quarta-feira, agosto 06, 2014

Os X-Men e os x-cristãos

O deuses do átomo
Se você não é cristão e vai ao cinema ver o próximo filme dos X-Men, então até entendo sua diversão, pois eu já fui adolescente e já li as revistas dos mutantes no meu passado remoto, mas te digo que há coisas melhores. Porém, se você é cristão, quero te convidar a refletir no universo desses personagens, coisa que em algum momento eu fiz e cheguei a algumas conclusões.

Nos anos 60, a mente criativa do roteirista de histórias em quadrinhos Stan Lee, criador de personagens como Homem-Aranha, Homem de Ferro, Hulk e Quarteto Fantástico, decidiu que era hora de criar todo um grupo de novos personagens. Devido às leis daquela época, Lee e sua esposa foram impedidos de adotar uma criança porque eram um casal de religiões diferentes, ele judeu e ela cristã. Em entrevista para o History Channel, Stan Lee admitiu que essa experiência amarga de preconceito serviu de inspiração para uma de suas maiores criações, os X-Men.

Stan Lee imaginou um grupo de heróis que, em vez de serem admirados eram odiados, por puro preconceito. “O princípio fundamental de ‘X-Men’ era tentar ser uma história contra a intolerância para mostrar que existe bem em todas as pessoas”, disse Stan Lee.[1]

X-Men promoveu um grande debate cultural num momento da América em que se discutiam os direitos civis dos afro-americanos. No entanto, apesar de pregar tolerância e paz, o enredo de X-Men apresentava um grupo de jovens com poderes especiais que treinava para combater pela força outros mutantes ou mesmo humanos comuns. Na trama das revistas dos X-Men, a crise social chega ao ponto em que o governo homo sapiens cria robôs que caçam e dominam os mutantes.

De fato, os anos 60 tiveram grupos de vigilantes semelhantes aos X-Men que “combatiam” a agressão à comunidade negra com a força: eram os Black Panthers, (Panteras Negras). Só que não foi o movimento Pantera Negra que conquistou os direitos civis nos EUA e, sim, o comovente, firme e pacífico protesto do pastor  Martin Luther King e sua revolução não violenta, seguindo a filosofia bíblica de “dar a outra face” (Mt 5:39).

Tente imaginar Wolverine dando a outra face e dizendo “ame os seus inimigos”... Conseguiria Wolverine entender o que Jesus disse a Pedro, de que quem vive pela espada morre pela espada? (Mt 26:51).

Mas quando o debate do racismo começou a minguar, no fim dos anos 90, outro debate sobre intolerância dominou o cenário. Em X-Men, a maneira como os pais reagem quando descobrem que seus filhos são mutantes e os protestos civis anti-mutantes lembram em muito os debates modernos sobre a questão homossexual.

X-Men saiu dos gibis e desenhos infantis para as telas de cinema por meio de Bryan Singer, que também dirigiu filmes como “Superman Returns”. Curiosamente, segundo fontes de sites sobre cinema, Singer é gay assumido.[2] “A história da Cura Mutante vista em ‘X-Men: O Confronto Final’, por sua vez, foi elaborada por Joss Whedon nos quadrinhos, especificamente para fazer referência às dificuldades vividas por homossexuais”.[3]

A apologia moderna de X-Men ao homossexualismo nunca foi velada; até uma capa de X-Men traz o casamento de dois mutantes gays.[4] Os roteiristas chegaram a admitir que eles e Singer fizeram “referencias ao universo gay”.[5]

Quando X-Men se tornou sucesso graças a suas aventuras e efeitos especiais arrebatadores, o resto do mundo e a mídia também caminhavam a passos largos na defesa da chamada “causa gay”, e qualquer religioso ou grupo que não aceite o COMPORTAMENTO homossexual, foi tachado de “preconceituoso”, invertendo a “gangorra da opinião pública” e aplicando o rótulo de homofóbico e preconceituoso à defesa do velho modelo bíblico de casamento e família.

Na verdade, “Mundo de X-Men” tem até mesmo um personagem que aparentemente é um reflexo dos evangélicos conservadores, o fictício senador Kelly, mostrado como ignorante e intolerante.

No campo teológico, X-Men é cheio de contextos e quadros escatológicos, como leis e decretos, cadastramento de mutantes, perseguição pelos “sentinelas” e títulos como “Complexo de messias”, “Dias de um futuro esquecido” e “A era do Apocalipse”. Seus personagens curiosamente invertem conceitos bíblicos. Apocalipse, na Bíblia, é o livro da revelação de Jesus Cristo sobre como Ele salvará a igreja; mas Apocalipse, nos X-Men, é o pior vilão que quer destruir e escravizar.

Entre os mutantes há um homem com asas que é chamado de “Anjo”; um ser com aparência sinistra chamado Noturno, mas que é bondoso (ah, como gostamos de chamar o bem de mal e o mal de bem!); uma mulher chamada Mística, capaz de mentir e se disfarçar de qualquer homem ou mulher; um herói chamado Gambit que, na verdade, foi um ladrão; um estranho guerreiro que tem o nome de Bishop, que significa Bispo. O professor Xavier e outros mutantes chamados “telepatas” podem controlar mentes, quase que hipnotizar os demais, induzindo pensamentos e emoções. Ele viola a consciência e o livre arbítrio das pessoas, mas nada comparado a Jean Grey, que incorpora uma entidade chamada Fênix Negra. Muito interessante, afinal, Fênix é um símbolo satanista clássico, e ela se comporta como tal, ao destruir e matar. Jean literalmente é a médium que recebe essa entidade!

Qual é a origem dos poderes dos X-Men? Nunca se viu um X-Men orando ou pedindo forças a Deus. Embora os X-Men sejam alegadamente de vários países e religiões, isso para dar o ar de inclusão e tolerância, nenhum deles faz coisas extraordinárias ou milagres em nome de Deus, pois isso não faz parte da temática.

