quarta-feira, março 13, 2013

Problema da carne e bastidores de uma reportagem

A matéria veiculada pelo Fantástico no último dia 10/3, mostrando a situação do abate de gado bovino em diversas cidades brasileiras, com certeza foi chocante e um tanto reveladora. É triste e bastante repugnante, mesmo para os de estômago forte, presenciar cenas como as apresentadas na matéria. É também bastante revoltante, para muitos, descobrir que aquele açougue da esquina, no qual se confiava por achar que a carne era “limpinha”, na realidade, vende carne imprópria para o consumo, e que pode ocasionar diversas doenças. Mas qual foi o objetivo do Fantástico (ou da Rede Globo), ao veicular essa matéria? Podemos concluir, primeiramente, que se trata de um alerta à sociedade e aos órgãos fiscalizadores. No entanto, podemos inferir algo mais?

Lembro-me muito bem das aulas em meu antigo curso de Veterinária, quando nos eram expostos os efeitos do estresse sobre a carne, ou a quantidade de substâncias químicas acumuladas na carne em decorrência do uso de medicamentos nos animais. Ficava atônito ao ver que, apesar de haver o chamado selo de qualidade para a carne, essa carne “qualificada” nada mais era do que um pool de substâncias danosas. Você deve estar se perguntando: “O que ele está querendo dizer?”

Ficou explícito na matéria do Fantástico que há um risco muito grande de se consumir carne cuja origem é duvidosa, pois ela pode ter sido contaminada. Esse risco é real, mas, como a matéria bem mostrou, a quantidade de carne duvidosa consumida no país corresponde a 30% do total. E os outros 70%, estão isentos de risco? Por que isso não foi mostrado na matéria?

Boa parte da carne bovina produzida no Brasil (cerca de nove milhões de toneladas) é destinada à exportação (2,2 milhões de toneladas) para mais de 140 países, e obviamente essa carne não vem de pequenos produtores. Nossa produção está mais concentrada nos estados do Centro-Oeste, e com o avanço da fronteira agrícola, hoje encontramos grandes produtores do Norte do País. São mais de 200 milhões de cabeças de gado bovino, número superior ao da população humana no Brasil. Em números, só estamos atrás dos Estados Unidos. Também somos o terceiro em consumo de carne per capita: cerca de 38kg por ano. São números enormes e que economicamente fazem do Brasil uma potência nesse ramo.

Todo esse mercado está concentrado nas mãos de poucos produtores que detêm grandes porções de terras para a criação de gado. E tal foi minha surpresa ao descobrir, quando acompanhava, em uma fazenda um professor meu em uma seção de inseminação artificial, que esses produtores são, em sua maioria, artistas famosos, apresentadores, narradores esportivos e políticos (os da chamada “bancada ruralista”, você já deve ter ouvido falar).

Há um grande mercado envolvido nisso, e qualquer que seja a má impressão que fique acerca da carne brasileira, poderá prejudicar os lucros desses produtores. Faz-se necessária, então, a “limpeza” da imagem da nossa carne, que é muitas vezes rejeitada por alguns países, devido a casos de contaminação. Para cumprir essa tarefa, é sempre mais fácil jogar o problema para os pequenos. Outra forma é veicular que os grandes produtores têm um excelente controle de qualidade da carne. Mas há verdades escondidas nisso. Fatos que não são mostrados. Por exemplo, veja o que o NACMCF (comitê responsável por estabelecer parâmetros e critérios microbiológicos para os alimentos) afirmou sobre a carne bovina produzida em grande escala:

“A industrialização e o desenvolvimento de práticas agrícolas intensivas têm desenvolvido a possibilidade do aparecimento de resíduos perigosos na carne como antibióticos, anti-helmínticos, hormônios, substâncias parecidas com hormônios, pesticidas, tranquilizantes e metais tóxicos. Alguns componentes da alimentação animal ou contaminantes do pasto, como também agentes terapêuticos ou de promoção de crescimento, podem permanecer nos tecidos após o abate, constituindo perigo para o consumidor.”

Então é verdadeira aquela história de que existem hormônios na carne (e queriam que acreditássemos que isso era lenda urbana). E não somente hormônios, mas também todo tipo de substância química administrada ao animal para evitar doenças ou tratá-las é acumulada e pode ser ingerida pelo consumidor, acarretando problemas de saúde.

Existem diversos tipos de manejo para se evitar a contaminação da carne com radicais livres decorrentes do estresse, ou diminuir a quantidade de substâncias químicas administradas ao animal, porém, isso não é 100% seguro, e todos os pesquisadores e produtores sabem disso. Podemos não estar alerta quanto a isso, mas muitas pesquisas já mostraram o quanto o consumo de carne é prejudicial ao ser humano, e mesmo assim continuamos a consumir algo tão ruim para nós.

Aprendi algo sobre isso na faculdade de Veterinária. Você deve tentar deixar o produto “menos ruim”, porque o produto ideal não existe. No entanto, hoje posso afirmar algo diferente: o alimento ideal existe, sim, e só alguém que entende muito bem do assunto pode indicá-lo. Deus, o Criador de todas as coisas, nos deixou um tipo de dieta ideal e nos deu vários conselhos para obter essa dieta de forma saudável. Cabe a nós estudar a Palavra para apreender tais conselhos e ter força para pô-los em prática. Não digo que é fácil, pois ainda estou nessa luta, mas posso dizer que é essencial.

Estamos no meio de um grande conflito cósmico e nosso inimigo fará de tudo para nos convencer de que Deus está errado. Ele se utiliza, de forma bastante intensa, dos meios de comunicação. Quando vejo matérias como a do Fantástico, sempre tento me posicionar de forma cética, pois sei que neste mundo a imparcialidade muitas vezes é o mesmo que se posicionar do lado errado.

(Paulo Rógeris Maia de Queiroz Jr., aluno de graduação em Medicina pela Universidade Federal do Ceará; texto produzido com exclusividade para o blog Criacionismo)