Neste
trimestre, os irmãos da igreja Assembleia de Deus estão estudando em suas
escolas dominicais o tema “Os Dez Mandamentos: Valores divinos para uma
sociedade em mudança”. Até agora, tudo vinha muito bem. Estudaram o primeiro
mandamento. O segundo e o terceiro. Mas eis que chega o quarto, e o esperado
acontece: dizem que esse mandamento não é bem assim; é “controverso”. Temos que
amar a Deus sobre todas as coisas? Sim, claro. Não devemos adorar imagens? Sem
dúvida. Não tomar o nome de Deus em vão? Jamais. Lembre-se do dia de sábado – o
sétimo dia da semana – para santificá-lo? Aí, não. Esse mandamento era apenas
para os judeus e foi “cravado na cruz” – as desculpas de sempre. Lamentável!
Será que o autor (ou autores) desse guia de estudo tem noção do estrago que
está fazendo ao desencaminhar tantas pessoas? Afinal, a Assembleia de Deus é a
maior denominação evangélica do Brasil. Se ele (ou eles) estiver errado, estará
atacando um dos dez mandamentos da sagrada e imutável (Mt 5:17-19) lei de Deus,
escrita com o dedo dEle (Êx 31:18). Imagine se considerássemos o “não matarás”
ou o “não adulterarás” também controversos, passíveis de interpretação?
Abriríamos mais ainda a porta ao pecado e à transgressão. Então por que apenas
um mandamento, o quarto, é considerado “controverso”? Vamos analisar essa
questão, em benefício dos irmãos assembleianos e de todos os interessados no
assunto. Para isso, é muito importante que você confira os textos bíblicos
citados e acesse todos os links
abaixo. E que faça isso com oração, pedindo orientação dAquele que inspirou a
Palavra de Deus, o Espírito Santo.
A
lição nº 6 da Escola Dominical deste trimestre (que pode ser lida aqui) começa afirmando que “o sábado
é um presente de Deus para o povo de Israel” e que “a fé cristã é isenta de
toda forma de legalismo”, já dando o tom do que vem a seguir. Para começo de
conversa, o sábado foi dado “por causa do homem [ser humano]” (Mc 2:27), no
Éden, para Adão e Eva, antes de existirem judeus ou quaisquer outros povos
sobre a Terra (Gn 2:1-3). Aliás, esse texto menciona que Deus fez três coisas
muito especiais e irrevogáveis no sétimo dia da criação: Ele descansou (cessou
Sua obra e deu exemplo do que fazer no sábado), santificou (separou para um propósito
especial) o sétimo dia e o abençoou (o que Deus abençoa ninguém pode “desabençoar”).
Guardar o sábado, portanto, não tem nada a ver com legalismo, muito pelo
contrário, tem a ver com celebração e adoração.
O guia prossegue: “Deus celebrou o sétimo dia após a criação e
abençoou este dia e o santificou (Gn 2.2,3). Aqui está a base do sábado
institucional e do sábado legal. O sábado legal não foi instituído aqui; isso
só aconteceu com a promulgação da lei.” Essa separação entre o sábado
institucional e o legal é inteiramente artificial. Prova disso é que em Êxodo
16, antes de terem sido dadas as tábuas com os dez mandamentos, o povo hebreu
já estava sendo orientado a guardar o sábado. Neste momento, é muito importante
que você leia este texto (“O sábado antes do Sinai”) e assista a este vídeo (clique aqui), com o mesmo título. Leia e assista com atenção, porque mais adiante o guia de estudos assembleiano
chegará ao ponto de afirmar que os patriarcas não guardaram o sábado!
