[Os
signatários de uma carta de repúdio enviada à ABC não
disseram, mas o alvo é o Dr. Marcos Eberlin,
eminente cientista brasileiro e defensor do design
inteligente e do criacionismo. Eberlin é doutor em Química pela Universidade
Estadual de Campinas e pós-doutor no Laboratório Aston de Espectrometria de
Massas da Universidade de Purdue, USA. É também membro da Academia Brasileira
de Ciências e comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico. Recebeu o Prêmio
Zeferino Vaz de Reconhecimento Acadêmico e o Prêmio Scopus-Capes de excelência
em publicações e formação de pessoal. Orientou quase uma centena de mestres,
doutores e pós-doutores e seu grupo de pesquisa conta hoje com cerca de 45
pesquisadores. Já publicou cerca de 500 artigos científicos com mais de 6.500
citações em áreas diversas da Química e Bioquímica, e Ciências dos Alimentos,
Farmacêutica e dos Materiais. O texto abaixo é uma reposta dele publicada no
blog do professor Chassot:]
“A
TDI [Teoria do Design Inteligente], o que será que será? Será mesmo a TDI uma
teoria baseada em conceitos obscurantistas, medievais e fundamentalistas, defendida
por gente também assim? Será que a TDI apresenta mesmo conceitos religiosos
pseudocientíficos sem fundamentação na razão e no conhecimento pleno, e em
dados brutos, e em metodologia científica? Será? Será que a TDI é mesmo assim?
Um ‘balaio de gato’, um ‘samba de crioulo doido’, um ‘disfarce de um baile de
máscaras’, um ‘delírio efêmero criacionista’ forjado na loucura desesperada que
em nós se instalou frente à constatação inquestionável da soberania absoluta da
evolução darwinista.
Será?
“Será
que seria sensato apresentar alternativa a uma teoria provada por A + B, por X
+ Y, por uma ‘avalanche de evidências’ matemáticas, físicas, químicas e
bioquímicas sólidas, e que se baseia nas mais recentes descobertas científicas?
Ir contra a gravidade, seria sensato? Por tantos e em tantos lugares, e gente
de tantas áreas do conhecimento?
“Será
que a ‘maior ideia de todos os tempos’ tem sido mesmo corroborada no registro
fóssil, na descoberta das máquinas e motores moleculares, na descoberta do DNA
e das histonas e seus múltiplos códigos, na descoberta da homoquiralidade dos seres vivos, no intrincado entrelaçar
de processos ‘hard-disk like’ com estrutura ‘top-down’ e da informação zipada,
encriptada e aperiódica e funcional, e imaterial que governa a vida? A
informação como o terceiro e mais fundamental elemento da Vida, corrobora a
teoria ou a refuta? Seria assim loucura refutá-la? E será que Darwin hoje a
defenderia? Apoiaria o ‘cale-se’?
“Será
que a Vida se explica mesmo pela sopa primordial, pelo mundo do RNA, pelo LUCA
e a ‘árvore da vida’ e pela ação refinadora da
seleção natural sobre as mutações? Será viável mesmo ao nível molecular?
“Será?
Será que a TDI se sustentaria sob o ataque muitas vezes virulento da nova
geração dos ‘bulldogs de Darwin’, que a escrutinam e difamam já por décadas?
Será?
“Será
que tantos acadêmicos honestos, competentes e muitos de amplo prestígio,
prontos a seguir os dados aonde quer que eles levem, e prontos a aceitar a
evolução, se sustentada fosse ela na razão, arriscariam eles suas carreiras e
reputação em uma aventura irracional ‘inteligentista’ contra o maior, mais
fundamental e mais aguerridamente defendido paradigma científico da atualidade,
sem o qual todo um ramo do conhecimento, a ‘biologia, não faria sentido’?
Dariam suas ‘vidas’ por uma causa perdida?
“E
será que teria que ser diferente? Será que não foi assim com Pasteur e com
Copérnico? Será que vivemos hoje uma nova inquisição, desta vez secular? Será
que cientistas têm mesmo o direito de apresentar ‘todas as evidencias
cientificas’ como invocado por John Scopes, ou será que agora querem revogar a
lei?
