Um estudo feito com dados da Prefeitura de São Paulo e do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostra que, de 1996 a 2005, regiões centrais da cidade apresentaram o dobro da taxa média de suicídios da periferia. Enquanto os bairros centrais tiveram, em média, 6,3 casos para 100 mil habitantes por ano durante o período estudado, aqueles localizados em áreas mais distantes, na zona sul da cidade, apresentaram 3,3 casos. Ocorreram 4.275 mortes por suicídio no período. O trabalho, feito na USP (Universidade de São Paulo), será publicado em livro. O pesquisador afirma que o elevado grau de urbanização e o isolamento típico das grandes cidades – características que podem estar relacionadas a maiores índices de suicídio – são encontrados em São Paulo principalmente na área central.
“Em São Paulo, existe uma relação da localidade com a renda – a periferia é mais pobre. Alguns estudos mostram que países mais ricos têm taxas mais altas de suicídio. Trouxemos essa discussão [da renda] para nossa pesquisa”, diz o geógrafo Daniel Bando, responsável pelo trabalho.
Além da renda, a pesquisa também relaciona outros fatores de risco de suicídio, mencionados pela OMS (Organização Mundial da Saúde), às maiores taxas nos bairros centrais. Segundo dados do IBGE, esses locais concentram mais solteiros e separados, estados civis relacionados a maiores chances de suicídio. Em contrapartida, há maior percentual de casados na periferia.
A migração também é fator de risco. Alguns bairros centrais são conhecidos por suas comunidades estrangeiras e de outras partes do país. “Regiões em que as pessoas perdem suas características culturais têm índices mais altos de suicídio. No caso dos migrantes brasileiros, não existe a barreira da língua, mas as culturas podem ser muito diferentes em uma cidade muito mais complexa do que as de origem desses novos moradores”, explica a psiquiatra Sabrina Stefanello, membro da Associação Brasileira de Psiquiatria e pesquisadora em suicídio na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
No Brasil, estimativas sugerem que ocorram 24 suicídios por dia, mas o número deve ser 20% maior, pois muitos casos não são registrados. A quantidade de tentativas é de dez a 20 vezes mais alta que a de mortes. Entre os jovens, a taxa multiplicou-se por dez de 1980 a 2000: de 0,4 para 4.
O número de casos de suicídio cresceu 60% nos últimos 45 anos, de acordo com a OMS. A organização estima que, de 2002 a 2020, o aumento será de 74%, chegando a um suicídio a cada 20 segundos – hoje, a taxa é de um a cada 40 segundos.
“O que há de mais concreto [para explicar o aumento] é a associação com transtornos mentais, principalmente a depressão, mais presente e identificada hoje”, diz Stefanello.
Pessoas que pensam em tirar a própria vida costumam manifestar sinais. “A maioria comenta com alguém próximo. Existe um mito de que quem quer se matar não fala, mas não é verdade. Dizer algo como ‘minha vida não vale mais a pena’, mostra desesperança”, diz.
(Folha de S. Paulo, 18/3/2010)
Nota: Urbanização, isolamento, solteirice e separação, perda de características culturais, maior número de suicídios entre os jovens e depressão – esses parecem ser os frutos da nossa sociedade “moderna”. Curiosamente, alguns desses “estilos de vida” (como a busca do “sucesso” na cidade grande e a vida sem compromisso) são justamente os que acabam sendo valorizados em filmes e novelas. Ao que tudo indica, o ser humano foi projetado para um tipo de vida bem diferente, já que esse propagado pela mídia não o está satisfazendo. Quando lemos o livro das origens, o Gênesis, constatamos que Deus criou o ser humano num jardim e o fez para não viver sozinho. Deu para o homem uma mulher e os uniu em matrimônio. Ordenou-lhe crescer e se multiplicar, a fim de que se realizassem ainda mais em companhia de seus semelhantes (vida social). Para que não perdessem suas “características culturais”, orientou-lhes transmitir de pai para filho os princípios que lhes deveriam reger a vida, tendo, por fim, registrado esses princípios na Bíblia Sagrada. Assim, não deve causar surpresa o fato de que as pessoas que vivem à luz desses princípios tenham uma vida mais feliz, saudável e plena. Elas olham para o futuro com esperança enquanto vivem bem o agora (tanto quanto possível ou dependa delas). O mundo está mesmo na contramão, e por isso muita gente quer “escapar” dele.[MB]