“O
sábado institucional, portanto, não se refere ao sétimo dia da semana; pode ser
qualquer dia ou um período de descanso”, afirma o guia. Como assim? De ponta a
ponta, no Antigo e no Novo Testamento, a Bíblia é clara em afirmar que o sábado
da lei moral (tanto o “institucional” quanto o “legal”, para usar a linguagem
artificial do guia) é o sétimo dia da semana. De acordo com Êxodo 20:8-11, o
sábado é o memorial da criação e deve ser guardado/celebrado justamente porque
Deus criou em seis dias literais de 24 horas. Os adventistas são criacionistas
exatamente (e principalmente) por esse motivo, e pregam o que está escrito em
Apocalipse 14:6 e 7, ou seja, que devemos adorar “Aquele que fez o céu, e a
terra, e o mar, e as fontes das águas” (numa alusão clara ao texto de Êxodo
20:8-11). Se o sábado pode ser qualquer dia da semana, por que os evangélicos
insistem, então, no domingo? Não deveriam guardar nem defender qualquer dia
santo, e simplesmente riscar da Bíblia deles o quarto mandamento.
Como
eu havia dito há pouco, o guia afirma que “os patriarcas não guardaram o
sábado. O livro de Gênesis não menciona os patriarcas Abraão, Isaque e Jacó
observando o sábado”. Se isso fosse critério para a nossa vida, poderíamos
adotar a poligamia, já que alguns patriarcas tiveram mais de uma esposa, e
dispensar de vez o dom de línguas dos pentecostais, já que nenhum patriarca
(aliás, nenhum dos servos de Deus na Bíblia) jamais falou as tais “línguas estranhas” (na verdade, Deus concede Seu Espírito àqueles que Lhe obedecem: At 5:32). Apesar de seus deslizes, os patriarcas procuraram ser fieis à lei de Deus
(conforme você já deve ter visto nos links
acima), e a lei de Deus inclui o sábado. (Sobre o sábado através dos séculos,
leia este texto [aliás, leia todo o conteúdo desse site].)
Outra
mentira: “Nenhum outro povo na história recebeu a ordem para guardar esse dia
[o sábado]; é exclusividade de Israel (Êx 31.13,17 [esse texto menciona os
filhos de Israel, e eu me considero um deles]).” Que falta faz ler a Bíblia com
atenção. Veja isto: “Bem-aventurado
o homem [aqui não diz judeu] que fizer isto, e o filho do homem que lançar mão
disto; que se guarda de profanar o sábado, e guarda a sua mão de fazer algum
mal. E não fale o filho do estrangeiro,
que se houver unido ao Senhor, dizendo: Certamente o Senhor me separará do Seu
povo; nem tampouco diga o eunuco: Eis que sou uma árvore seca. Porque assim diz
o Senhor a respeito dos eunucos, que guardam os Meus sábados, e escolhem aquilo
em que Eu Me agrado, e abraçam a Minha aliança: Também lhes darei na Minha casa
e dentro dos Meus muros um lugar e um nome, melhor do que o de filhos e filhas;
um nome eterno darei a cada um deles, que nunca se apagará. E aos filhos dos estrangeiros, que se unirem ao Senhor,
para O servirem, e para amarem o nome do Senhor, e para serem seus servos, todos os que guardarem o sábado, não o
profanando, e os que abraçarem a Minha aliança, também os levarei ao Meu santo
monte, e os alegrarei na Minha casa de oração; os seus holocaustos e os seus
sacrifícios serão aceitos no Meu altar; porque a Minha casa será chamada casa
de oração para todos os povos” (56:1-8; os
grifos em “estrangeiro” e “todos” são meus, justamente para destacar o fato de
que Deus deseja que todas as pessoas guardem Seus mandamentos, inclusive o
sábado.)
Outro
ponto: “O sábado e a circuncisão são os dois sinais distintivos do povo judeu
ao longo dos séculos (Gn 17.11).” Igualar o sábado (estabelecido antes do
pecado) com a circuncisão (depois do pecado) é outra leviandade. Como vimos, o sábado
foi dado para a humanidade e é eterno, pois será guardado inclusive na nova
Terra (Is 66:22, 23). Já a circuncisão, de fato, foi dada aos descendentes de
Abraão e foi revogada pelos apóstolos (At 15:1-31). Em Romanos 2:25-29, Paulo
chega a dizer que é inútil ser circuncidado e não guardar a lei de Deus.
