Há 40 anos, biólogos evolucionistas tentam responder a essa questão. Em geral, os pesquisadores giram em torno de duas hipóteses: assim como o masculino, o orgasmo das mulheres serviria para estimular o sexo e, portanto, a reprodução; e a outra linha diz que o orgasmo delas seria um subproduto do masculino. A mesma ideia que explica por que homens têm mamilos, que não servem para nada. Eles são tão importantes para as mulheres que a natureza “achou” melhor equipar a todos com eles, não houve pressão ecológica para que os mamilos não existissem nos dois sexos.
A pergunta é complexa. Para tentar mais uma vez clarear a dúvida, pesquisadores da Universidade de Queensland (Austrália) e Turku (Finlândia) realizaram uma pesquisa com 10 mil gêmeos e irmãos comuns. Se o orgasmo das mulheres for só um subproduto, eles acham que os mesmos genes estariam envolvidos na sensação em ambos os sexos. Se o resultado com irmãos mostrar que eles são mais parecidos entre si do que não parentes, a característica estudada tem grandes chances de estar relacionada aos mesmos genes.
Os pesquisadores tentaram medir o que chamaram de “orgasmabilidade”, que seria a suscetibilidade de sentir um orgasmo. O questionário perguntava aos homens sobre o momento do orgasmo e, a elas, a pergunta era sobre a frequência e facilidade com que tinham a sensação.
Os resultados mostraram que gêmeos idênticos do mesmo sexo tinham mais semelhança do que os não idênticos do mesmo sexo, o que evidenciaria o papel dos genes e a ideia de que é um subproduto masculino. No entanto, para contrariar essa hipótese, os pesquisadores viram que os gêmeos e irmãos de sexos opostos não tinham semelhanças na “orgasmabilidade”.
Esses resultados sugerem que os genes que influenciam o orgasmo em homens e mulheres são diferentes. A função e o caminho percorridos pelo orgasmo nos dois sexos, também. E a ideia do subproduto estaria errada. Apesar das evidências, quem defende a ideia do subproduto diz que a pesquisa deveria ter avaliado os critérios em homens e mulheres. O estudo não apresenta nenhum resultado conclusivo, só aprofunda o debate entre pesquisadores. A única certeza é que o orgasmo feminino é ainda uma questão complexa e misteriosa.
(Galileu)
Nota: Essa não é a única função que se mostra semelhante em seres diferentes, embora esteja relacionada com genes diferentes. Se seres diferentes – como homens e mulheres – tivessem ancestralidade comum, segundo teoriza o darwinismo, seria de se esperar que o mesmo gene influenciasse a mesma função. Mas não é o que parece ocorrer com respeito ao orgasmo no homem e na mulher. Pelo que sugere a pesquisa, o prazer advindo da relação sexual (conforme creem alguns, um “presentinho” adicional da evolução para aqueles/aquelas que se dão à difícil tarefa de conseguir um/uma parceiro/parceira e compartilhar genes com ele/ela) está relacionado com genes diferentes nos dois gêneros. Isso quer dizer que a mesma função complexa (e aparentemente supérflua no contexto da sobrevivência do mais apto) evoluiu em seres distintos. É mais ou menos como querer explicar a evolução do voo (com toda a sua complexidade) em seres tão distintos quanto os morcegos, os insetos e as aves. Os darwinistas bem que tentam, mas não convencem.[MB]
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