíveis a
partir da microevolução (Mark Ridley, Evolução,
Blackwell, 3ª edição, 2003), para se considerarem os exemplos de especiação
mencionados por Adelino, é necessário definir antes o que são espécies e especiação:
Espécies
são agrupamentos de populações naturais intercruzantes, reprodutivamente
isolados de outros grupos com as mesmas características. Especiação é a divisão de uma espécie em duas reprodutivamente
isoladas. O que é interessante destacar é que essas definições nada dizem sobre
o grau e a mudança morfológica, comportamental ou genética que evoluiu.
Portanto, a definição de “espécie” não implica, necessariamente, que ocorreu
mudança biológica significativa entre as duas populações. Na maioria dos casos
de “especiação” na literatura científica, as duas populações podem ser nomeadas
como “espécies” diferentes sob o conceito biológico de espécie, mas ainda assim
as diferenças entre as populações são de pequena escala e triviais.
Para
reforçar sua réplica, Adelino menciona alguns artigos na literatura
especializada como eventos comprovados de especiação. Primeiro, é bom
esclarecer o seguinte: nenhum criacionista afirma a fixidez das espécies nem
nega que a especiação possa ocorrer na natureza, se e somente se a especiação
for definida como uma população isolada capaz de reprodução, e que essa
definição é trivial demais para as grandiosas afirmações transmutacionistas
darwinistas: a evolução de novas estruturas biológicas, planos corporais e taxa
superiores.
Por
razões de espaço, comento apenas dois desses artigos: Rice WR, Hostert EE. 1993,
“Laboratory experiments on speciation: What have we learned in forty years?”, Evolution 47 (6): 1637-1653, Dodd,
D.M.B. 1989; “Reproductive isolation as a consequence of adaptive divergence
in Drosophila pseudoobscura”, Evolution 43 (6): 1308-1311.
“Pode-se
argumentar que a especiação incipiente não ocorreu nesse experimento por duas
razões. Primeiro, quantidades de traços de fluxo de genes ocorreram entre a
população usando os habitats SE e 4L, pois uma pequena fração de moscas trocou
de habitats entre as gerações. [...] Em segundo lugar, o cruzamento forçado
entre as duas populações produziu descendência fértil em F1 e F2, e assim o
isolamento reprodutivo foi mediado somente pelo comportamento de preferência de
habitat. [...] Não ocorreu isolamento reprodutivo irreversível nesse
experimento.”
Depois
de trinta gerações de mosquinhas das frutas e elas não podiam cruzar livremente? E Rice e Salt afirmaram que
foi somente “especiação incipiente que nós cremos ter ocorrido”? Desonestidade
intelectual de Adelino ou ele somente citou especialistas mais capacitados para
intimidar os críticos pensando que eles não iriam ler nem destacar
posteriormente o que realmente foi descoberto a respeito da especiação?
No
resumo do artigo “The role of hybridization in plant speciation”, Pamela S.
Soltis e Douglas E. Soltis, in Annu. Rev.
Plant Biol. 2009, 60:561-88, assim se expressaram sobre a hibridização: “A
importância da hibridização na especiação de plantas e evolução tem sido
debatida há décadas, com pontos de vista oponentes da hibridização tanto como
uma força evolucionária criadora ou ruído evolutivo. A especiação híbrida pode
ocorrer tanto em nível homoplóide (i.e., entre duas espécies da mesma ploidia)
ou em nível poliplóide, cada um com suas concomitantes consequências genéticas
e evolutivas. Enquanto que a alopoliploidia (i.e., resultante da hibridização e
duplicação do genoma) há muito tempo tem sido reconhecida como um modo
importante de especiação de plantas, as implicações da duplicação do genoma não
têm sido tipicamente levadas em conta na maioria das áreas de biologia de
plantas.”
Outros
artigos que vale a pena conferir são: “The continuity of microevolution and
macroevolution” (J. Evol. Biol. 15
[2002] 688-701); “The notion of the Cambrian pananimalia genome” (PNAS, vol.