“A
expressão ‘Lembra-te do dia do sábado, para o santificar’ (Êx 20.8) remete a
uma reminiscência histórica e, sem dúvida alguma, Israel já conhecia o sábado
nessa ocasião. Mas parece [parece?] não ser referência ao sábado da criação.”
Simplesmente absurdo! Como não se trata de referência ao sábado da criação, se
o próprio texto dá o motivo pelo qual o sábado deve ser lembrado e guardado? “Porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e
tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou; portanto abençoou o Senhor o dia
do sábado, e o santificou” (v. 11).
O
guia passa a usar Jesus com o objetivo de continuar descaracterizando o
mandamento que o próprio Mestre guardou (Lc 4:16): “O Senhor Jesus Cristo disse
mais de uma vez que a guarda do sábado é um preceito cerimonial. Ele colocou o
quarto mandamento na mesma categoria dos pães da proposição (Mt 12.2-4).” Nada
a ver! Jesus comparou a atitude dos discípulos de matar a fome no sábado (o
que, definitivamente, não é pecado) com a dos homens de Davi, que só tinham os
pães da proposição para comer e lhes foi permitido fazer isso. A lição é clara:
Deus ama os seres humanos e criou a lei para eles e não eles para a lei. Os
fariseus legalistas distorceram muitos mandamentos de Deus, inclusive o sábado,
e Jesus veio ensinar a correta observância de Sua lei. Imagine o Cristo do
Sinai (o Eu Sou de João 8:58) dizendo algo assim: “No monte Sinai Eu lhes dei Meus
mandamentos, agora venho lhes dizer que aboli somente o quarto.” Faz sentido?
Mas faz muito sentido o próprio Legislador ter vindo para ensinar como devemos guardar Sua lei. Só Ele tem
autoridade para isso.
Veja
mais esta: “Se o oitavo dia da circuncisão do menino coincidir com um sábado,
ela tem que ser feita no sábado, nem antes e nem depois. Assim, Jesus mais uma
vez declara o quarto mandamento como preceito cerimonial e coloca a circuncisão
acima do sábado.” Típico argumento non
sequitur, ou seja, uma ideia não tem nada a ver com a outra e não se segue
a ela. Se preferir, pode chamar também de “balaio de gato”. Sinceramente, quem
escreveu essas coisas terá que dar contas a Deus! Circuncisão era uma atividade
religiosa, assim como o culto de sábado, a visita aos doentes, etc. Que pecado
há em se praticar essas coisas no sábado? Onde está escrito isso? Pelo
contrário, a Bíblia diz que “é lícito fazer bem aos sábados” (Mt 12:12). Essas
coisas não são atividades seculares nem são remuneradas. Por que Deus “trabalha”
no sábado? (Jo 5:17). Porque a atividade dEle consiste unicamente em manter-nos
a todos com vida. A atividade de Deus é essencialmente “religiosa” e plenamente
de acordo com o espírito do sábado. Francamente, não usemos Deus o Pai nem o
Filho para sancionar nossas transgressões! Isso é grave!
Com
isto eu tenho que concordar: “Jesus é o Senhor do sábado (Mc 2.28). O sábado
veio de Deus e somente Ele tem autoridade sobre essa instituição.” E Ele em
momento algum, em versículo nenhum sequer sugeriu que o sábado devesse ser
substituído pelo domingo. Na verdade, em Mateus 24:20, Ele antevê Seus
seguidores ainda guardando o sábado, quatro décadas no futuro. Se Ele fosse
transferir o dia de guarda ou abolir o sábado, certamente teria feito algum
comentário a respeito disso.
