No
fim do ano passado, chegou a notícia de que a tão aguardada Bíblia com os
comentários dos professores da Andrews University finalmente tinha sido
traduzida e editada em uma parceria entre Casa Publicadora Brasileira (CPB) e
Sociedade Bíblica do Brasil (SBB). Vou ser bem sincero: fazia muito tempo que
um lançamento não aguçava meus neurônios e fiquei com uma vontade enorme de
colocar minhas mãos, meus olhos, mente e espírito nela e degustar cada palavra
dessa Bíblia. Fiz minha encomenda e, finalmente, ela chegou. A Bíblia Andrews tem
um valor alto, eu sei, mas eu esperava que cada centavo investido valesse a
pena. Pois bem, dezembro passou e comecei pelo fim: pelo livro de Apocalipse. Cada
comentário, cada versículo foi anotado e sublinhado com duas cores, como é meu
costume. Quando terminei o livro, percebi que cada centavo investido tinha realmente valido a pena, mas a alegria
se transformou em preocupação com as informações distorcidas que encontrei nas
redes sociais. Um pastor de influência simplesmente colocou “em cheque” todo um
estudo dirigido por dezenas de teólogos, entre eles o Dr. Jon Paulien, uma das
maiores autoridade em Apocalipse da atualidade, e o grande evangelista pastor
Mark Finley, também um estudioso do Apocalipse. [Clique aqui para saber mais
sobre essa polêmica.]
O
principal ponto de controversa é o comentário da página 1.666: “‘Golpeada de
Morte’: Literalmente ‘ferida de morte’, uma alusão à cruz (v. 8).” Pois bem,
esse pastor polemista, juntamente com seus seguidores, começou a criticar o
fato de não aparecer no comentário a versão tradicional da IASD, segundo a qual
essa ferida teria sido causada por Napoleão e suas tropas, em 1798.
Qualquer
Bíblia comentada deve ter suas notas extremamente resumidas, caso contrário o
tamanho e o valor do livro tornariam o projeto inviável. A Igreja Adventista,
além dessa Bíblia, está dando andamento a dois comentários bíblicos, tendo
alguns brasileiros como colaboradores, entre eles o Dr. Wilson Paroschi,
professor de Teologia do Unasp.
Outro
ponto a ser analisado é que o fato de não ter sido citada não muda em nada a
visão tradicional da Igreja, sem falar que a própria Ellen White coloca as
tropas de Napoleão em uma visão escatológica, em seu livro O Grande Conflito. Mas vale ressaltar como deve ser a leitura do
comentário. Ele é linear; sua leitura não pode ser pontual; deve-se começar do
início até o fim. Aí surge a falha desse pastor polemista que, no meu entender,
foi muito infeliz em seu comentário. Além de ser linear, em cada inicio de
sessão, não necessariamente de capítulo, existe um paragrafo grande com um
resumo do que vai ser abordado nos versículos seguintes. Mas onde aparece o
comentário grande da sessão, na observação desse pastor? Simplesmente não há.
Peço licença à CPB para colocar a sessão inteira, para que você tire sua própria
conclusão:
13:1-18
[aqui será resumida toda a sessão do v. 1 até o v.18): Esta passagem acrescenta
detalhes ao cap. 12 [ou seja, é uma continuação do capítulo anterior; sugiro
que você compre a Bíblia e leia a sessão anterior também], sobretudo em relação
à guerra do tempo do fim (de 12:17). Neste capítulo, o dragão reúne dois de
seus aliados para o conflito final. Com o dragão, a besta do mar (uma aparente
paródia de Cristo) e a besta da terra (uma aparente paródia do Espírito Santo)
sugerem uma falsa trindade (16:13, 14) em conspiração para enganar o mundo.
Ao
aprofundarmos o estudo do Apocalipse, Satanás se coloca como o pai, dá
autoridade a Roma que passa a usurpar a posição de Cristo, ao perdoar pecados e
oferecer sacrifícios (eucaristias), e se coloca como deus aqui na Terra; o
mesmo dragão também dá autoridade à Besta da terra que faz grandes prodígios
que até mesmo fogo do céu faz descer. É sobre isso que trata o polêmico texto
em questão: “Golpeada de Morte’: Literalmente ‘ferida de morte’, uma alusão à
cruz (v. 8).” Só que tem um v.8, que significa verso 8, que quer dizer que o
autor está dizendo ver verso 8. Vamos
ver o que fala o verso 8?
“13:8-10.
Os verbos mudam para os tempos presente e futuro. A besta curada, que volta à
vida, é central para os últimos acontecimentos.”
A
parte alusiva à cruz é que a contrafação da besta do mar é tão grande que essa
ferida de morte é quase como uma ressureição, assim como foi a de Cristo, e o
interessante é que o verso 3 fala que “toda a terra se maravilhou, seguindo a
besta”. O fato de se colocar a ferida de morte como uma parte alusiva ou
contrafeita do sacrifício de Cristo só ressalta a visão do Grande Conflito; só
soma com a visão tradicional; só amplia o significado e nos deixa um convite
maior para estudar esse livro tão maravilhoso, o qual todos os adventistas devem
ler, não apenas uma vez, mas tantas vezes quanto for possível, porque o que
está escrito nele nunca foi tão atual como ultimamente. Nunca o Grande Conflito
esteve tão evidente, e me deixa triste ver Satanás usando pessoas para trazer
desunião e confusão. Ver críticas e polêmicas de pessoas que já começam a falar
que não vão comprar por causa dos comentários de outros. Ver acreditando em
boatos pessoas que poderiam ser abençoadas por esse material preparado com
tanto esforço e tanta oração.
