quinta-feira, fevereiro 02, 2012

Cada vez mais adolescentes colocam silicone nos seios

Nesta volta às aulas, algumas adolescentes aparecerão diferentes em sala e deverão chamar a atenção dos garotos. Em nome da beleza, muitas meninas têm trocado viagens durante as férias escolares por consultas com cirurgiões para colocar silicone nos seios. Parte das garotas, de 12 a 18 anos, não vê a hora de estrear o implante e dividir a novidade com os colegas de classe. “Foi presente antecipado de aniversário melhor que qualquer viagem. Chego à maioridade em agosto, mas não aguentei esperar. Ganhei os implantes do meu pai, mas ajudei a pagar com o dinheiro que guardei da mesada, viu?! Sempre admirei e achei lindo seios grandes e considerava os meus muito pequenos. Quis peitos bonitos como os da minha mãe, que já têm silicone. Mas meu sutiã não passava do tamanho 36 e eu usava com bojo para parecer que eles eram maiores”, diz a estudante Raysa Martins de Jesus, que aos 17 anos colocou 300 ml de silicone no último dia 12. [...]

Para resgatar a autoestima, as pacientes suportam os pontos, a cicatriz, o inchaço, o incômodo de não poder erguer os braços por determinado tempo e a dor da operação. “Doeu um pouquinho sim, mas valeu a pena. O resultado foi ótimo. Só quando eu coloquei as próteses passei a me sentir mulherão”, argumenta a modelo gaúcha Bruna Molz (foto acima), de 21 anos, uma das princesas da Oktoberfest de Santa Cruz do Sul (RS) deste ano. Bruna colocou 300 ml, no inverno de 2007, quando tinha 17 anos. O presente de aniversário dos pais fez com que o sutiã dela saltasse do número 36 para o 42. A loira de 1,75m afirma que só fez a cirurgia porque era traumatizada pela ausência de seios volumosos. “Fui vítima de bullying na escola. Sempre tive bunda grande, mas não tinha peito. Me chamavam de ‘bundita’ e de ‘reta’. Sofri mais nos concursos, quando vi as outras meninas com peito. Eu era um gurizinho. Teve uma vez que cheguei a chorar. Agora tudo ficou proporcional e estou mais feliz.”

Segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, enquanto o número de adolescentes que recorrem à plástica tem aumentado nos últimos anos, a idade delas também vem diminuindo. Quinze anos de idade é a média para a colocação de silicone, por exemplo.

Levantamento inédito encomendado pela entidade em 2009 mostrou que dos 629 mil procedimentos cirúrgicos estéticos feitos entre setembro de 2007 e agosto de 2008, 37.740 foram feitos em adolescentes. Para chegar a esse número, que corresponde a 8% do total de intervenções no país naquele período, foram ouvidos 3.533 cirurgiões associados. [...]

Mas há médicos que evitam fazer cirurgias de implantes de silicones em seios de adolescentes. “Menininha de 15 anos que quer prótese porque coleguinha pôs ou viu na TV não me convence. É a mesma coisa que pai deixar filho menor pegar carro para dar uma volta. Se vir adolescente, não deixo de atender. Tenho conversa franca junto com os pais, mas mesmo que eles autorizem e a adolescente queira, é o cirurgião quem decide”, afirma Ruben Penteado, cirurgião plástico, diretor do Centro de Medicina Integrada em São Paulo. “Com o corpo da adolescente em formação, em crescimento, a intervenção cirúrgica deve ser feita se necessário.”

Em 17 anos como cirurgião plástico, Penteado diz ter atendido cerca de 3,5 mil pacientes, sendo que 15% foram adolescentes procurando uma consulta. “Mas desse percentual, operei 1%. A maioria eu recuso. Eu insisto nessa postura para não banalizar a coisa”, diz ele, que é pai de uma adolescente de 14 anos. “Até agora ela ainda não me pediu nada de plástica.” [...]

Walter Poltronieri, pesquisador e professor doutor em psicologia social pela Universidade de São Paulo (USP), recebe muitas adolescentes que são encaminhadas a ele por cirurgiões plásticos que querem uma avaliação psicológica da garota que deseja pôr silicone. “Quem quer peito maior quer se sentir mais sedutora. A cultura do corpo é uma megatendência [...]”, diz Poltronieri. [...]

(G1 Notícias)

Nota: Depois dos problemas apresentados pelas próteses da Poly Implant Prothèse (PIP), que levaram milhares de mulheres de volta ao médico para uma eventual substituição da prótese de silicone prejudicial à saúde, o assunto voltou à baila. O que pouco se discute são as reais motivações que levam as mulheres a desejar as próteses. A última declaração do Dr. Poltronieri toca no problema (que, na maioria dos casos, é psicológico): “Quem quer peito maior quer se sentir mais sedutora. A cultura do corpo é uma megatendência.” A mídia bombardeia as mulheres com modelos “turbinadas” em comerciais de cerveja, novelas, filmes, etc. Assim, as consumidoras acabam formando a imagem da “mulher ideal” e isso se torna a referência delas. Cria-se a insatisfação (exatamente o mecanismo publicitário que nos faz desejar produtos muitas vezes desnecessários) e o passo seguinte e a busca da realização desse desejo, ainda que seja sob certos riscos e desconfortos. Esta é a megatendência: a cultura do corpo. Lamentável é ver que essa “cultura” vem arrastando meninas cada vez mais novas (talvez querendo imitar as Barbies da infância, com seu padrão curvilíneo). Aonde levará isso tudo (além de à insatisfação das que nunca poderão ser Barbies)? Alguns acham que as mulheres se tornarão cada vez mais “poderosas” e os homens, cada vez mais acuados diante de tanto “poder”.[MB]