segunda-feira, setembro 12, 2011

O capitalismo beneficente e o exemplo da Superbom

Precisamos achar meios para aprimorar o capitalismo em vez de passarmos por mais uma revolução para substituí-lo, como, por exemplo, pelo socialismo soviético ou cubano que somente trouxeram problemas maiores: ditaduras. Além do fato de que a atual crise europeia nem é devida ao capitalismo, mas sim ao endividamento do Estado para custear seu welfare state. E a crise atual americana é devida ao superendividamento e ao downgrade do Estado americano. Nada a ver com a contradição do capitalismo. Mas como mudar o capitalismo como o conhecemos? De que forma?

O capitalismo se provou muito competente para produzir bens e serviços que os consumidores querem. Se houver um desejo insatisfeito no mercado, algum empreendedor irá se mexer para provê-lo. O que o capitalismo não sabe fazer ainda é produzir bens e serviços de que as pessoas precisam. Não há segredo em vender frango barato entupindo-o com Deus-sabe-o-quê ou vender morangos saborosos com mil e um agrotóxicos.

A indústria automobilística colocou airbags nos carros por determinação do governo americano, porque há dez anos o consumidor não queria. As TVs e os anunciantes se digladiam para mostrar o grotesco e o pornográfico, assuntos que o povo quer, mas de que necessariamente não precisa.

Alguns administradores, porém, estão lentamente mudando essa situação. Estão gastando tempo, recursos organizacionais e dinheiro em atividades beneficentes e filantrópicas simplesmente porque acreditam que as empresas precisam produzir também bens que a sociedade requer. Surge uma nova geração de administradores, os administradores socialmente responsáveis como Guilherme Leal, Fábio Barbosa, Ricardo Young, Sérgio Amoroso, Norberto Pascoal, entre outros, que estão gastando mais do que 5% do seu tempo, lucros e recursos organizacionais para oferecer o que eles acreditam que a sociedade precisa. Fazem parte de uma nova geração de administradores e empresários que está transformando um capitalismo de resultados em um capitalismo de benefícios.

Outro grupo de empreendimento vai além: devota 100% de suas energias, dinheiro e organização para produzir o que a sociedade precisa. São as entidades beneficentes que, ao longo destes anos, adquiriram competência e técnicas organizacionais que seriam de muita valia para as empresas.

Quão mais fácil seria, por exemplo, para os Alcoólatras Anônimos vender pinga a seus associados, do que a abstinência? Quão mais fácil seria colocar um outdoor vendendo bebida com mulheres sensuais do que angariar fundos filantrópicos? Quão mais fácil seria para a Igreja Católica ceder às pressões de mudança, oferecendo o que os fiéis querem, do que se manter leal aos seus dogmas e insistir em oferecer o que ela acha que os fiéis precisam, custe o que custar?

Conseguirão os empresários obter lucro ofertando o que o consumidor precisa? Conseguirão obter lucro vendendo frangos humanamente criados, sorvetes sem aditivos químicos e morangos sem agrotóxicos? Várias experiências mostram que sim.

A Superbom, empresa dirigida pela Igreja Adventista, consegue ser rentável apesar de produzir sucos dentro de processos naturalistas.

Tornar o capitalismo mais responsável já não parece uma tarefa impossível e existem vários grupos agindo nesse sentido sem ter que passar pelo traumático processo de derrubar o sistema vigente.

Recentemente, 50 entidades beneficentes receberam, merecidamente, o Prêmio Bem Eficiente pela sua competência, liderança e exemplo, provando que existem soluções para os problemas sociais. Essas e as demais entidades são a semente para um novo tipo de capitalismo voltado para suprir a sociedade com o que ela precisa e não necessariamente com o que ela quer.

(Stephen Kanitz)