X-Men não são chamados de filhos de Deus, eles são os filhos do átomo, pois a mutação é ocasionada pela “evolução”.

Apesar do clima de ciência, a mutante Tempestade é chamada nas revistas e desenhos de “bruxa do tempo”. Ela vem de uma tribo africana onde se praticava bruxaria, que no mundo X-Men é uma forma de mutação. Ela “convoca” os ventos e as chuvas, assim como no xamanismo.

Por falar em místicos, o maior vilão dos X-Men é Magneto, e ele tem dois filhos – Wanda e Pietro –, sendo ela uma feiticeira que se veste de vermelho, e o segundo, um velocista que adota o nome no Brasil de Mercúrio, o deus romano, mensageiro do Olimpo, deus do comércio e dos ladrões. Magneto várias vezes se refere aos mutantes como “deuses”, comparados aos comuns homo sapiens.

Magneto era para ser vilão, mas você não consegue detestá-lo! Você sente empatia por ele. Coitado! Um menino judeu, separado de seus pais, perseguido pelo preconceito nazista. Magneto é claramente inspirado no próprio Stan Lee, que também é judeu. No final, ele sempre parece acabar se unindo a Charles Xavier, como Lee se unia ao desenhista Jack Kirby, com quem brigava muito, mas também era amigo e foi co-criador dos X-Men.

Mas nessa ficção, em que a evolução massacrou as doutrinas bíblicas da criação, do pecado original, da redenção e da salvação, a humanidade segue evoluindo sem elos intermediários, como Richard Dawkins sonharia em ver. X-Men evoluem aos saltos, no despertar da adolescência, e o mais popular desses saltos evolutivos é Wolverine. No enredo de X-Men, ele foi um mutante aperfeiçoado para ser um assassino, mas se rebelou e se juntou aos “bonzinhos”. Mas que bom exemplo ele é! Bebe, fuma seus charutos, bate em quem der vontade e se justifica dizendo que é seu temperamento; é impaciente, arrogante e violento.

Wolverine é o símbolo do anti-herói moderno. Ele se tornou tão popular em seus dramas e personalidade de “durão”, que ganhou um filme solo em que é chamado de imortal, título usado na Bíblia exclusivamente para Deus (1Tm 6:16).

Em X-Men, o legal é ser mutante e ter algum “poder”, mas, na Bíblia, o ser mais poderoso do Universo desejou assumir a simples forma humana, escolhendo não usar Seus poderes e esvaziar-Se a Si mesmo (Fp 2:6-9). Jesus veio à Terra para viver uma vida perfeita, não usando Seus poderes em benefício próprio e velando Sua forma divina na simplicidade da carne humana do pregador de Nazaré. Fez das Escrituras Seu único poder (Mt 4) e escolheu combater a intolerância com a revolução não violenta de “dar a outra face” (Mt 5).

X-Men é uma ficção concebida para divertir, mas cheia de ideologias e filosofias que estão longe, a anos luz de distancia dos ensinos de Jesus. X-Men acerta na palavra tolerância, mas em seu conteúdo violento erra de forma grosseira seu alvo e contradiz o que pretende defender.

E quem venderia gibis e ingressos para o cinema com um super-herói que não usasse poderes ou raios? O público quer a emoção da pancadaria, os efeitos especiais e as emoções do suspense e da ficção! Me pergunto se uma mente aguçada por esses estímulos sentirá prazer na calma, simples e doce mensagem dos Evangelhos? Quanto a mim, eu tive que fazer uma escolha.

Jesus não vende gibis. Sua teologia está drasticamente longe do mundo fictício de X-Men, mas Sua mensagem, corretamente vivida e sem ser distorcida, ajudou Gandhi e Luther King a vencerem o ódio, a intolerância e o preconceito.

Percebi que a ficção banalizava a realidade dos milagres relatados na Bíblia. Desisti dos gibis porque descobri que a Bíblia não pode ser rivalizada com “palha seca”. Também comecei a descobrir a história por trás das estórias dos heróis dos quadrinhos e do cinema.

O cristão precisa de leitura da Bíblia e não de contos de gibis! Não acho que você vai assistir X-Men e se tornar gay ou sair querendo atirar raios pelos olhos, mas lembre-se de que as imagens semeiam pensamentos, e os pensamentos se tornam opiniões, e elas geram ações.

Há toda uma nova “espécie” na igreja que vai me achar retrógado e clichê. Vão à igreja e durante os outros dias cultuam os “deuses do átomo”, pagam o “dízimo” das salas de cinema e engrandecem mitos da imaginação humana que programam gerações de jovens a aceitar uma agenda antibíblica. Esse novo tipo de cristão pretende ter desenvolvido o superpoder de “filtrar” tudo o que assiste. Tais cristãos se tornaram uma coisa estranha, com um pé no mundo e outro na igreja; um tipo de ser mutante espiritual, um x-cristão.

(Ericson Danese, Azimute)

Referências:
[1] http://cinepop.com.br/stan-lee-revela-que-criou-x-men-como-historia-contra-a-intolerancia-073050292
[2] http://siterg.terra.com.br/?news_tags=x-men
[3] http://cinepop.com.br/stan-lee-revela-que-criou-x-men-como-historia-contra-a-intolerancia-073050292
[4] http://omelete.uol.com.br/x-men/quadrinhos/x-men-edicao-com-casamento-gay-chega-ao-brasil/#.U5r0JF7v1Ud
[5] http://jovem.ig.com.br/oscuecas/noticia/2011/06/09/roteirista+de+x+men+primeira+classe+admite+referencias+ao+universo+gay+10437423.html