Charles Darwin (1809-1882) |
“É
só uma teoria.” Segundo Hélio Schwartsman [em seu artigo na Folha], é com essa afirmação que os adeptos do design inteligente “tentam diminuir a importância e o alcance da
evolução darwiniana e, assim, abrir espaço para a ideia de que a vida é
complexa demais para ter surgido sem o auxílio de uma inteligência”. Nada mais
flagrantemente em descompasso com a verdade sobre os adeptos do DI em relação à
teoria da evolução de Darwin através da seleção natural e n mecanismos
evolucionários de A a Z (vai que um falhe...), e sobre o caráter
científico da TDI. Schwartsman, judeu e ateu, é um jornalista que eu, sionista,
considero amigo virtual, embora discorde de mim sobre o caráter científico da
TDI. Ele é um crítico motivado, mas suas motivações soam mais ideológicas do
que científicas. Eu admiro muito nele a coragem e a honestidade. Duvido que
tenha lido sequer um livro dos teóricos do DI. Até o mais conhecido – A Caixa Preta de Darwin – O desafio da
bioquímica à teoria da evolução, de Michael Behe. Tivesse lido, não seria
encontrado em descompasso com a verdade sobre os adeptos do DI – de que
afirmamos sobre a evolução ser apenas uma teoria. Desconheço isso em nossa
literatura desde 1998.
A
teoria do design inteligente (TDI)
não pode ser “relegada ao campo das cantilenas religiosas e ignorada”, porque
seus entusiastas não tentam travesti-la de ciência, pois a TDI é uma teoria que
segue o rigor do método científico aceito pela comunidade científica.
A
TDI é uma teoria de detecção de design,
e propõe a agência inteligente como um mecanismo que causa a mudança biológica.
A TDI permite que expliquemos como surgiram os aspectos observados de
complexidade biológica, e outras complexidades naturais, e utiliza o método
científico para fazer suas afirmações.
O
método científico é geralmente descrito como um processo de quatro etapas
envolvendo observações, hipóteses, experimentos e conclusão:
Observação:
agentes inteligentes produzem informação complexa e especificada (ICE).
Hipótese:
se um objeto natural for intencionalmente planejado, ele conterá altos níveis
de ICE.
Testes experimentais: os
objetos naturais são testados para determinar se eles contêm informação
complexa e especificada – engenharia reversa de estruturas biológicas através
de experimentos de silenciamento para determinar se elas exigem todas as suas
partes para funcionar.
Conclusão:
sendo descoberta complexidade irredutível em uma estrutura biológica, os
cientistas concluem que ela foi intencionalmente planejada.
Schwartsman
segue a cantilena dos profetas a la
Nostradamus, quando afirma que os participantes defenderão no 1° Congresso Brasileiro de TDI a realizar-se em
Campinas – 14-16 de novembro de 2014, no The Plaza Hotel, fazer pressão sobre o
MEC para que a TDI seja ensinada nas escolas públicas. Como é que o Schwartsman
sabe do que ainda nem foi discutido entre os proponentes da TDI?
A
turma da TDI presta um favor ao ensino, não confundindo os sentidos do que é
“teoria”. Vamos além: queremos que as afirmações científicas grandiosas dos
atuais paradigmas sejam submetidas ao rigor do contexto de justificação
teórica. A turma da TDI também entende que toda explicação científica é sempre
“só uma teoria” aceita como verdade provisória até surgir uma explicação mais
precisa ou completa.
Schwartsman
que me perdoe, mas afirmar, mesmo que em linhas gerais, que a síntese evolutiva
moderna “está tão solidamente estabelecida quanto a lei da gravidade”, e que
esta também é “só uma teoria”, revela muitas coisas. Parcial ignorância sobre a
diferença entre uma lei científica e uma teoria científica. A lei da gravidade
é um fato científico estabelecido – maçãs caem. Uma teoria pode ter leis e
princípios derivados de seu arcabouço epistêmico. A teoria da evolução tem um
princípio – a seleção natural e uma lei controversa – a de Dollo que afirma ser
a evolução unidirecional e irrevogável.
Para
corroborar o fato da evolução (acho que Schwartsman tem em mente o processo
macroevolutivo) ele citou exemplos:
O
experimento de evolução de bactérias Richard Lenski – as bactérias teimaram
continuar sendo bactérias após 25 anos de experiências.
Modelos
de computador – não mencionou quais, mas todos eles foram programados (ação
teleológica inteligente externa) com “informação ativa” que ajuda o programa a
suplantar a deficiência do processo darwinista cego, aleatório e não dirigido.
