segunda-feira, janeiro 04, 2016

Bíblia de Estudo Andrews e a polêmica desnecessária

No fim do ano passado, chegou a notícia de que a tão aguardada Bíblia com os comentários dos professores da Andrews University finalmente tinha sido traduzida e editada em uma parceria entre Casa Publicadora Brasileira (CPB) e Sociedade Bíblica do Brasil (SBB). Vou ser bem sincero: fazia muito tempo que um lançamento não aguçava meus neurônios e fiquei com uma vontade enorme de colocar minhas mãos, meus olhos, mente e espírito nela e degustar cada palavra dessa Bíblia. Fiz minha encomenda e, finalmente, ela chegou. A Bíblia Andrews tem um valor alto, eu sei, mas eu esperava que cada centavo investido valesse a pena. Pois bem, dezembro passou e comecei pelo fim: pelo livro de Apocalipse. Cada comentário, cada versículo foi anotado e sublinhado com duas cores, como é meu costume. Quando terminei o livro, percebi que cada centavo investido tinha realmente valido a pena, mas a alegria se transformou em preocupação com as informações distorcidas que encontrei nas redes sociais. Um pastor de influência simplesmente colocou “em cheque” todo um estudo dirigido por dezenas de teólogos, entre eles o Dr. Jon Paulien, uma das maiores autoridade em Apocalipse da atualidade, e o grande evangelista pastor Mark Finley, também um estudioso do Apocalipse. [Clique aqui para saber mais sobre essa polêmica.]

O principal ponto de controversa é o comentário da página 1.666: “‘Golpeada de Morte’: Literalmente ‘ferida de morte’, uma alusão à cruz (v. 8).” Pois bem, esse pastor polemista, juntamente com seus seguidores, começou a criticar o fato de não aparecer no comentário a versão tradicional da IASD, segundo a qual essa ferida teria sido causada por Napoleão e suas tropas, em 1798.

Qualquer Bíblia comentada deve ter suas notas extremamente resumidas, caso contrário o tamanho e o valor do livro tornariam o projeto inviável. A Igreja Adventista, além dessa Bíblia, está dando andamento a dois comentários bíblicos, tendo alguns brasileiros como colaboradores, entre eles o Dr. Wilson Paroschi, professor de Teologia do Unasp.

Outro ponto a ser analisado é que o fato de não ter sido citada não muda em nada a visão tradicional da Igreja, sem falar que a própria Ellen White coloca as tropas de Napoleão em uma visão escatológica, em seu livro O Grande Conflito. Mas vale ressaltar como deve ser a leitura do comentário. Ele é linear; sua leitura não pode ser pontual; deve-se começar do início até o fim. Aí surge a falha desse pastor polemista que, no meu entender, foi muito infeliz em seu comentário. Além de ser linear, em cada inicio de sessão, não necessariamente de capítulo, existe um paragrafo grande com um resumo do que vai ser abordado nos versículos seguintes. Mas onde aparece o comentário grande da sessão, na observação desse pastor? Simplesmente não há. Peço licença à CPB para colocar a sessão inteira, para que você tire sua própria conclusão:

13:1-18 [aqui será resumida toda a sessão do v. 1 até o v.18): Esta passagem acrescenta detalhes ao cap. 12 [ou seja, é uma continuação do capítulo anterior; sugiro que você compre a Bíblia e leia a sessão anterior também], sobretudo em relação à guerra do tempo do fim (de 12:17). Neste capítulo, o dragão reúne dois de seus aliados para o conflito final. Com o dragão, a besta do mar (uma aparente paródia de Cristo) e a besta da terra (uma aparente paródia do Espírito Santo) sugerem uma falsa trindade (16:13, 14) em conspiração para enganar o mundo.

