terça-feira, fevereiro 14, 2012

Ciência diz por que certas músicas fazem chorar

A ganhadora de seis Grammy’s Adele é famosa por sucessos que fazem todo mundo chorar, como “Someone Like You” e “Rolling in the Deep”. E a ciência tem uma explicação para o fenômeno. É o que conta Michaeleen Doucleff, em sua coluna no The Wall Street Journal. Apesar de a experiência pessoal e a cultura pesarem, pesquisadores descobriram que certas características musicais mexem com as emoções. A melodia correta, combinada com letras de rompimento amoroso e a voz potente de Adele enviam ao cérebro sinais de recompensa. Há 20 anos, o psicólogo britânico John Sloboda conduziu um experimento que identificou a “appoggiatura”, um tipo de nota musical constante em músicas que emocionam. Essa nota se choca com a melodia e cria um som dissonante, isso cria tensão no ouvinte, contou Martin Guhn, psicólogo da Universidade de Columbia, que co-escreveu um estudo em 2007 sobre o assunto. “Quando as notas retornam à melodia anterior, a tensão é resolvida, e é bom.”

“Someone Like You” está cheia de notas ornamentais semelhantes às “appoggiaturas”. Além disso, no refrão, Adele ligeiramente modula seu tom no final de notas longas, momentos antes de o acompanhamento ir para uma nova harmonia, criando uma mini-montanha-russa de tensão e resolução, diz Guhn.

Em seu estudo, o psicólogo descobriu que as músicas que fazem chorar compartilham pelo menos quatro características: elas começam suavemente e depois se tornam altas; incluem a entrada abrupta de uma nova “voz”, seja um instrumento ou harmonia; elas expandem a frequência tocada e têm desvios inesperados na melodia e harmonia.

“A música começa com um padrão suave e repetitivo”, diz Guhn sobre “Someone Like You”. Quando começa o refrão, a voz de Adele salta uma oitava, e ela canta as notas em um volume crescente. A harmonia muda enquanto a letra se torna mais e mais melancólica.

Doucleff diz no texto que quando a música de repente quebra seu padrão esperado, nosso sistema nervoso simpático entra em alerta máximo, nosso coração acelera e começamos a suar. Dependendo do contexto, interpretamos esse estado de excitação como positivo ou negativo, feliz ou triste.

Um estudo no ano passado de Robert Zatorre e sua equipe de neurocientistas da Universidade McGill relatou que músicas emocionalmente intensas liberam dopamina nos centros de prazer e recompensa do cérebro, semelhante aos efeitos da comida, sexo e drogas. Isso nos faz sentir bem e nos motiva a repetir o comportamento.

Para medir as respostas dos ouvintes, a equipe descobriu que o número de arrepios estava correlacionado com a quantidade de dopamina liberada, mesmo quando a música era muito triste.

(UOL)

Nota: Cada vez mais pesquisas demonstram que a música tem realmente poder viciante. É bom lembrar que, como neurotransmissor, a dopamina é neutra. Ela dará prazer, independentemente da fonte desse prazer. Cabe ao apreciador da música (ou da comida, ou do sexo, etc.) escolher sabiamente que tipo de música (comida, relacionamento, etc.) será associado ao prazer em sua mente. Se apenas (ou principalmente) ouvir rock, por exemplo, a pessoa ficará dopaminicamente viciada nesse estilo musical, assim como ficará viciada em pornografia, se tiver contato constante com esse tipo de material; ou não conseguirá mais comer alimentos que não sejam fortemente adoçados, pelo mesmo motivo – o vício. Assim, nossas escolhas diárias determinam a que tipo de comportamento ficaremos ligados.[MB]

Leia também: "O poder da música" e "Consequências do sexo fora de contexto"