quinta-feira, agosto 14, 2014

A morte de Eduardo Campos e Robin Williams

Eduardo Campos (1965-2014)
A morte de duas figuras públicas chocou o Brasil e o mundo nesta semana. Eduardo Campos era candidato à presidência do nosso país e morreu inesperadamente num acidente de avião ocorrido na manhã de ontem, em Santos, SP. Robin Williams foi protagonista de filmes hollywoodianos famosos, um grande ator ganhador de Oscar. Suicidou-se na manhã de segunda-feira. O que a morte desses dois homens, pais de família, ricos e famosos tem a nos ensinar? A primeira (e mais óbvia) lição é a de que a vida é um patrimônio muito frágil, e que a morte, cedo ou tarde, chega para todos. Campos tinha mil e um planos relacionados com sua candidatura. Sabe-se lá o que se passava em sua mente durante aquele voo que o levaria a novos compromissos de campanha... Poderia, eventualmente, ser o novo presidente do Brasil (quem sabe não nesta eleição, mas no futuro, pois ainda era jovem, com seus recém-completados 49 anos). Tudo isso foi interrompido na queda do avião que o levava do Rio de Janeiro para Guarujá, juntamente com parte de sua equipe. Sonhos e planos interrompidos. Uma vida interrompida. E o pior de tudo: uma família que fica sem o pai, apenas dois dias depois do Dia dos Pais.

Robin Williams (1951-2014)
Williams construiu uma carreira de sucesso e galgou a escada da fama como poucos no concorrido mundo das celebridades. Notabilizou-se por filmes como “Bom Dia, Vietnã”, “Sociedade dos Poetas Mortos” (carpe diem, quem daquele tempo não se lembra?), “Patch Adams” e “Uma Babá Quase Perfeita”. Aliás, uma das especialidades do ator era fazer rir. Suas comédias encantaram milhões de pessoas mundo afora. Então por que um fim tão triste? Longe das câmaras, Williams vivia seus dramas, como qualquer mortal comum. Apesar de ter tido um patrimônio avaliado em 280 milhões de reais, o ator estava envolvido em dificuldades financeiras por causa de dois divórcios (ambos teriam custado algo como 76 milhões ao ator). Além disso, ele também lutava contra o vício em cocaína e álcool, desde os anos 1970. Com depressão profunda, Williams pôs fim à sua vida cortando o pulso e se enforcando com um cinto.

Em 1998, em entrevista à revista Veja, Williams falou abertamente sobre a dependência química. “Eu me tratava com um psiquiatra que dizia não haver problema em cheirar cocaína, desde que o consumo fosse controlado”, afirmou. “Até o dia em que descobri que ele cheirava muito mais do que eu. O efeito da droga é extremamente sedutor. O problema é que ela passa a dominar você, a controlar sua vida.” Na mesma entrevista, ele contou que a paternidade o levou a largar as drogas, em 1983. “Queria acompanhar todo o processo de gravidez e parto, sem perder nada. Sabia que ser pai já seria uma transformação louca e problemática sem drogas – imagine com elas.” 

Por 20 anos, Williams ficou sóbrio e viu sua carreira deslanchar, mas, em 2003, ele voltou a beber. Três anos depois, foi internado em uma clínica de reabilitação, por intervenção da família. Em 2010, em entrevista ao jornal britânico The Guardian, o ator contou que estava frequentando semanalmente as reuniões dos Alcoólicos Anônimos (AA). Em julho de 2014, ele decidiu por conta própria se internar mais uma vez em uma clínica de reabilitação. Foi a última vez.

Campos e Williams: dois pais de família, duas figuras públicas, dois homens de sucesso. Cada qual deixa um legado, mas não é isso que vai consolar as esposas e os filhos. Tenho certeza de que eles dariam tudo para tê-los de volta. E é justamente isto o que nos deve fazer pensar neste momento – e sempre que a morte nos faz recordar nossa finitude e fragilidade: os relacionamentos são a coisa mais importante da nossa vida. Devemos investir tempo, energia e sentimentos nas pessoas. Devemos amar de todo o coração e intensamente, pois o cronômetro da existência terrena corre rápido, e o que passou, passou.

Mas há ainda algo mais importante do que os relacionamentos humanos. Nosso relacionamento com Deus. Por quê? Porque é nesse relacionamento que temos a esperança de tornar eternos os demais relacionamentos. Ainda que a morte encontre um fiel filho de Deus, ele sabe que ela não é definitiva, e os seus que também creem têm a esperança do reencontro por ocasião da ressurreição (conheça mais sobre isso aqui). Conselheiros, psicólogos e amigos ajudam nos momentos de dor, mas são falíveis, limitados e mortais como nós mesmos (e Williams aprendeu isso com seu psiquiatra). Por isso, precisamos nos amparar num Amigo cujos ombros são amorosos e todo-poderosos. Ali podemos chorar, gritar, desabafar. Ali encontramos o verdadeiro conforto, que não é apenas emocional, mas de alma. Ali encontramos a esperança de que esta vida curta e dolorosa não é o “fim da linha”; que há muito mais além.

Mais um detalhe sobre Campos: ele tinha esposa e cinco filhos. Uma bela família e um exemplo meio raro nesse aspecto, vindo de figuras públicas e de famosos, em nossos dias. A morte dele deixa nosso país mais carente de bons exemplos; mais depauperado em sua já escassa reserva moral. Certa ocasião, Campos recebeu de presente o livro A Única Esperança, de Alejandro Bullón. Deus queira que ele tenha tido tempo de lê-lo. E que Deus conforte o coração de todos os que sofrem a perda desses homens.

Michelson Borges