Ao aprofundarmos o estudo do Apocalipse, Satanás se coloca como o pai, dá autoridade a Roma que passa a usurpar a posição de Cristo, ao perdoar pecados e oferecer sacrifícios (eucaristias), e se coloca como deus aqui na Terra; o mesmo dragão também dá autoridade à Besta da terra que faz grandes prodígios que até mesmo fogo do céu faz descer. É sobre isso que trata o polêmico texto em questão: “Golpeada de Morte’: Literalmente ‘ferida de morte’, uma alusão à cruz (v. 8).” Só que tem um v.8, que significa verso 8, que quer dizer que o autor está dizendo ver verso 8. Vamos ver o que fala o verso 8?

“13:8-10. Os verbos mudam para os tempos presente e futuro. A besta curada, que volta à vida, é central para os últimos acontecimentos.”

A parte alusiva à cruz é que a contrafação da besta do mar é tão grande que essa ferida de morte é quase como uma ressureição, assim como foi a de Cristo, e o interessante é que o verso 3 fala que “toda a terra se maravilhou, seguindo a besta”. O fato de se colocar a ferida de morte como uma parte alusiva ou contrafeita do sacrifício de Cristo só ressalta a visão do Grande Conflito; só soma com a visão tradicional; só amplia o significado e nos deixa um convite maior para estudar esse livro tão maravilhoso, o qual todos os adventistas devem ler, não apenas uma vez, mas tantas vezes quanto for possível, porque o que está escrito nele nunca foi tão atual como ultimamente. Nunca o Grande Conflito esteve tão evidente, e me deixa triste ver Satanás usando pessoas para trazer desunião e confusão. Ver críticas e polêmicas de pessoas que já começam a falar que não vão comprar por causa dos comentários de outros. Ver acreditando em boatos pessoas que poderiam ser abençoadas por esse material preparado com tanto esforço e tanta oração.

Deus tem um propósito em sua vida, e Ele quer falar com você. Não é apenas o comentário que vai fazer com que você entenda os segredos que há nesse livro maravilhoso, a Bíblia, mas sim o próprio Espírito Santo. Tenho por certo que ao utilizar esse material você não apenas será encorajado a querer ler a Bíblia todos os dias, mas também vai desejar se aprofundar e estudar com oração e com a iluminação do Espírito Santo.

(Jonathan Gordim Conceição é teólogo e publicitário, pós-graduando em Missiologia pelo Unasp-EC e mestrando em Comunicação Social pela Umesp)

Nota 1: Quem quiser ter uma Bíblia de estudos e não comprar a Andrews com base na boataria, pode se sentir à vontade para adquirir outras Bíblias de estudo. Há várias no mercado. Mas vai se deparar com comentários heréticos sobre a guarda do domingo, a imortalidade da alma, o inferno eterno, etc. [MB]

Nota 2: Além do pastor aposentado polemista mencionado no texto acima, outro que fez críticas à Bíblia Andrews foi o organizador do Congresso MV, Daniel Silveira. Note o que a psicóloga e colunista do portal adventista da Divisão Sul-Americana Karyne Correia Lira postou no Facebook dela: “Há alguns dias o irmão Daniel Silveira postou várias mensagens de crítica à Bíblia de Estudo Andrews. Esse mesmo irmão costuma fazer várias críticas a muitas outras iniciativas da IASD. Eu me manifestei em um de seus posts de crítica à Bíblia de Estudo, pois acho que é justo que as pessoas que se escandalizam com o que ele escreve possam ter acesso a uma segunda opinião sobre o assunto. O irmão Daniel apagou meu comentário. Voltei lá e insisti, questionando a conduta dele de apagar. Ele me disse então que eu me manifestasse aqui [no Face dela] e não lá (por isso o faço por aqui). Por isso, convido meus amigos a tomarem cuidado com esses posts imprudentes de críticas, que geram alvoroço e omitem boa parte da realidade. Quem quiser entender como foi feita a Bíblia de Estudo citada aqui, leia o que o pastor Vanderlei Dorneles, editor da CPB, escreveu esclarecendo o assunto e tire suas conclusões! [Leia aqui] Meus amigos, não saiam por aí se escandalizando com essas críticas, muito menos as reproduzindo, sem antes buscar conhecer melhor o assunto. Existe muita coisa errada em Israel, sim. Sempre houve, em todas as épocas, e hoje não é diferente. Mas isso não significa que devemos sair fazendo críticas sem critério e inteligência. Isso tira totalmente a credibilidade do nosso discurso! Critiquemos, sim, aquilo que de fato requer nossa manifestação. Da mesma forma que devemos chamar o pecado pelo nome, devemos ser prudentes ao criticar. E uma vez que critiquemos, devemos estar dispostos a receber críticas também. “Aquele que toma sobre si a tarefa de julgar e criticar outros, coloca-se em posição de receber crítica e julgamento na mesma medida. [...]” (LC 92.2).

