“No ano seiscentos da vida de Noé, no mês segundo, aos dezessete dias do mês, naquele mesmo dia se romperam todas as fontes do grande abismo” (Gn 7:11). Na controvérsia existente em relação às origens é comum nos depararmos com argumentações em que se utilizam cenários imaginários, os quais, por estarem no campo das conjecturas,[1] não podem ser reproduzidos experimentalmente e não são corroborados por nenhum tipo de testemunho histórico. Esse fato é verdadeiro tanto para as argumentações utilizadas por muitos simpatizantes do evolucionismo quanto por muitos simpatizantes do criacionismo bíblico.
A Revelação apresentada nos textos bíblicos permite que se transcendam as limitações do conhecimento humano, possibilitando obter informações confiáveis as quais jamais poderiam ser alcançadas mediante apenas a utilização das instrumentações científicas. Contudo, muitos detalhes de eventos de grande importância como o Dilúvio, os quais geralmente são utilizados na argumentação criacionista, não são apresentados nas narrativas desses eventos.
Infelizmente, muitos textos que objetivam contribuir na elaboração e na divulgação do Criacionismo Bíblico, na tentativa de apresentarem argumentações que se restrinjam à esfera naturalista, sem recorrerem a possíveis intervenções miraculosas por parte do Criador, acabam produzindo o efeito contrário, originando criticas e depreciações! Muitos modelos assim apresentados e propostos esbarram em sérias e elementares restrições de leis bem conhecidas e estabelecidas advindas da Física, da Química, da Biologia, dentre outras.
O Ph.D Robert E. Kofahl, em seu excelente artigo “Poderiam as águas do Dilúvio ter provindo de uma camada atmosférica ou de uma fonte extraterrestre?”, o qual está disponível no site da Sociedade Criacionista Brasileira (www.scb.org.br),[2] além de destacar que milagres devem ser admitidos nas argumentações que compõem o criacionismo bíblico, aponta ainda várias restrições inerentes a alguns modelos muito difundidos no âmbito criacionista, a saber:
1. Uma camada de vapor d’água que possivelmente proporcionou uma parcela substancial das águas do dilúvio.
2. Uma cobertura esférica rígida, de gelo em torno da Terra, mantida pela resistência estrutural, e finalmente rompendo-se para produzir o Dilúvio e a glaciação, ou ainda uma cobertura de gelo em rotação, mantida pela força centrífuga e rompendo-se para produzir o Dilúvio e a glaciação.
3. A precipitação de água ou gelo em órbita em torno da Terra, para produzir o Dilúvio e a glaciação.
4. A colisão de vapor d’água ou gelo proveniente do espaço exterior, com a Terra, para produzir o dilúvio e a glaciação.
Como mencionado anteriormente, muitos detalhes importantes para o modelo criacionista não se fazem presentes nos textos bíblicos, pois não é objetivo das Sagradas Escrituras detalhar, com o rigor de uma linguagem muito superior àquela que é utilizada nos textos científicos, peculiaridades relacionadas com os eventos passados. Contudo, à medida que se aprende mais sobre a natureza criada, mais informações podem ser coletadas para se imaginar o que ocorreu no passado.
Em agosto de 2009, a revista Veja (edição 2.127 de 26 de agosto), na matéria “Um mistério no centro da Terra”, divulgou uma pesquisa feita por cientistas da Universidade Estadual do Oregon, nos Estados Unidos,[3] em que uma das possíveis interpretações para a elevada condutividade elétrica observada no manto terrestre seria uma enorme quantidade de água existente em profundidades ainda inimagináveis!
Pode-se imaginar, dentro das inerentes limitações, que esses reservatórios naturais em profundezas até então inimagináveis, possam ter integrado o Grande Abismo citado em Gênesis.
(Tarcísio Vieira, biólogo e mestre em Química pela UNB)
1. sf (lat conjectura) 1 Juízo ou opinião com fundamento incerto ou com base sobre aparências, indícios ou probabilidades. 2 Suposição, hipótese. Var: conjectura. Fonte: http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=conjetura (acesso em 22/02/2010).
2. O artigo encontra-se disponível na data de acesso (01/03/2010). Caso em uma data posterior o referido artigo não esteja mais disponível, pode-se adquirir a Folha Criacionista nº 15, a qual contém o artigo, por meio do e-mail institucional da Sociedade Criacionista Brasileira: scb@scb.org.br
3. Mais informações sobre este trabalho em: http://www.nsf.gov/news/news_summ.jsp?cntn_id=115434&WT.mc_id=USNSF_51 (acesso em 01/03/2010). Os interessados em aprofundar no assunto podem ler um trabalho preliminar, publicado em 2000, no link: http://www.geosystem.net/papers/12_2000_Neal&Mackie_JGR.pdf (acesso em 01/03/2010).
Leia também: "Oceanos podem estar escondidos dentro da Terra"