Experimento
natural da resistência a novos antibióticos. O exemplo de aquisição de
resistência em bactérias contra antibióticos é tangencial na demonstração do
fato da evolução. Razão: as bactérias que não são eliminadas pelos
antibióticos, não são eliminadas pelos antibióticos. Foi esse o único insight fornecido que a resistência de
antibióticos nos deu. A evolução que ocorreu aqui foi microevolução, mas não é
esse tipo de evolução que Schwartsman está defendendo.
Schwartsman
reconhece que “ainda há buracos e pontos obscuros a explicar” por uma teoria científica,
pois “uma teoria que não tenha problemas é uma má teoria”. E arrematou: “Ou ela
não tem conteúdo empírico que a ponha à prova ou é tão logicamente abstrusa que
nem pode ser contestada.” Mas são justamente esses buracos e pontos epistêmicos
fundamentais obscuros em teorias da origem e evolução da vida que a turma da
TDI vem denunciando desde os anos 1990:
Problema 1:
Não existe mecanismo viável para gerar a sopa primordial.
Problema 2:
Processos químicos não guiados não podem explicar a origem do código genético.
Problema 3:
Mutações aleatórias não podem gerar a informação genética requerida para
estruturas irredutivelmente complexas.
Problema 4:
A seleção natural luta para fixar características vantajosas nas populações.
Problema 5:
O surgimento abrupto de espécies no registro fóssil (Explosão Cambriana) não
apoia a evolução preconizada por Darwin.
Problema 6:
A biologia moderna falhou fragorosamente em produzir uma “Árvore da Vida”.
Problema 7:
A evolução convergente desafia o darwinismo e destrói a lógica por trás da
ancestralidade comum.
Problema 8:
As diferenças entre os embriões de vertebrados contradizem as predições de
ancestralidade comum.
Problema 9:
O neodarwinismo sofre em tentar explicar a distribuição biogeográfica de muitas
espécies.
Problema 10:
O neodarwinismo tem uma longa história de predições inexatas sobre os órgãos
vestigiais e o DNA “lixo”.
Problema extra:
Os humanos mostram muitos comportamentos e capacidades cognitivas que,
aparentemente, não oferecem nenhuma vantagem de sobrevivência.
Quando
a evolução é definida como mera mudança ao longo do tempo dentro das espécies,
ninguém da turma da TDI nega que tal evolução seja um fato. Mas a evolução que
Schwartsman está defendendo é o tipo de evolução neodarwinista – a grande
afirmação de que a seleção natural não guiada e agindo sobre mutações
aleatórias seja a força motriz que produziu toda a diversidade e a complexidade
da vida – essa tem muitos problemas científicos porque tais processos
randômicos e não guiados não produzem novas características biológicas
complexas. Como tal, a evolução neodarwinista é uma teoria que foi falsificada
pelas evidências.
Concordo
e discordo de Schwartsman. A turma da TDI não infere um deus para resolver
quaisquer dificuldades científicas. Uma leitura bem en passant de quaisquer artigos ou livros de nossos teóricos
demonstra isso. Apelamos para uma inteligência, pois o design inteligente pode ser inferido pesquisando-se as propriedades
informacionais dos objetos naturais a fim de determinar se eles portam o tipo
de informação que em nossa experiência no dia a dia surge de uma causa
inteligente.
Discordo
de Schwartsman que a gravidade tenha problemas até mais sérios que a evolução
por ser incompatível com a mecânica quântica. Realmente, este é o maior
problema de toda a Física: como reconciliar a gravidade com a mecânica
quântica. O problema reside não na gravidade em si, mas nos limites teóricos
dos cientistas que buscam essa reconciliação que, para mim, um leigo em Física,
parece ser irreconciliável.
Realmente,
Schwartsman está certo: não é Deus quem guia a órbita dos planetas ou lança os
objetos ao chão, coisas por demais mundanas para um ser a quem atribuímos muito
mais em capacidade e ação. Mas que eles se movem, se movem; e que maçãs caem,
caem!
Problemas
científicos se resolvem com mais pesquisa e debate de ideias, não com supressão
de críticos e dissidentes de Darwin.
(Enézio E. de Almeida
Filho, Desafiando a Nomenklatura Científica)
Nota de Bruno Ribeiro:
“A Folha de S. Paulo faz essas
matérias negativas sobre o 1º Congresso Brasileiro de Design Inteligente, chamando de ‘criacionismo repaginado’,
‘pseudociência’, mimimimi, mas diariamente eles têm a coluninha de astrologia
da Barbara Abramo no caderno Ilustrada (desde 2000).” Pois é...