93, p. 8475-8478, 1996); “Evolutionary Developmental Biology and the problem of
variation” (Evolution, 54[4], 2000,
p. 1079-1091); “Towards a new evolutionary synthesis” (Tree, vol. 15, n. 1, 2000, p. 27-32).
Finalmente,
deixo um desafio para Adelino: Poderia fornecer algum documento científico
sobre uma mudança de espécie de bactéria para outro ser? Isso levando em conta
que bactérias vêm sendo cultivadas por dezenas de anos (com um tempo de geração
médio de 30 minutos), e elas sempre permanecem bactérias, nunca tendo sido
publicado um comunicado dizendo que bactéria evoluiu para protozoário, por
exemplo. (Seria bom, também, conferir os trabalhos de A. Larssen, que “destroem”
o fenômeno da mutação como ferramenta da evolução.)
Terceiro ponto: Qual
é a relação filogenética de as aves possuírem genes para produção de dentes
semelhantes aos dentes dos crocodilos? Ancestralidade comum? O que dizer, então,
da pesquisa de Mindell et al
descrevendo as dificuldades encontradas quando os biólogos evolucionistas
tentam construir uma árvore filogenética para os principais grupos de aves
usando o DNA mitocondrial? As árvores baseadas nessas moléculas de mtDNA têm
divergido com as noções tradicionais das relações entre as aves.
Surpreendentemente, os autores até acham semelhança “convergente” entre alguns
mtDNAs de aves e os mtDNAs de espécies distantes como cobras e lagartos (D. P.
Mindell et al., “Multiple independent
origins of mitochondrial gene order in birds”, Proceedings of the National Academy of Sciences USA, vol. 95:
10693-10697 [September 1998]).
Quanto
ao fato de o colágeno dos tiranossauros ser basicamente o mesmo que o das aves,
Adelino precisa dizer como o colágeno de tiranossauros (extintos há mais de supostos
65 milhões de anos) pôde ser extraído e pesquisado, se é sabido que o DNA não
fica preservado além de 100 mil anos!
Interessante
o que Lynn Margulis e seu filho Dorion Sagan escreveram sobre a teoria da
evolução: “Nós concordamos que muito poucas proles potenciais sobrevivam para
reproduzir e que as populações mudam através do tempo, e que, portanto, a seleção
natural é de importância crítica para o processo evolucionário. Todavia, essa
afirmação darwinista para explicar tudo da evolução é uma meia-verdade popular
cuja falta de poder explicativo é compensada somente pela ferocidade religiosa
de sua retórica. Embora as mutações aleatórias tenham influenciado o curso da
evolução, sua influência foi principalmente pela perda, alteração e refinação.
Uma mutação confere resistência à malária, mas também faz felizes as células
sanguíneas dentro dos transportadores deficientes de oxigênio da anemia
falciforme. Outra mutação converte um recém-nascido lindo em um paciente de
fibrose cística ou uma vítima de surgimento precoce de diabete. Uma mutação faz
com que uma mosquinha das frutas voadora de olhos vermelhos não ganhe uma asa.
Nunca, contudo, aquela mutação fez surgir uma asa, uma fruta, um caule lenhoso
ou uma pata. Resumindo, as mutações tendem a provocar doença, morte ou
deficiências. Nenhuma evidência na vasta literatura de mudanças hereditárias
mostra evidência inequívoca de que a mutação aleatória em si mesma, mesmo com o
isolamento geográfico das populações, resulte em especiação. Então, como surgem
as novas espécies? Como que couves-flores descendem de pequeníssimas plantas
mediterrâneas tipo repolho, ou porcos de ursos selvagens?” (Lynn Margulis,
Dorion Sagan, Acquiring Genomes: A Theory
of the Origins of the Species, p. 29 [Basic Books, 2003]).
Pelo
visto, depois de “ouvirmos” os entendidos no assunto, podemos perceber que, a
despeito dos esforços de alguns evolucionistas, os fundamentos teóricos sobre
os quais eles vêm construindo seu modelo não são tão sólidos assim. Há muitos
pontos obscuros nessa controvérsia toda. E a humildade intelectual sempre será
bem-vinda nesse caso.
(Michelson Borges,
jornalista e mestre em teologia)