“Mais uma vez, repito que este post foi escrito sob orientação do irmão Daniel, que não tolerou meus comentários discordando da crítica dele, os apagou, e disse que eu me manifestasse em minha própria timeline. E preocupada com os amigos que se escandalizam ao ler essas coisas, me manifesto aqui, sim, e espero em Deus que essas fagulhas lançadas nas redes sociais não se tornem em focos desnecessários de incêndio.”

Nota 3: Curiosamente, nesta semana recebi também uma mensagem inbox de um amigo e grande estudioso das Escrituras (cujo nome vou manter anônimo). Ele igualmente mencionou preocupações com a liderança do tal Congresso MV: “Prezado Michelson, gostaria de agradecer-lhe pelo alerta que me fez em abril do ano passado, referente à liderança do Congresso MV. Suas palavras me fizeram acompanhar mais de perto o trabalho, as ideias e os escritos do seu coordenador geral, Daniel Silveira, com quem tive longas e improdutivas conversas, exortando-o em relação a posturas agressivas e de enfrentamento direcionadas à organização adventista. Depois de várias tentativas, não tive outra escolha: solicitei que fosse removido meu nome da lista de palestrantes do congresso. Estivemos na segunda edição, em novembro de 2014, apenas como ouvintes, e pude ver o potencial desse projeto no sentido espiritual e de auxílio à IASD. Uma pena que seja manchado pelo comportamento de seus líderes; pena ainda maior é notar a quantidade de irmãos que seguem os ensinos e posturas desse rapaz sem a devida reflexão. Agradeço mais uma vez, tenho plena convicção de que o Senhor o usou. Grande abraço!”

Nota 4: Comentário de Filipe Reis, de Portugal: “Nos últimos dias, li bastante e comentei brevemente acerca do muito que foi dito sobre o fato de a Bíblia Andrews ter como editor alguém que escreveu um livro cujo conteúdo é, reconheçamos, muito perturbador [e por isso foi retirado de circulação]. Por esse fato - e o fato é que um e apenas um dos nomes que contribuíram para esse trabalho é que foi sugerido como motivo de objeção - foram levantadas sérias reservas acerca da obra. Então, surgiu-me a pergunta: Em doze discípulos, um e apenas um se mostrou totalmente desqualificado para a tarefa; seria essa razão suficiente para não querer fazer parte daquele grupo...?”

Nota 5: “Deus investiu Sua Igreja de especial autoridade e poder que ninguém tem razão em desrespeitar e desprezar, pois ao proceder assim está desprezando a voz de Deus” (Ellen White, Testimonies, v. 3, p. 417).Digo-vos, meus irmãos, que o Senhor tem um corpo organizado por cujo intermédio Ele irá operar. [...] Quando alguém se afasta do corpo organizado do povo que observa os mandamentos de Deus, quando começa a pesar a Igreja em suas balanças humanas e a acusá-la, podeis saber que Deus não o está dirigindo. Ele se encontra no caminho errado” (Ellen White, Mensagens Escolhidas, v. 3, p. 17, 18).