quarta-feira, fevereiro 22, 2012

Álcool em filmes influencia comportamento

Adolescentes que veem muitos filmes em que os personagens consomem álcool têm duas vezes mais chance de começar a beber do que aqueles que assistem a poucas produções com cenas desse tipo, revela uma pesquisa publicada no jornal on-line “BMJ Open”. Pior: esses adolescentes também têm maior tendência (63%) a abusar do álcool, diz o estudo. As constatações levaram os pesquisadores a sugerir que Hollywood adote as mesmas restrições ao álcool que já vem fazendo ao tabaco em seus roteiros. O grupo trabalhou com uma mostra significativa de 6.500 jovens americanos, com idades entre 10 e 14 anos, que responderam a perguntas sobre seu consumo de álcool durante dois anos. As perguntas levavam em conta também os fatores que os influenciavam, incluindo filmes, publicidade, ambiente doméstico, comportamento dos colegas e vontade de se rebelar. Os jovens foram convidados a apontar, aleatoriamente, filmes que tinham visto nos últimos cinco anos. Os títulos foram escolhidos entre cem blockbusters de cada ano, e mais 32 sucessos de bilheteria do início de 2003, ano da primeira pesquisa.

O tempo de exibição de cenas em que apareciam bebidas alcoólicas ou pessoas tomando drinques foi medido em cada um dos 532 filmes. Ao final, descobriu-se que muitos adolescentes tinham assistido a cerca de quatro horas e meia de imagens relacionadas ao consumo de álcool, e que esse índice, em alguns casos, chegava a oito horas. Além disso, cerca de um em cada dez jovens (11%) disseram ter um produto, como uma camiseta ou um chapéu, em que aparecia uma marca de bebida alcoólica. Quase um em cada quatro (23%) disse que seus pais bebiam álcool pelo menos uma vez por semana em casa, e 29% afirmaram que as bebidas ficavam ao seu alcance, em casa.

Ao longo dos dois anos de pesquisa, a proporção de adolescentes que haviam começado a beber mais do que dobrou, de 11% para 25%, enquanto a proporção daqueles que começaram a beber em excesso – isto é, bebiam pelo menos cinco drinques em uma única sessão – triplicou de 4% para 13%.

Pais que bebiam em casa e a disponibilidade de álcool em casa foram fatores associados ao hábito de beber, mas não ao de abusar de álcool. Exposição a cenas com álcool nos filmes, ter um produto com a marca de uma bebida, ter amigos que bebem e rebeldia foram relacionados às duas situações.

Constatou-se ainda que a presença de álcool nos filmes respondia por 28% da proporção de adolescentes que começaram a beber entre uma pesquisa e outra, e por 20% dos que passaram a exagerar no consumo de álcool. A associação não estava relacionada apenas a sequências com personagens tomando drinques, mas também à exibição de cenas em que os produtos apareciam. “Mostrar cigarros em filmes é proibido nos Estados Unidos, mas é legal que em metade dos filmes de Hollywood haja referência a álcool, independentemente de sua classificação”, disseram os pesquisadores.

Eles ressaltaram que o aparecimento de cigarros em filmes caiu desde que o tabagismo virou um assunto de saúde pública, e sugeriram que a política para o álcool na tela fosse a mesma. Hollywood tem responsabilidades também fora do país, dado que metade da renda dos seus filmes vem do mercado internacional, acrescentaram. “Como uma gripe, as imagens de Hollywood começam numa região e depois se espalham pelo mundo afora, onde também podem afetar o comportamento dos adolescentes com relação à bebida”, escreveram.

(O Globo)

Nota: Nessas horas, salta aos olhos a hipocrisia dos barões da mídia que só pensam em suas gordas contas bancárias. Glamourizam o consumo do álcool com cenas cheias de alegria, festa, “pegação” e depois terminam o comercial com uma locução sem graça: “Beba com moderação” ou “Se beber, não dirija”. Será que ninguém percebe que essas advertências não estão levando a nada? Cada vez mais jovens consomem álcool sem moderação e cada vez mais pessoas perdem a vida em estúpidos acidentes de trânsito causados por motoristas inconsequente e criminosamente alcoolizados. Note que a matéria acima destaca “exposição a cenas com álcool nos filmes, ter um produto com a marca de uma bebida, ter amigos que bebem e rebeldia” como fatores relacionados ao abuso do álcool. Para os mais céticos (ou teimosos) fica aqui a advertência: a exposição a conteúdos nocivos na mídia tem, sim, seus efeitos sobre o telespectador. Em tempos de carnaval, em que a exposição de lixo midiático e promoção de hábitos nocivos são elevadas à enésima potência, o conselho do apóstolo Paulo é mais válido do que nunca: “Encham a mente de vocês com tudo o que é bom e merece elogios, isto é, tudo o que é verdadeiro, digno, correto, puro, agradável e decente” (Filipenses 4:8, NTLH).[MB]

Leia também: "Consumo de álcool favorece sexo sem proteção", "Álcool mata mais do que aids, tuberculose e violência", "Publicidade e consumo de álcool entre os jovens", "Álcool é mais prejudicial para a sociedade que drogas" e "Álcool: não há dose segura"