Semana
passada, postei sobre a divulgação da descoberta de uma “piranha herbívora”.
O amigo Fábio Vieira, que é biólogo e doutor especializado em peixes, chamou
minha atenção para um “detalhe”: “Até que se prove o contrário, todas as
piranhas e pirambebas (gêneros Pygocentrus e Serrasalmus) continuam carnívoras,
como sempre foram. A espécie descrita pelo Marcelo e colaboradores não foi nem
nunca será uma piranha. Grosseiramente poderia ser considerada um tipo de pacu,
grupo que é mais próximo em estudos filogenéticos (por sinal, nesse grupo
todos são herbívoros ou onívoros). O único fato de tudo é que, atualmente,
a espécie descrita, do gênero Tometes, encontra-se na família Serrasalmidae, a
mesma das piranhas. Se você observar o paper original, não
há sequer uma referência a ‘piranha’ no texto, e com certeza essa ‘atrocidade’
veiculada pela mídia jamais teria partido dos autores – o Jegú é um dos maiores
especialistas no grupo. Como sempre, uma matéria mostrando a descrição (a
descoberta ocorreu muito tempo atrás) de uma espécie ‘normal’ seria mais
uma dentro da literatura dos últimos anos (são descritas cerca de 400 espécies
de peixes por ano). O que me impressiona é que o aspecto mais importante desse
gênero (Tometes), que é sua propensão à extinção com as atividades humanas,
acabou ficando obscuramente perdido dentro do texto veiculado. Pena acontecer isso.
A divulgação científica precisa ser mais bem estruturada e divulgada para que o
conhecimento real (e somente o real) chegue à grande massa, não se criando
novos mitos ou reforçando os existentes. Espero ter contribuído para esclarecer
essa questão. Pelo menos dessa vez não foram os pesquisadores que fizeram o
estrago com o sensacionalismo (menos pior).”
Outro
post que merece uma errata é este, sobre os cientistas que “provaram” a existênciade Deus. Conforme observou o amigo físico Evandro Oliveira, “em determinado momento, o
texto fala que um teorema é um pressuposto que não pode ser comprovado. Isso é
uma confusão. O que ele realmente quis dizer é um ‘axioma’. Pois teoremas, em matemática,
precisam ser demonstrados com rigor matemático. A demonstração desse recorre a
outros teoremas e ferramentas matemáticas já provadas, demonstradas, as quais,
em ultima instância, são consequências dos axiomas fundamentais, para os quais
não há como se demonstrar, pois não há nada antes deles a que se recorrer; são
a origem da construção da lógica e do pensamento matemático.”
Obrigado
aos amigos sempre atentos. [MB]