Acompanhado
da mulher e do filho de 1 ano, o pastor evangélico Joide Miranda, de 47 anos,
que até os 26 era travesti, afirma que é possível deixar de ser homossexual. A
partir de sua experiência pessoal, ele decidiu ajudar quem quer voltar a ser
hétero, por meio da Associação Brasileira de ex-Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis
e Transexuais (ABexLGBTTs). “A homossexualidade é um vício que, muitas vezes,
vem desde a infância. Achava que era impossível mudar, mas é uma conduta que
pode ser desaprendida”, diz o pastor. O trabalho da associação vai contra a
posição do Conselho Federal de Psicologia (CFP), que orienta profissionais da
área a não colaborar com serviços que ofereçam tratamento e cura para
homossexualidade e não reforcem preconceitos sociais já existentes em relação
ao tema.
Joide
Miranda, que aos 14 anos assumiu a homossexualidade e agora se diz “completamente
restaurado”, pontua que o trabalho que desenvolve busca a cura e a mudança a
partir da espiritualidade e da experiência de vida dele, embora avalie que a
psicologia seria importante nesse processo. “Aqueles que querem deixar o estado
da homossexualidade dizem que me veem como referência”, afirma o pastor, que
depois da mudança retirou as próteses de silicone dos seios e o silicone
industrializado dos quadris.
Ele
explica que a entidade, que foi regulamentada em novembro do ano passado, dá
suporte emocional a pessoas de vários lugares, inclusive do Japão, Espanha e
França. Até hoje, segundo ele, mais de 500 homossexuais o procuraram. O pastor
diz que os maiores motivos alegados para querer deixar a homossexualidade são a
solidão e a insatisfação. “Fazemos acompanhamento por telefone, mas pretendemos
abrir uma casa de apoio, uma espécie de albergue, para poder auxiliá-los melhor”,
conta o pastor, que mora em Cuiabá com a família.
Um
dos pilares da associação, segundo ele, é a estruturação familiar. Para o pastor, a desordem familiar tem
grande parcela de responsabilidade nos casos de homossexualidade. Ele diz
alertar os pais durante as palestras que ministra para que se atentem sobre o
comportamento dos filhos, de modo que atuem de forma preventiva. “Um dos
maiores fatores que contribuem para a homossexualidade são os abusos sexuais e
a ausência de limites para as crianças”, enfatiza, ao relatar que, aos 6 anos,
foi abusado por um vizinho.
Além
dos próprios homossexuais, Joide diz receber inúmeros telefonemas de mães que
não concordam com a orientação sexual dos filhos. Ele diz que muitas delas
pedem para conversar com a mãe dele, que, após muita insistência, conseguiu
fazer com que ele fosse para a igreja. Antes disso, o ex-travesti morou em
vários países, entre eles Itália e França, onde se prostituía.
Ele
cita dois casos de ex-gays que teriam se tornado heterossexuais depois de
receberem acompanhamento através da associação. Um deles na França, que morava
com outro homem e hoje já está casado com uma mulher. Outro é o caso de um
ex-travesti do Maranhão, que colocou silicone até nos lábios e agora é
missionário de uma igreja evangélica. “Quando a pessoa resolve mudar, o
interior está todo bagunçado e demora algum tempo para mudar completamente,
inclusive os trejeitos femininos”, explica.
No caso de Joide, a mulher Édna, que hoje o acompanha nas palestras em que dá seu testemunho, foi quem o ajudou. “Falava para ele que não era para colocar a mão na cintura, nem cruzar as pernas como mulher”, disse. Ela, no entanto, faz questão de enfatizar que se casou com um heterossexual e que nunca duvidou da mudança do marido. “Antes achava que gay era sempre gay, mas depois que o conheci mudei esse conceito. Não me importo em falar sobre o passado dele, pois falo de alguém que não existe mais”, afirma.
Casada
há 14 anos com Joide, Édna conta que os dois eram empresários e deixaram os
negócios para ajudar as pessoas que pretendem deixar de ser homossexuais. “Só
fazemos isso para que nossa história possa ajudar outras pessoas.” Ela conta
que no início do relacionamento enfrentou certo preconceito por parte daqueles
que não acreditavam na mudança de Joide.
No
entanto, os dois afirmaram que o casamento não pode servir como uma “fuga”.
Antes de conhecer a mulher, o pastor disse não ter sentido atração por nenhuma
outra pessoa do sexo oposto. “Tive tudo com que um travesti sonha, como glamour e dinheiro, mas não era feliz.
Sentia um vazio muito grande dentro de mim. Era uma vida de hipocrisia”,
recorda Joide, ao se dizer realizado hoje com a mulher e o filho, que foi
adotado porque Édna não conseguia engravidar.
Na
visão dele, a homossexualidade está na mente e, por isso, pode ser restaurada.
“Depois que fui abusado sexualmente, tive minha heterossexualidade violada”,
afirma. Ele disse ainda que, quando foi molestado pelo vizinho, teve medo de
contar para a família, principalmente ao pai, que era alcoólatra.
Nota:
Se, de acordo com o pastor Joide, muito da homossexualidade depende da estruturação familiar, permitir que
“casais” homossexuais adotem crianças não seria um tipo de determinismo? Não
seria como escolher a orientação sexual pela criança? Curiosamente, orfanatos
religiosos têm sido impedidos de funcionar com a alegação
de que isso seria violar a liberdade de a criança escolher a religião que vai
ou não seguir. E a adoção de crianças por gays, não se trata de violação de
liberdade, também?[MB]