Quem são os fundamentalistas? |
Em
uma homília na missa deste sábado (2), o papa Francisco destacou a importância
de não ser um “fundamentalista”, mas sim se preocupar com o povo. Ele
destacou o exemplo do jesuíta São Pedro Fabro, dizendo que ama seu estilo de
vida “porque ele pode escolher entre fechar-se no fundamentalismo, em ideias únicas, sem correr nenhum
risco, mas escolheu ficar com as pessoas, de ficar com que tinha um pensamento
longe do dele e de fazê-lo de acordo com um espírito de discernimento”. São
Pedro Fabro foi, ao lado de Santo Inácio de Loyola, um dos fundadores da
Companhia de Jesus. Eles fundaram a congregação que ia junto com os europeus
quando estes descobriram as terras do Novo Mundo. Os jesuítas levaram o
cristianismo a outros povos e Fabro foi declarado santo por Francisco no ano
passado. A missa teve a presença de jovens jesuítas, que elogiaram a postura do
Pontífice, que pediu para que todos se abraçassem no local. “Ele tem
sobriedade, simplicidade e um modo muito concreto de se colocar, de ficar ao
nosso lado. Tive, em alguns momentos, a sensação de dividir algo com um irmão,
um irmão mais velho”, disse Nicolo Mazza.
Nota:
Recentemente, outra matéria amplamente veiculada na mídia chamou a atenção dos
que estudam as profecias e as tendências atuais relacionadas às ações do papa e
do Vaticano. Trata-se das “Dez dicas do papa Francisco para a felicidade”. Dentre elas, quero destacar três:
5.
Domingos deveriam ser feriado. As pessoas não deveriam trabalhar aos domingos
porque “domingo é para a família”, disse o papa.
7.
Respeito e cuidado com a natureza. A degradação ambiental “é um dos maiores
desafios que temos”, disse também o papa. “Acredito que não estamos nos
perguntando: A Humanidade não está cometendo suicídio com esse uso tirânico e
indiscriminado da natureza?”
9.
Respeite a crença dos outros. “Podemos inspirar as pessoas por testemunho, mas
a pior coisa é o proselitismo religioso, que paralisa. A igreja cresce por
atração, não por proselitismo.”
Em
anos recentes, o termo “fundamentalista” vem sendo mais e mais aplicado àqueles
que defendem a literalidade dos primeiros capítulos de Gênesis (trato disso aqui e aqui) e o criacionismo. Antes, a palavra era
praticamente só usada para se referir a terroristas; agora, os criacionistas
bíblicos também vêm sendo considerados “fundamentalistas”, embora nada tenham
que ver com aqueles que se matam e matam outros por causa de suas crenças. A
associação de uma coisa com a outra é, na verdade, bem perigosa e poderá causar
ainda mais confusão no futuro, à medida que a mídia e os acadêmicos hostilizam
os criacionistas e o papa, por sua vez, defende uma religião não proselitista e
critica os fundamentalistas.
No
livro Teologia e Ciências Naturais,
da editora católica Paulinas, é dito, na página 239, que “o criacionismo não
consiste na sobrevivência de uma cosmovisão pré-científica; ao contrário,
trata-se de um fenômeno moderno, ligado primariamente aos adventistas e ao
fundamentalismo cristão norte-americano”. E, na página 241, repetem: “Uma das
denominações mais importantes no desenvolvimento do criacionismo foi (e ainda
é) a Igreja Adventista do Sétimo Dia”. Mas o livro vai mais longe, ao informar
(corretamente), que “a história do criacionismo no Brasil está fortemente
vinculada à Igreja Adventista do Sétimo Dia. A primeira obra brasileira que
tratou do criacionismo foi publicada em 1919; seu autor, Guilherme Stein Jr.
(1871-1957), foi o primeiro adventista brasileiro [na verdade, o primeiro
adventista batizado no Brasil]” (p. 245). Na página 246, o livro chega a listar
os considerados criacionistas mais importantes do Brasil, nesta ordem: o
jornalista Michelson Borges (ora, vejam...), os membros no Núcleo de Estudos
das Origens (como a bióloga Márcia Oliveira de Paula e o físico Urias
Takatohi), o biólogo Roberto Azevedo, o arqueólogo Rodrigo Silva, o geólogo
Nahor de Souza Jr. e os físicos Adauto Lourenço (este presbiteriano) e Eduardo
Lutz. Há, claro, menção especial ao engenheiro Ruy Vieira, fundador e
presidente da Sociedade Criacionista Brasileira, e a Christiano da Silva Neto,
fundador da Associação Brasileira de Pesquisa da Criação. Bem, aí estão alguns
dos “fundamentalistas” brasileiros e a principal igreja “fundamentalista”.
A
sétima e a nona dicas do papa para a felicidade (e quem não quer ser feliz?)
têm relação com o meio ambiente (e essa é uma linha argumentativa usada pelo
papa para defender o domingo [confira aqui]) e com o proselitismo. Na visão do papa, estão errados aqueles que procuram
convencer os outros por meio de uma pregação mais direta, como forma de
responder ao “ide” de Mateus 28:19. E aqui, uma vez mais, os adventistas também
se destacam. E a dica nº 5 vai ao ponto: o domingo deve ser o dia de descanso.
Então por que esses adventistas “fundamentalistas proselitistas” insistem no
sábado bíblico? A polarização aumenta... [MB]