segunda-feira, dezembro 01, 2014

Aumento da Aids entre jovens é de mais de 50% em 6 anos

Situação preocupante
[Hoje] é o Dia Mundial de Luta Contra a Aids, uma doença que infelizmente ainda precisa ser lembrada. O doutor Dráuzio Varella explica por que a Aids voltou a assustar e preocupar: “Houve um aumento absurdo dos casos de Aids entre os jovens nos últimos anos. Nesse sentido, o Brasil vai na contramão do que acontece em outras partes do mundo”, afirma. O aumento é de mais de 50% em seis anos. “O principal motivo é o comportamento sexual dos jovens. Acham que hoje ninguém mais morre de Aids, que se pegar o vírus é só tomar remédio e está tudo bem. Está tudo bem, não. É uma doença grave. Vai ter que tomar remédio a vida inteira. A Aids é uma doença grave, que causa sofrimento e não tem cura”, alerta.

“Quando eu saio à noite eu quero me divertir, me alegrar, distrair a mente um pouco”, conta um jovem. Sábado à noite, Ivan, Guilherme e Edson saem para a balada. A cena é comum em qualquer cidade do Brasil e do mundo. Ruas, bares e boates lotadas de jovens. “Noitada perfeita é isso: bebida, amigos e mulher”, diz um jovem. “Curtir, beijar na boca”, conta outro jovem. “Conhecer alguém e ficar”, afirma outro jovem. “É, hoje eu espero que tenha muita azaração, beijo na boca. Isso”, diz Ivan. Ivan, Guilherme, Edson. Olhando para eles, você conseguiria dizer quem é portador do HIV?

“Eu sou soropositivo e descobri que tenho HIV com 23 anos. Eu tinha um relacionamento. A gente morava junto e tal. Ele sentou no sofá comigo e falou: ‘Olha, eu fiz o exame e o exame deu positivo.’ Eu perguntei qual era o exame. Ele falou para mim: ‘Fiz o exame de HIV’”, lembra.

Mesmo estando em um relacionamento estável, Ivan contraiu o vírus da Aids. Foi contaminado pela pessoa em quem mais confiava. “Hoje eu tenho certeza de que a Aids não tem cara. Certeza absoluta”, conta.

Ivan faz parte de uma estatística preocupante. “A taxa de detecção de Aids entre jovens de 15 a 24 anos vem crescendo em uma velocidade bem maior que a da população em geral”, diz Jarbas Barbosa, secretário de Vigilância e Saúde do Ministério da Saúde. Desde 2006, os casos de Aids nos jovens entre 15 e 24 anos aumentaram mais de 50%, o que quer dizer mais jovens soropositivos. No resto do mundo, o número de novos casos de HIV entre os jovens caiu 32% em uma década. Por que estamos indo na contramão?

“A gente não deixa de transar porque não tem camisinha”, conta um jovem. “A rapaziada de hoje em dia, não pensa muito nisso”, diz outro jovem.

Hoje é possível saber em menos de 20 minutos se você está ou não infectado com o HIV. Um teste rápido, que pode ser feito de graça na rede pública de saúde, disponível para qualquer um. Não precisa marcar hora: é chegar e fazer.

Rafaela transou sem camisinha, há um mês, e agora veio se testar. “Estava solteira, acabei conhecendo pela internet, a gente se envolveu. Fui na casa dele, chegou lá, não tinha, desprevenido. Acabou acontecendo. No dia seguinte fiquei naquela neurose; estou aqui hoje para fazer o teste”, diz Rafaela Pessoa de Araújo, de 19 anos.

Rafaela tem motivo para se preocupar. Ela já viu de perto como é viver com o HIV. “Minha mãe faleceu. Ela era portadora do vírus. Ela tinha muito cuidado para não contaminar os filhos. Cuidado redobrado”, conta. Mesmo vendo o sofrimento da mãe, ela se descuidou. A médica traz o resultado: “Você não tem o vírus do HIV. Como você está se sentindo?”, pergunta. “Aliviada. Acho que vai me conscientizar mais a me cuidar, a ter a postura de levar a camisinha”, responde.