“E
por que será que a Ciência, que é a ‘cultura da dúvida’, e a Academia, que é a ‘catedral
do debate’, e os seus acadêmicos lançariam mão de ‘manifestos’ e ‘desvios de
classificação’ [ou mesmo de denúncias ao MP] do
que é ou não é Ciência, seguindo um filósofo da Ciência aqui e esquecendo um
outro ali, para se blindar de ataques e desqualificar o oponente invocando ‘regras’,
e esquecendo de debater suas teses? Será que ‘rotular para desclassificar’ é
uma boa estratégia de debate científico? Será?
“Será? Que
os que a criticam realmente conhecem a tese que criticam, leram seus livros,
leram A CaixaPreta de Darwin, de Michael Behe, ou Signature in the Cell, de Stephen
Meyer, best-sellers, ou a rejeitam a priori simplesmente porque não gostam
de suas implicações filosóficas e teológicas? Será que gosto é um bom critério
científico, e será que cientistas teriam mesmo o direito de tê-lo?
“Ou
será que somos pagos e assinamos o contrato para procurar a Verdade plena, e
não aquela ‘verdade’ de que gostamos? Será que a ciência deveria partir de
pressupostos e preconceitos e filtrar com eles suas conclusões? Uma Ciência
pré-conceituosa? Ou será que antes de um direito, temos o dever, como
cientistas, de deixar nossa subjetividade em casa e nos guiarmos exclusivamente
pelas evidencias, doa a quem doer?
“Será?
Será que tachar de ignorantes os que falam sem conhecimento ou qualificação
científica, e depois de desonestos os que possuem esse conhecimento e
qualificação, que dão voz a suas teses, demonstraria ser essa uma discussão
meramente científica, ou será que nossas ideologias estão postas à mesa? Será
que o que não gostamos é da TDI, ou de vermos alguém como nós a defendê-la?
“E
será que a Vida, uma coleção de máquinas moleculares e de processos e ciclos
intrincados e automatizados, regidos por moléculas e macromoléculas, muitas
delas homoquirais, e por variadas e extensas redes de interações químicas
intra, inter, super e supramoleculares, seria explicada somente por um ramo do
saber científico, por comparação de seus códigos - eu e você parecidos com
macacos, mas também com bananas? Ou teriam os químicos e bioquímicos um lugar à
mesa?
“Será
que uma teoria fraca e retrógrada assim como a TDI causaria tanto estrago,
tanta indignação, tanto ‘afronto’? Tantos blogs a defendê-la, tantos livros,
tantas palestras, tantos debates, tanta inquietação no Brasil e no mundo? E
será que teorias científicas sólidas e cientistas de prestígio sabedores da
solidez epistemológica de suas teorias se sentiriam tão ‘afrontados’ assim com
uma teoria tão retrógrada assim, a ponto de ‘apelar’ para o cerceamento da
palavra?
“E
será que cientistas tem o direito de se sentir ‘afrontados’ quando suas
teorias, ou melhor, as teorias que eles defendem, são confrontadas com
argumentação científica e filosófica sobre a Ciência? Ou deveriam se sentir
ainda mais motivados a defendê-la? Será que seria Freud que explicaria isso? Ou
Thomas Kuhn?
“Acredito
que você, sobretudo um racionalista de carteirinha, como eu também o sou, tem
condições de avaliar e se posicionar quanto a esses ‘serás’, filtrando os
comentários apaixonados e as injúrias e difamações, de ambos os lados, fazendo
assim seu julgamento. Filtrando os ‘manifestos apaixonados’, por entender seu
viés filosófico e teológico, e se guiando no único pressuposto científico: seguir
os dados, seja aonde quer que nos levem! Essa é a nossa obrigação; o resto é
gosto!
“E
viva o debate, e viva o confronto de ideias e teorias! É esse debate livre
que fez, faz e fará avançar a Ciência com C maiúsculo que eu e você nos
propomos a fazer, e a respeitar integralmente.
“E
que vença a melhor teoria, a que estiver seguindo os dados, e do lado da razão!
“E,
Pai, ‘afasta de mim esse CALE-SE, de vinho tinto de sangue’!”
(Texto
do Dr. Marcos Eberlin publicado no Blog do Mestre Chassot)