Deus
tem um propósito em sua vida, e Ele quer falar com você. Não é apenas o
comentário que vai fazer com que você entenda os segredos que há nesse livro
maravilhoso, a Bíblia, mas sim o próprio Espírito Santo. Tenho por certo que ao
utilizar esse material você não apenas será encorajado a querer ler a Bíblia
todos os dias, mas também vai desejar se aprofundar e estudar com oração e com
a iluminação do Espírito Santo.
(Jonathan Gordim Conceição é teólogo e publicitário,
pós-graduando em Missiologia pelo Unasp-EC e mestrando em Comunicação Social
pela Umesp)
Nota 1: Quem quiser ter uma Bíblia de estudos e
não comprar a Andrews com base na boataria, pode se sentir à vontade para
adquirir outras Bíblias de estudo. Há várias no mercado. Mas vai se deparar com
comentários heréticos sobre a guarda do domingo, a imortalidade da alma, o
inferno eterno, etc. [MB]
Nota 2: Além do pastor aposentado polemista
mencionado no texto acima, outro que fez críticas à Bíblia Andrews foi o organizador
do Congresso MV, Daniel Silveira. Note o que a psicóloga e colunista do
portal adventista da Divisão Sul-Americana Karyne Correia Lira postou no
Facebook dela: “Há alguns dias o irmão Daniel
Silveira postou várias mensagens de crítica à Bíblia de Estudo Andrews. Esse
mesmo irmão costuma fazer várias críticas a muitas outras iniciativas da IASD.
Eu me manifestei em um de seus posts
de crítica à Bíblia de Estudo, pois acho que é justo que as pessoas que se
escandalizam com o que ele escreve possam ter acesso a uma
segunda opinião sobre o assunto. O irmão Daniel apagou meu comentário. Voltei
lá e insisti, questionando a conduta dele de apagar. Ele me disse então que eu
me manifestasse aqui [no Face dela] e não lá (por isso o faço por aqui). Por isso,
convido meus amigos a tomarem cuidado com esses posts imprudentes de críticas, que geram alvoroço e omitem boa
parte da realidade. Quem quiser entender
como foi feita a Bíblia de Estudo citada aqui, leia o que o pastor Vanderlei
Dorneles, editor da CPB, escreveu esclarecendo o assunto e tire suas
conclusões! [Leia aqui] Meus amigos, não saiam por aí se
escandalizando com essas críticas, muito menos as reproduzindo, sem antes
buscar conhecer melhor o assunto. Existe muita coisa errada em Israel,
sim. Sempre houve, em todas as épocas, e hoje não é diferente. Mas isso não
significa que devemos sair fazendo críticas sem critério e inteligência. Isso
tira totalmente a credibilidade do nosso discurso! Critiquemos, sim, aquilo que
de fato requer nossa manifestação. Da mesma forma que devemos chamar o pecado
pelo nome, devemos ser prudentes ao criticar. E uma vez que critiquemos,
devemos estar dispostos a receber críticas também. “Aquele que toma sobre si a
tarefa de julgar e criticar outros, coloca-se em posição de receber crítica e
julgamento na mesma medida. [...]” (LC 92.2).
Nota 3: Curiosamente, nesta semana recebi também uma mensagem inbox de um amigo e grande estudioso das Escrituras (cujo nome vou manter anônimo). Ele igualmente mencionou preocupações com a liderança do tal Congresso MV: “Prezado Michelson, gostaria de agradecer-lhe pelo alerta que me fez em abril do ano passado, referente à liderança do Congresso MV. Suas palavras me fizeram acompanhar mais de perto o trabalho, as ideias e os escritos do seu coordenador geral, Daniel Silveira, com quem tive longas e improdutivas conversas, exortando-o em relação a posturas agressivas e de enfrentamento direcionadas à organização adventista. Depois de várias tentativas, não tive outra escolha: solicitei que fosse removido meu nome da lista de palestrantes do congresso. Estivemos na segunda edição, em novembro de 2014, apenas como ouvintes, e pude ver o potencial desse projeto no sentido espiritual e de auxílio à IASD. Uma pena que seja manchado pelo comportamento de seus líderes; pena ainda maior é notar a quantidade de irmãos que seguem os ensinos e posturas desse rapaz sem a devida reflexão. Agradeço mais uma vez, tenho plena convicção de que o Senhor o usou. Grande abraço!”
Nota 4: Comentário de Filipe Reis, de Portugal: “Nos últimos dias, li bastante e comentei brevemente acerca do muito que foi dito sobre o fato de a Bíblia Andrews ter como editor alguém que escreveu um livro cujo conteúdo é, reconheçamos, muito perturbador [e por isso foi retirado de circulação]. Por esse fato - e o fato é que um e apenas um dos nomes que contribuíram para esse trabalho é que foi sugerido como motivo de objeção - foram levantadas sérias reservas acerca da obra. Então, surgiu-me a pergunta: Em doze discípulos, um e apenas um se mostrou totalmente desqualificado para a tarefa; seria essa razão suficiente para não querer fazer parte daquele grupo...?”
Nota 5: “Deus investiu Sua Igreja de especial autoridade e poder que ninguém tem razão em desrespeitar e desprezar, pois ao proceder assim está desprezando a voz de Deus” (Ellen White, Testimonies, v. 3, p. 417). “Digo-vos, meus irmãos, que o Senhor tem um corpo organizado por cujo intermédio Ele irá operar. [...] Quando alguém se afasta do corpo organizado do povo que observa os mandamentos de Deus, quando começa a pesar a Igreja em suas balanças humanas e a acusá-la, podeis saber que Deus não o está dirigindo. Ele se encontra no caminho errado” (Ellen White, Mensagens Escolhidas, v. 3, p. 17, 18).