Nem sempre concordo com certas opiniões do escritor Julio Severo, mas a análise que ele fez da visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Israel faz pensar. Severo diz que, em lugar de retribuir a gentileza israelense de lhe franquear a tribuna do Parlamento, Lula aproveitou a oportunidade para criticar Israel. E foi mais longe: se recusou a fazer o que outros presidentes que visitaram Israel fizeram: depositar flores no túmulo de Theodor Hezrl, considerado o fundador do moderno Estado de Israel. “Evidentemente, Lula deve ter ficado horrorizado, pois diferente de seu amigo Fidel Castro, que tem as mãos sujas de sangue inocente, e diferente de muitos de seus próprios assessores, ligados a grupos terroristas comunistas que derramaram sangue inocente no passado, Theodor Hezrl nunca derramou sangue de ninguém”, escreve Severo. “Não lhe perguntem o que ele acha de Hezrl ter tido a ideia de ajudar o Estado de Israel a ressurgir dos escombros da História…”
Em contraste, depois da visita a Israel (a primeira de um presidente brasileiro), Lula depositou flores no túmulo de Yasser Arafat, considerado o fundador do moderno Estado da Palestina. Segundo Severo, “muito diferente de Hezrl, as mãos, os pés, a cabeça e tudo o mais de Arafat estão sujíssimos de sangue. Em seus ataques terroristas, Arafat não poupava ninguém, nem crianças de ônibus escolares, que eram explodidas pelas bombas do grupo terrorista OLP, fundado por Arafat”.
Severo considera dissimulação o fato de Lula ter visitado o Museu do Holocausto. Ao depositar flores no local, Lula disse: “Nunca mais, nunca mais, nunca mais!” Detalhe: daqui a dois meses, o presidente estará visitando Mahmoud Ahmadinejad, que nega o Holocausto e quer a todo custo fabricar armas nucleares, com o objetivo de destruir Israel e matar judeus...
“Na agenda de Lula, não está nenhum discurso no Parlamento do Irã criticando Ahmadinejad ou a bomba para destruir Israel”, afirma Severo. “Eles são amigos, e amigos merecem respeito e carinho. Fidel Castro e Hugo Chavez são testemunhas da fidelidade de Lula aos amigos.”
Severo diz mais: “Se em suas várias visitas a Cuba Lula nunca criticou o governo cubano, por que ele faria isso agora com o companheiro Ahmadinejad? Se Ahmadinejad conseguir concretizar seus sonhos, Lula terá novamente a oportunidade de dissimular e depositar flores no 2º Museu do Holocausto, que terá de ser construído distante da terra de Israel, que estará então contaminada por forte radioatividade. Lula repetirá de novo: ‘Nunca mais, nunca mais, nunca mais!’ E Ahmadinejad lhe fará coro, acrescentando: ‘Israel nunca mais, nunca mais! Israel nunca mais, nunca mais!’”
Ao visitar o Museu do Holocausto, Lula não portou uma estrela de Davi com a inscrição “Juden”, no entanto, em visita aos palestinos, o presidente usou um keffiyeh (tido por muitos como símbolo terrorista palestino). Com isso, Lula pode ter quebrado o decoro e suas atribuições como presidente do Brasil, ao tomar posição por uma das partes do conflito. Mas não creio que essa notícia deverá repercutir muito por aqui.
Meu colega editor Ivacy se manifestou escrevendo o seguinte comentário num fórum do Estadão:
“Alguém aí sabe o que Lula foi fazer no Oriente Médio? Que tal algumas tentativas de resposta? (1) Pode ter sido mais uma viagem para provar que o Brasil funciona muito bem sem ele. (2) Tentar provar que viajou mais que qualquer outro presidente, ou mais que a Hillary Clinton. (3) Ou foi pra mostrar mais uma vez que prefere se acertar com a periferia das democracias?
“O que será que ele quis dizer, ao discursar sobre o holocausto, repetindo ‘Nunca mais, nunca mais...’ enquanto flerta com Ahmadjnejad? E, para completar, negou-se a visitar o túmulo do fundador do movimento sionista, Theodor Herzl, enquanto ficou muito à vontade para visitar o túmulo de Arafat. O Brasil já teve representantes mais coerentes. Saudades...”
Entendo que há questões delicadas envolvidas no conflito palestino-israelense e que, como sempre, os que mais sofrem com isso são os inocentes de ambos os lados. Mas se Lula tinha realmente alguma pretensão de pôr a colher nesse "angu" e servir de mediador entre as partes, pode esquecer.