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A química e o design |
[Entrevista feita para a Folha de S. Paulo, pelo jornalista Reinaldo José Lopes, com o químico Kelson Oliveira, a propósito do primeiro Congresso Brasileiro de Design inteligente que será realizado em Campinas, SP, neste mês.]
Como o sr. se interessou pelos debates em relação ao design inteligente e como se tornou integrante da comissão científica do congresso?
Meu interesse começou em minha graduação em química, na disciplina de química biológica, quando o professor nos deu a obra de Aleksandr Oparin – um clássico do evolucionismo químico – para avaliar e apreciar a teoria da origem química da vida. Como ateu, à época, achei a teoria elegante, porém extremamente improvável e falha em muitas etapas, com muitas lacunas a ser preenchidas – o que me chamou a atenção e resultou em acalorada discussão com o professor. Com o decorrer dos anos, já professor e doutor em físico-química pude voltar ao assunto da origem química da vida com maior atenção e preparo. Ao procurar alternativas, deparei-me com a excelente e controversa obra do bioquímico americano Michael Behe (A Caixa-Preta de Darwin) e fui apresentado à Teoria do Design Inteligente. Procurei desde então me informar sobre o DI e estudar alternativas. Dei algumas palestras sobre DI, Fé & Ciência, e evolução, em Manaus, São Paulo e Porto Alegre. Recebi o convite alguns meses atrás para integrar o comitê científico do congresso, o qual aceitei com prazer. [Também faço parte desse comitê - MB]
Uma coisa curiosa que notei ao ver os currículos da comissão científica foi a predominância de químicos na equipe. Há algum motivo especial para isso, na sua opinião?
Há de fato uma predominância dessa área no presente momento. Os motivos são muitos e variados, e duvido que haja uma causa única. Se pudesse apontar uma como predominante – que já pude ouvir de alguns outros químicos -, seria devido à teoria da origem da vida darwinista (especialmente a proposta inicial de Oparin) ser facilmente entendida por um químico. O que permite ver falhas que comumente escapam para integrantes de outras áreas. Imagino que seja mais fácil para um químico perceber as incongruências da abiogênese, uma vez que em sua formação há uma dose considerável de química, física e matemática, permitindo uma visão mais abrangente dos processos iniciais da origem da vida. Entretanto, integrantes de outras áreas de formação também conseguem captar outras inconsistências que nos escapam. É por isso que a TDI tem ganho a atenção de profissionais de todas as áreas da ciência.
Ainda do ponto de vista do seu background pessoal, vi que o sr. chegou a cursar uma graduação em teologia. Isso é relevante para a sua perspectiva científica sobre a evolução hoje? A propósito: hoje o sr. é religioso e, se sim, a qual denominação pertence?
A perspectiva religiosa é sempre valiosa para qualquer área da vida de um indivíduo, mas não é determinante para a adesão à TDI. Fui ateu por muitos anos antes de me tornar cristão, e foi no ateísmo que minhas dúvidas sobre veracidade e coerência da teoria darwinista das origens floresceram. É possível ter uma visão crítica sobre a evolução sem necessariamente ser religioso. Hoje participo regularmente de uma igreja presbiteriana em Manaus.
Sei que existe uma grande diversidade de opiniões e pontos de vista entre os defensores do design inteligente. No seu caso, o sr. acha que as evidências apontam em favor de uma Terra e um Universo geologicamente antigos ou “jovens”? Quanto à evolução propriamente dita, o papel de um possível designer inteligente foi, para o sr., algo restrito a certas ocasiões da história biológica (como a origem da vida) ou algo que pode ser visto em processos de especiação, ou surgimento de espécies, mais gerais?
Pessoalmente aceito as evidências acerca de um universo geologicamente antigo, bem como do planeta Terra. A TDI, em minha área de atuação, estuda principalmente os processos químicos restritos à origem da vida, no qual é possível apontar a marcas incontestáveis de um design inteligente. Não há evidências de processo evolutivo, resultante da ação de um designer – a chamada evolução dirigida – que no final seria outra forma de propor o evolucionismo darwiniano. O que há é a enorme gama de seres vivos, cuja origem não pode ser mapeada ou explicada por meio de etapas evolucionárias redutíveis.
O sr. acha que é possível usar métodos científicos para determinar quem seria o designer inteligente? Ou seja, determinar se foi uma entidade sobrenatural, ou possivelmente outras criaturas biológicas de outros locais do Universo que ainda não conhecemos, para citar duas possibilidades?
Não creio que seja possível cientificamente determinar quem é o Designer. Isso pertence ao campo da religião, e não à TDI, e assunto de foro íntimo de cada um. Aproveito para esclarecer que a TDI não é exclusiva à origem da vida terrestre, mas a origem da vida em si. Assim, se houver vida em outros lugares do Universo, sua origem está sujeita às mesmas premissas da TDI – portanto, essas “criaturas biológicas” também seriam fruto de um Designer.
Qual deve ser o conteúdo do manifesto que será divulgado no congresso? [confira aqui] Vocês vão defender o ensino do design inteligente em escolas e universidades? Há planos para argumentar em favor desse ensino contactando o Ministério da Educação, por exemplo, ou seja, de uma atuação política por parte de vocês?
Qualquer manifesto que venha a surgir será resultado da discussão dos congressistas. Nada há definido nesse sentido, no presente momento. Esperemos o congresso para uma resposta final, o qual sem dúvida já é um marco histórico na América Latina.
(Folha.com)