Lúcifer: o anjo simpático |
Duas
notícias recentes me chamaram a atenção e guardam alguma semelhança entre si,
embora os assuntos sejam bem diferentes (ou não seriam?). A primeira diz
respeito à aprovação pela Fox do episódio piloto de “Lucifer”, série baseada na
história em quadrinhos de Mike Carey sobre as aventuras do anjo
caído Lucifer Morningstar. “Com isso, a atração já garantiu a
encomenda de uma primeira temporada. Não foram divulgados, porém, a quantidade
de episódios que a série terá. Tom Kapinos, o criador de ‘Californication’,
assinou o piloto e também servirá como produtor executivo do projeto. O
personagem apareceu primeiro nos quadrinhos de ‘Sandman’, de Neil Gaiman,
em 1989, e só ganhou sua revista própria em 2000. A HQ da Vertigo, selo adulto
da DC Comics, teve 75 edições publicadas até 2006. A série ‘Lucifer’
servirá como sequência das histórias em quadrinhos, mostrando o protagonista
gerenciando um bar depois de ter desistido de comandar o inferno. ‘Lucifer’
será produzida pela Warner Bros. TV e se juntará a uma leva de
adaptações de HQs da DC, que incluem as séries ‘Constantine’, ‘The Flash’, ‘Gotham’,
‘Supergirl’ e dos ‘Novos Titãs’”, informa o site Cinepop.
Quadrinhos
satânicos não são exatamente novidade, como bem se lembram os leitores de “Spawn”
e “Motoqueiro Fantasma” , para citar apenas dois. A novidade fica por conta
dessa nova onda de adaptações de quadrinhos para o cinema e para a TV, o que
está dando muito mais visibilidade para personagens antes apenas conhecidos
pelos leitores do gênero HQ. Cada vez mais a figura do anjo caído rebelde vai
sendo banalizada, havendo até quem “torça” por ele e se identifique com ele. Na
série “Falen”, por exemplo, os leitores até torcem
para que os anjos caídos recuperem seu lugar no Céu, de onde teriam sido “injustamente”
expulsos!
A
outra notícia diz respeito ao sucesso do momento: “Cinquenta Tons de Cinza”. Segundo o blog Page Not Found, “alunos de uma escola do ensino
fundamental em Monessen (Pensilvânia, EUA) receberam em sala de aula
um caça-palavras baseado em Cinquenta
Tons de Cinza, sucesso editorial erótico de E. L. James que foi levado
ao cinema. Entre as palavras a serem buscadas no mosaico de letras estavam
‘espancamento’, ‘submissa’, ‘algemas de couro’ e ‘bondage’ (técnica
sadomasoquista de submissão usando cordas e outros apetrechos). James Carter,
pai de um aluno da escola, fez reclamação formal à direção do estabelecimento
de ensino durante reunião do conselho de alunos, de acordo com a agência AP.
Autoridades disseram que não discutiriam a questão, mas um membro do conselho
afirmou que o caça-palavras foi um ‘grande erro’.”
Apenas
um pai se manifestou? O mais triste é saber que, no Brasil, adolescentes de 14,
15, 16 anos foram ao cinema assistir a essa produção cinematográfica (o próprio
governo abaixou de 18 para 16 anos a classificação indicativa do filme). E por
que foram assistir? Por causa do marketing
que vendeu pornografia sadomasoquista como romance. Por causa da curiosidade
despertada pela mídia aliada à indústria cinematográfica de olho nos milhões de
dólares que serão arrecadados à custa de uma geração que passará a ver o sexo
como técnica de tortura, prazer depravado e dominação.
Pensando
bem, as duas notícias têm tudo a ver mesmo. O mesmo motivador está por trás dessas
banalizações; dessa normalização do anormal e dessa inversão de valores. [MB]