segunda-feira, dezembro 08, 2014

O segredo da cidade onde se vive dez anos mais e melhor

Longevidade com saúde
População de Loma Linda, na Califórnia, se beneficia de estilo de vida saudável de fieis adventistas que veem o corpo como “templo do Espírito Santo”

Em meio a uma paisagem urbana cercada por fast foods e lojas de conveniência, uma cidade na Califórnia conseguiu manter bons hábitos alimentares e alcançar uma expectativa de vida dez anos mais alta que a média dos Estados Unidos. Estudos mostraram que os habitantes de Loma Linda vivem até dez anos a mais do que a média dos americanos (79 anos) e chegam à idade avançada com uma saúde melhor. É um fenômeno notável em um mundo onde o custo da crise de obesidade é reconhecido como sendo tão prejudicial quanto o de fumar ou dos conflitos armados. A longevidade tem ligação com a religião da comunidade. Os adeptos da Igreja Adventista do Sétimo Dia compõem cerca de metade dos 24 mil habitantes do local. É uma comunidade cristã evangélica que segue diretrizes rigorosas sobre alimentação, exercício e descanso.

“Os dados são claros. Foram publicados e revisados”, diz Wayne Dysinger, presidente do Departamento de Medicina Preventiva da Escola de Medicina da Universidade de Loma Linda. “Não há muita dúvida de que as pessoas que seguem esse estilo de vida vivem mais tempo.”

Loma Linda - em espanhol, “colina linda” - fica 100 km a leste de Los Angeles. É conhecida como a meca da vida saudável há décadas. A cidade foi adotada pelos fundadores da Igreja Adventista do Sétimo Dia, que na virada do século 20 compraram uma propriedade na área. Ellen White, uma das líderes e pioneiras da Igreja, afirmou que se encantou com o charme do lugar. Pequena e com uma personalidade forte, ela inspirou os ensinamentos da Igreja sobre questões de dieta, exercício e estilo de vida. White alegava que suas crenças eram baseadas em experiências visionárias - sonhos e conversas com Deus. “Ela classificou o tabaco como um veneno maligno e lento em 1864”, diz Richard Schaefer, historiador da biblioteca da universidade. Isso foi cem anos antes de a autoridade de saúde pública americana abordar o tema.

White, que tinha pouca educação formal, disse que o álcool danifica o cérebro. Ela também escreveu sobre os perigos de consumir muito sal. “Os motivos disso eu não sei, mas repasso a vocês as instruções que me foram dadas”, disse a pioneira, parafraseada por Schaefer.

Os adventistas creem que sua longevidade esteja ligada ao respeito pelo corpo humano como um templo do Espírito Santo. “Vocês têm o dever de reservar esse templo para o serviço de Deus, porque Ele nos fez”, explica o pastor aposentado Belgrove Josiah. “Por causa desse princípio, estamos muito preocupados com o que colocamos em nosso corpo. Não descartamos a ciência médica no geral, porque ela está muito relacionada com nos guiar sobre como tratamos nosso corpo”, acrescenta Josiah.

O modo de vida adventista envolve uma dieta principalmente à base de vegetais, exercício regular e um compromisso com a celebração do sábado como o dia de descanso.

Um estudo de longo prazo que começou em 1976, envolvendo 34 mil membros da igreja, concluiu que seu estilo de vida acrescentava um número significativo de anos para a média de vida. Os pesquisadores identificaram “surpreendentes” efeitos protetores de uma dieta vegetariana. “Quando olhamos apenas para a mortalidade, os adventistas parecem morrer das mesmas doenças, mas eles morrem muito mais velhos”, diz Larry Beeson, professor de epidemiologia da Universidade de Loma Linda.

Beeson participa de pesquisas sobre adventistas por mais de 50 anos. Ele argumenta que a boa saúde não se deve apenas à dieta. Para ele, o que ocorre é uma mistura complexa de religiosidade, espiritualidade e compreensão de uma pessoa de sua crença em Deus, combinado com outros componentes do estilo de vida, como exercícios e apoio social.

Betty Streifling, por exemplo, tem 101 anos e ainda levanta pesos na academia de sua casa de repouso. Streifling vive em seu próprio apartamento, uma casa aconchegante, cheia de recordações familiares e móveis feitos por seu falecido marido. Ela frequenta uma aula de exercícios cinco dias por semana e faz um passeio matinal na rua. Ela atribui sua longevidade a “viver uma vida pura, sem álcool, sem tabaco, ir para a cama cedo, louvando a Deus por sua bondade e pela bênção da vida”.

É possível comprar um hambúrguer e batatas fritas em Loma Linda, mas no ano passado a prefeitura proibiu o funcionamento de novos “restaurantes de fast food com drive-through”. O movimento foi pensado para “proteger a saúde pública, a segurança e o bem-estar de seus moradores.

Existem mercados de agricultores e lojas de alimentos saudáveis fazendo sucesso com nozes e vegetais.

O estilo de vida de Loma Linda parece dar uma receita promissora para o bem-estar. Não é para todos, e a maioria dos adventistas reconhece que há diferentes graus de observância às diretrizes alimentares e sociais definidas pela igreja. Mas há pouca dúvida de que essa comunidade pode esperar viver muito mais tempo do que a maioria das outras pessoas.


Nota: Que os adventistas espalhados pelo mundo, especialmente os da maior comunidade adventista do planeta (Brasil), se espelhem no exemplo dos irmãos de Loma Linda e possam dar um bonito testemunho de “vida abundante”, como eles têm dado. A propósito, a matéria de capa da revista Vida e Saúde de janeiro trata do tema longevidade (clique aqui). [MB]

Se O ouvirem e O servirem, acabarão seus dias em bem, e os seus anos em delícias. Jó 36:11