Espécies, não; populações |
Vá
tentar ser antropocêntrico numa hora dessas: os neandertais também pintavam
cavernas e conchas, adornavam-se de penduricalhos e, se um grupo de pesquisa da
UFRGS estiver certo, eram tão espertos quanto nós. Se eles foram extintos, diz
a professora Maria Cátira Bortolini, não foi por falta de astúcia, mas por
diferenças culturais entre aquela espécie e a nossa. Bortolini não é
antropóloga culturalista - bióloga, comparou 162 genes das duas espécies e
constatou que, em matéria de cognição, o Neandertal não fica devendo nada para
um Da Vinci. Ainda hoje, num isolamento ainda possível, temos primos Homo sapiens vivendo no tempo da indústria lítica, construindo
ferramentas de pedra rudimentares [pois é, e se fossem descobertos fósseis
deles, possivelmente diriam que são ancestrais de milhões de anjos...]. Os
códigos que separam esses povos aborígenes de quem lê jornal no tablet não estão inscritos na genética,
mas na cultura. Bortolini sugere que o mesmo se aplica para as nossas
diferenças com o Neandertal, que por dezenas de milênios povoou a Europa, antes
de disputá-la com o sapiens, emigrante africano que trocou de continente há 40
mil anos [segundo a cronologia evolucionista].
As populações neandertais não sobreviveriam por mais de 10 mil anos após o contato com os visitantes. Uma das hipóteses para o êxito da nossa espécie [talvez não seja apropriado se referir a nós e a eles como espécies diferentes] se baseia em uma suposta superioridade cognitiva, justamente o que deita abaixo a pesquisa do grupo coordenado por Bortolini. Mudanças climáticas (terminava a Era do Gelo), doenças e tecnologia mais avançada (como em conquistadores europeus x povos ameríndios) estão entre as alternativas favorecidas pela pesquisadora da UFRGS [por que não se consideram conquistadores europeus e ameríndios espécies diferentes?].
Como o intercâmbio dos hominídeos africanos na Europa teve a sua dose de turismo sexual, também é possível que os neandertais tenham sido “absorvidos” num processo de miscigenação, diluindo gradualmente a sua carga genética a cada novo filho com a gente forasteira. Por isso que, se a sua árvore genealógica não estiver toda plantada na África, é provável que você carregue de 1% a 4% de “DNA Neandertal”.
As populações neandertais não sobreviveriam por mais de 10 mil anos após o contato com os visitantes. Uma das hipóteses para o êxito da nossa espécie [talvez não seja apropriado se referir a nós e a eles como espécies diferentes] se baseia em uma suposta superioridade cognitiva, justamente o que deita abaixo a pesquisa do grupo coordenado por Bortolini. Mudanças climáticas (terminava a Era do Gelo), doenças e tecnologia mais avançada (como em conquistadores europeus x povos ameríndios) estão entre as alternativas favorecidas pela pesquisadora da UFRGS [por que não se consideram conquistadores europeus e ameríndios espécies diferentes?].
Como o intercâmbio dos hominídeos africanos na Europa teve a sua dose de turismo sexual, também é possível que os neandertais tenham sido “absorvidos” num processo de miscigenação, diluindo gradualmente a sua carga genética a cada novo filho com a gente forasteira. Por isso que, se a sua árvore genealógica não estiver toda plantada na África, é provável que você carregue de 1% a 4% de “DNA Neandertal”.
E
onde fica aquela aula de ciências dizendo que a cruza de espécies diferentes só
pode gerar descendentes estéreis, como a mula? Bem, essa regra nem sempre
funciona (numa cruza entre tigres e leões, hora ou outra sai uma fêmea fértil),
mas ela ajuda a reforçar a defesa de que Homo
neanderthalensis e Homo sapiens
são, de fato, uma mesma espécie [bingo!]. “É possível que as variações de Homo
sejam representações modernas de uma espécie que vem se definindo há 2 milhões
de anos”, afirma Maria Cátira Bortolini.