Ela teve sorte dessa vez. Uma segunda chance que nem todo mundo tem. Na última década, 34 mil jovens contraíram o vírus da Aids. Basta um deslize, uma única vez sem preservativo para se contaminar. [...]

Ivan toma os medicamentos do coquetel diariamente. “Eu tomo seis comprimidos, de 12 em 12 horas. Tomo há três anos, todos os dias”, conta. Além da obrigação de ter que tomar esse monte de remédios todos os dias para o resto da vida, os pacientes também sofrem efeitos colaterais. “Meu primeiro efeito colateral foi tontura, a náusea e, no caso, eu na hora de dormir tinha muito pesadelo. Eu tenho essa percepção de que eu preciso da medicação para viver. Mas eu posso parar de tomar a medicação agora e daqui a um mês, dois meses, uma semana, eu cair doente dentro de um hospital”, diz. Um em cada cinco jovens não aguenta essa rotina e abandona o tratamento.

Marvin Jerônimo Teixeira: “Eu descobri que estava doente ano passado.” Drauzio Varella: “Você tratou e parou no meio do tratamento?” Marvin: “Isso. Tinha dia que eu tomava, tinha dia que eu não tomava. Eu achava que um dia não vai me matar. Ficar um dia sem tomar meu remédio.” A Aids se desenvolveu. Resultado? “Eu estou perdendo a visão”, conta Marvin. “A visão dele tem sido afetada por um vírus chamado citomegalovírus. Esse citomegalovírus destrói a retina. Vai ficar cego do olho direito e nós estamos tentando salvar o olho esquerdo”, explica o médico.

Marvin era pintor de paredes. Sem a visão, não tem mais como trabalhar. “Eu achava que eu não ia pegar isso, que não ia chegar a encontrar isso”, conta. Como ele, um terço dos jovens diz não usar preservativo quase nunca ou nunca, de acordo com uma pesquisa da Unifesp. “Eu achava que era de homossexuais”, afirma Marvin.

“O que tem nos preocupado muito é que uma grande quantidade de meninos de 20, 21, 22 anos estão comparecendo ao nosso hospital já com Aids avançada e com doenças graves”, diz o doutor Fernando Ferry. “Entre os jovens de 15 a 24 ela vem crescendo, principalmente entre os jovens do sexo masculino. É um crescimento importante. Em uma década cresceu praticamente 68%”, diz Jarbas Barbosa, secretário de Vigilância e Saúde do Ministério da Saúde.

Na população geral, quatro em cada mil pessoas são portadoras do HIV. Mas entre os jovens gays, esse número é 20 vezes maior: 100 em cada 1.000. Hoje, 150 mil pessoas no Brasil não sabem que têm a doença. [...]

Depois de um mês internado, Marvin volta para casa. Sem a visão; os pincéis e a tinta agora são apenas uma lembrança da profissão que teve desde menino. “Sem a visão vai ser difícil. Não sei o que eu vou fazer. Eu só acho que eu estou muito novo para morrer agora. Uma coisa eu sei: eu não desejo o que eu estou passando para ninguém, não. Peço que as pessoas se cuidem melhor, pensem direitinho. Se eu soubesse que ia ficar assim, eu tinha me prevenido. Tinha me cuidado, usado preservativos. Cuidado melhor de mim”, lamenta Marvin.

(Globo.com, Fantástico)

Nota: Quando as autoridades, o governo e setores da mídia vão perceber que não dá para glamourizar a vida libertina, o sexo sem compromisso e, ao mesmo tempo, impedir o aumento das DSTs? Quando vão ser honestos e admitir que o preservativo não é proteção absoluta contra essas doenças (o HPV, por exemplo, que mata muitas mulheres todos os anos, é pego simplesmente no contato da pele da região genital). Além disso, há os fatores psicológicos do envolvimento com muitos parceiros sexuais ou “ficantes” (leia mais aqui). E não existe preservativo para o cérebro; proteção contra os maus sentimentos que advêm de um relacionamento sem compromisso e amor (leia aqui). A única proteção contra as DSTs e o desconforto emocional (com consequências que podem durar a vida toda) consiste em praticar sexo heterossexual com uma única pessoa a vida toda, numa relação de compromisso e amor chamada casamento. [MB]