quarta-feira, julho 18, 2012

Darwinismo às avessas

As capas dos jornais e sites cedem espaço para acontecimentos que chocam qualquer pessoa que ainda ostenta um pingo de humanidade dentro de si. Na última segunda-feira, dia 9, veio a público o mais novo capítulo da história que narra o fim dos valores morais: idosa era maltratada por filha adotiva de 11 anos em Santa Maria. Prestes a alcançar os 70 anos, a senhora vivia em condições sub-humanas na região central do Estado. A filha adotiva de - pasmem - apenas 11 anos mantinha a mãe em um sobrado sem alimentação e insatisfatórias condições de higiene. As informações dão conta de que a criança teria se apropriado do dinheiro da aposentadoria da idosa para gastos pessoais, como roupas para ela e para as amigas. Enquanto a criança renovava o guarda-roupa, a idosa definhava na companhia de aparentes problemas psiquiátricos.

A assistente social que acompanhou o caso informou que o local onde a idosa vivia era insalubre, com muito lixo jogado pelo chão. A Brigada Militar só tomou conhecimento da situação após uma denúncia por telefone relatando o cárcere privado. A senhora recebeu atendimento médico e deve ser encaminhada para um lar de idosos. Já a menina foi recolhida pelo Conselho Tutelar e irá para um abrigo.

Eu não sei se pertenço a uma geração que, apesar de estar muito próxima da atual - afinal, são apenas oito anos de diferença - difere completamente em valores morais ou Darwin estava completamente equivocado e vivemos um verdadeiro retrocesso na escala “evolutiva” da humanidade. Perdoe-me o naturalista britânico, mas se o que vivemos é uma versão melhorada da anterior, eu preciso, definitivamente, nascer de novo.

Não é à toa que os Maias previram o fim do mundo para2012. A cada dia, um novo caso de violência ainda mais perturbador e agressivo estampa as manchetes na imprensa brasileira. Uma completa inversão de valores se instalou nas entranhas da geração y, distorcendo todo e qualquer resquício de educação e bom senso. 

Atualmente, os maus tratos aos animais são vistos com mais misericórdia que o estupro de uma criança, a carga mais elevada de preocupação é depositada na garantia dos direitos humanos dos criminosos e não das vítimas, os pais são impedidos de exercer suas funções dentro da estrutura familiar pela criação de leis absurdas que só protegem a impunidade. Perante a justiça, menor pode tudo, menos sofrer as consequências dos atos que cometeu, como se fosse a sociedade que representasse o perigo, não o infrator.

É visível que não se pode culpar apenas o Estado pelo caos que se tornou a juventude brasileira. Casos como esse não são uma realidade construída da noite para o dia, mas uma estrutura social arruinada ao longo dos anos. Jogada às traças, a educação brasileira enfrenta ruínas em todas as suas esferas: na família, na educação dos princípios dentro de casa, na desvalorização do professor, na falta de vagas nas escolas públicas, no descaso com o ensino, na conturbada relação entre aluno e professor.

Não sei exatamente o motivo, mas, por alguma razão, ainda fico muito impressionada com a velocidade exacerbada das mudanças. Evidentemente que as transformações são etapas naturais do processo de evolução dos seres vivos e assim tem sido desde os primórdios da humanidade - ou, pelo menos, desde que Charles Darwin publicou, em 1859, o livro A Origem das Espécies. Mas aí eu pergunto: a sociedade em que vivemos é, realmente, sinônima de evolução?

Se os crescentes casos de violência contra a mulher, homicídios dentro da própria família, estupros, assaltos e torturas - que mancham, diariamente, com sangue e tristeza os jornais - são o ápice da adaptação humana ao meio, e não uma completa transgressão aos mais irracionais instintos de sobrevivência em que impera a Lei da Selva, precisamos rever nossos conceitos.

(Daniele de Freitas dos Santos, Zero Hora)