Ao que vínhamos chamando “espécie” Neandertal, Bortolini prefere “população”. E assim também João Zilhão, arqueólogo da Universidade de Barcelona que vem estudando a arte deixada pelos neandertais nos sítios Cueva de los Aviones e Cueva Antón, no sudeste da Espanha. “Não faz sentido colocar a questão em termos de ‘nós e os outros’, mas sim de duas populações ancestrais da mesma espécie. Uma delas, europeia, desenvolveu características rácicas que a tornaram mais facilmente diferenciada das populações africanas. Diferiam mais do que, hoje em dia, diferem os esquimós e os etíopes, mas também eram diferenças intraespecíficas, e não interespecíficas”, afirma Zilhão.
Nas cuevas, o pesquisador português encontrou indícios de pintura e ornamentação que antecedem em pelo menos 5 mil anos qualquer sinal da presença do homem moderno na Europa. Longe de soprar um apito final na comunidade científica, achados como os de Zilhão causam uma mixórdia acadêmica: para preservar a ideia de que os neandertais eram brucutus incapazes de comportamento simbólico, cientistas chegam a cogitar a “aquisição” de adornos via comércio de escambo [aliás, este é um problema típico do evolucionismo: seus defensores vivem lutando para preservar ideias]. E aí teríamos mocorongos capazes de se engajar em transações comerciais.
A tolice do Neandertal, sugerem outros estudos, decorre de um desenvolvimento muito acelerado do organismo, mas a teoria estaria alicerçada em poucas amostras. Zilhão brinca que, nesse caso, um bebê neandertal sequer poderia nascer, grande demais que seria para deixar o corpo da mãe. Para ele, a resistência à tese do “gente como a gente” é comparável a preconceitos sustentados por critérios de aparência física (em relação ao homem moderno, os neandertais eram mais cabeçudos e robustos, provável adaptação a ambientes glaciais).
“É o último reduto de uma noção oitocentista, como a discussão sobre se os índios tinham alma ou não. Hoje em dia, ninguém se atreve a dizer que os africanos são menos inteligentes que os europeus ou coisa que o valha, mas no subconsciente, lá no fundo, quando se trata de populações do passado, isso volta a aflorar”, aponta [é o velho racismo promovido, em parte, pela teoria darwinista]. [...]
Ao que vínhamos chamando “espécie” Neandertal, Bortolini prefere “população”. E assim também João Zilhão, arqueólogo da Universidade de Barcelona que vem estudando a arte deixada pelos neandertais nos sítios Cueva de los Aviones e Cueva Antón, no sudeste da Espanha. “Não faz sentido colocar a questão em termos de ‘nós e os outros’, mas sim de duas populações ancestrais da mesma espécie. Uma delas, europeia, desenvolveu características rácicas que a tornaram mais facilmente diferenciada das populações africanas. Diferiam mais do que, hoje em dia, diferem os esquimós e os etíopes, mas também eram diferenças intraespecíficas, e não interespecíficas”, afirma Zilhão.
Nas cuevas, o pesquisador português encontrou indícios de pintura e ornamentação que antecedem em pelo menos 5 mil anos qualquer sinal da presença do homem moderno na Europa. Longe de soprar um apito final na comunidade científica, achados como os de Zilhão causam uma mixórdia acadêmica: para preservar a ideia de que os neandertais eram brucutus incapazes de comportamento simbólico, cientistas chegam a cogitar a “aquisição” de adornos via comércio de escambo [aliás, este é um problema típico do evolucionismo: seus defensores vivem lutando para preservar ideias]. E aí teríamos mocorongos capazes de se engajar em transações comerciais.
A tolice do Neandertal, sugerem outros estudos, decorre de um desenvolvimento muito acelerado do organismo, mas a teoria estaria alicerçada em poucas amostras. Zilhão brinca que, nesse caso, um bebê neandertal sequer poderia nascer, grande demais que seria para deixar o corpo da mãe. Para ele, a resistência à tese do “gente como a gente” é comparável a preconceitos sustentados por critérios de aparência física (em relação ao homem moderno, os neandertais eram mais cabeçudos e robustos, provável adaptação a ambientes glaciais).
“É o último reduto de uma noção oitocentista, como a discussão sobre se os índios tinham alma ou não. Hoje em dia, ninguém se atreve a dizer que os africanos são menos inteligentes que os europeus ou coisa que o valha, mas no subconsciente, lá no fundo, quando se trata de populações do passado, isso volta a aflorar”, aponta [é o velho racismo promovido, em parte, pela teoria darwinista]. [...]