Um artigo interessante, com revisão por pares, foi
publicado recentemente por David Depew e Bruce Weber, no periódico científico Biological Theory. O artigo tem o título
“The fate of Darwinism: Evolution after the modern synthesis” [O destino do
Darwinismo: A evolução após a Síntese Moderna]. O abstract resume o conteúdo do artigo: “Nós
traçamos a história da Síntese Evolucionária Moderna e do Darwinismo genético,
geralmente, com uma visão de demonstrar por que, mesmo em suas versões atuais,
não pode mais servir como uma estrutura referencial geral para a teoria
evolucionária. A razão principal é empírica. O Darwinismo genético não pode
acomodar o papel de desenvolvimento (e dos genes no desenvolvimento) em muitos
processos evolucionários. Podemos continuar discutindo duas questões
conceituais: se a seleção natural pode ser o ‘fator criativo’ em uma nova
estrutura referencial, mais geral para se teorizar evolucionário; e se em tal
estrutura referencial os organismos devem ser concebidos como sistemas
auto-organizantes incorporados em sistemas ecológicos auto-organizadores.”
Esse
artigo é interessante em pelo menos dois aspectos. O primeiro é o uso curioso
da palavra “Darwinismo” para descrever a Síntese Evolucionária Moderna.
Frequentemente é afirmado pelos nossos críticos que “Darwinismo” é um termo
pejorativo inventado pelos criacionistas e proponentes do Design Inteligente,
uma forma de escárnio. O termo, contudo, é amplamente usado na literatura
científica predominante – se bem que nem sempre de maneira consistente. Os
autores definem “Darwinismo” assim:
“Darwinismo
se refere à explicação causal da evolução de seu autor – seleção natural – e
para as teorias nas quais esse processo desempenha o papel dominante na
evolução, inclusive a evolução humana.”
O
segundo ponto de interesse é a afirmação no artigo de que o “Darwinismo, na sua
atual encarnação, já deu o que tinha de dar”. Além disso, como os autores
argumentam, “em grande parte, isso é devido ao fato de o lamarckismo, o
saltacionismo (súbito), mutacionismo e a ortogênese internamente dirigida, só
para nomear as tradições alternativas mais duradouras na biologia
evolucionária, que não tiveram êxito de se tornar ciências empíricas
matematizadas com pelo menos um ponto de apoio de neutralidade de valor que o
Darwinismo ainda conta no poleiro evolucionário.”
Os
autores são cuidadosos em distinguir entre o “Darwinismo genético” e o “Darwinismo
como tal”. Curiosamente, o ponto principal que eles criticam no livro What Darwin Got Wrong [O Que
Darwin Entendeu Errado], de Jerry Fodor e Massimo Piattelli-Palmarini, não se
relaciona a uma alegada falha nos argumentos deles, mas, antes, tem a ver com a
falha deles em distinguir entre o “Darwinismo genético” e o “Darwinism como tal”.
Eles relembram e reafirmam aos seus leitores que, “no passado, versões
melhoradas do Darwinismo tomaram o lugar de versões inadequadas e aquela nova
versão – um Darwinismo do futuro – pode bem desalojar o Darwinismo de população
genética sem fim, mas, em vez disso, enriquecer o Darwinismo como tal”.
O
artigo continua fornecendo uma retrospectiva histórica dos desenvolvimentos do “Darwinismo
genético”, descrevendo-o como uma peça em cinco atos. Eles são:
Ato
1: A seleção natural contra a mutação. “A validação da seleção natural
adaptativa como um fenômeno natural real começando nos anos 1880.”
Ato
2: A mutação mais a seleção natural. “Uma posição intermediária que pode ser
justamente chamada de Darwinista se tornou popular nas primeiras três décadas
do século 20. Ela atribuiu o papel criativo na evolução a mutações súbitas.
Para a seleção natural, ela somente atribuiu o trabalho doméstico de filtrar as
mutações inaptas.”
Ato
3: A Síntese Moderna. “A teoria da seleção natural na genética populacional...
se tornou a base da Síntese Evolutiva Moderna dos anos 1940-1960.”
Ato
4: Darwinismo Molecular. “O efeito sobre o Darwinismo de genética populacional
da genética molecular começando nos anos 1950 e 1960.”
Ato
5: O Fim do Darwinismo de Genética Populacional. “Chega de Darwinismo como
genética reducionista.”
Notavelmente,
os autores do artigo parecem partilhar da opinião sobre o genoma que os
proponentes do Design Inteligente vêm defendendo há anos: “Provavelmente,
existe muito pouco ‘DNA lixo’. Todo o genoma, inclusive suas frequentes
repetições, desempenha um papel na regulação da expressão de gene.” Para apoiar
isso, eles citam um artigo de 2011 por Pink et al (“Pseudogenes: Pseudo-functional or key regulators in health and disease?”).
Ao
contrário da asserção frequentemente repetida do lobby de Darwin de que não existe absolutamente nenhuma fraqueza na
teoria darwinista, o artigo oferece a concessão de que a Síntese Moderna nunca
forneceu um relato de “como as principais formas de vida evoluíram” – uma
omissão que não é importante, para se dizer o mínimo.
Apesar
de tudo isso, os autores estão confiantes em que uma nova teoria geral e quadro
conceitual de evolução estão prestes a aparecer, e que isso dará conta daquilo
em que as atuais formulações evolucionárias falham. Mas isso é mera
especulação.
O
lobby de Darwin, sem dúvida,
continuará a fazer sua afirmação rotineira de que nenhum cientista de
credibilidade vê quaisquer problemas substanciais na teoria evolucionária moderna.
Todavia, tal posição está se tornando cada vez mais difícil de sustentar.