Outro
absurdo: “O primeiro culto cristão aconteceu no domingo e da mesma forma o
segundo (Jo 20.19, 26).” O quê? Aqui é melhor citar o texto na íntegra: “Chegada, pois, a tarde daquele dia, o primeiro da semana, e
cerradas as portas onde os discípulos, com medo dos judeus, se tinham ajuntado,
chegou Jesus, e pôs-Se no meio, e disse-lhes: Paz seja convosco” (v. 19). Eles
estavam fazendo culto? Onde é dito isso? Estavam era com medo de ser mortos
como o Mestre havia sido. Como podiam estar celebrando a ressurreição, se ainda
nem criam nesse evento? E o verso 26 diz que Jesus tornou a aparecer oito dias
depois, ou seja, numa segunda-feira.
Mais
uma mentira: “O dia do Senhor foi instituído como o dia de culto, sem decreto e
norma legal, pelos primeiros cristãos desde os tempos apostólicos (At 20.7; 1Co
16.2; Ap 1.10). É o ‘sábado’ cristão! O sábado legal e todo o sistema mosaico
foram encravados na cruz (Cl 2.16,17), foram revogados e anulados (2Co 3.7-11;
Hb 8.13). O Senhor Jesus cumpriu a lei (Mt 5.17,18), agora vivemos sob a graça
(Jo 1.17; Rm 6.14).” O texto de 1 João 2:4 parece servir como uma luva em quem afirma
coisas como essas. Os primeiros cristãos, a começar por Maria, mãe de Jesus (Lc
23:56; texto escrito 30 anos depois), e os apóstolos guardavam o sábado (At
16:13). João, no Apocalipse, lá pelo ano 100 d.C., disse ter sido arrebatado em
visão no “dia do Senhor” (Ap 1:10), que, na Bíblia, é o sábado (Lc 6:5; leia
também isto). Quem ousou mudar o dia de repouso foi o imperador pseudocristão/pagão Constantino,
em 7 de março 323 d.C., tendo depois o aval da Igreja Católica Apostólica
Romana. Essa igreja, pelo menos, tem um argumento “lógico” para o que fez: a
autoridade do papa, que eles consideram até superior à da Bíblia. Mas como
ficam os evangélicos, ao perceber que não existe base bíblica para se guardar o
domingo? Têm que admitir que obedecem a um mandamento católico...
Quanto
a Colossenses 2:16 e 17, ali lemos o seguinte: “Ninguém
vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua
nova, ou dos sábados,
que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo.” O sábado da lei moral, estabelecido na criação do mundo, não era sombra de coisas futuras, pois, como já vimos, foi dado à humanidade antes do pecado. As cerimônias do santuário (a chamada “lei cerimonial”), essas, sim, foram abolidas na cruz, pois apontavam para Jesus, o “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1:29). Leia novamente Colossenses 2:16 e 17. Algum mandamento do Decálogo menciona comidas, bebidas ou dias de festas? Claro que não. Isso pertence às cerimônias do santuário. As festas judaicas – como Páscoa, Primícias, Dia da Expiação – eram feriados nacionais, dias de descanso, por isso também chamadas de sábados, mas eram distintas do sábado semanal do quarto mandamento.
que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo.” O sábado da lei moral, estabelecido na criação do mundo, não era sombra de coisas futuras, pois, como já vimos, foi dado à humanidade antes do pecado. As cerimônias do santuário (a chamada “lei cerimonial”), essas, sim, foram abolidas na cruz, pois apontavam para Jesus, o “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1:29). Leia novamente Colossenses 2:16 e 17. Algum mandamento do Decálogo menciona comidas, bebidas ou dias de festas? Claro que não. Isso pertence às cerimônias do santuário. As festas judaicas – como Páscoa, Primícias, Dia da Expiação – eram feriados nacionais, dias de descanso, por isso também chamadas de sábados, mas eram distintas do sábado semanal do quarto mandamento.
E a
conclusão do guia da Assembleia de Deus é a seguinte: “A
palavra profética anunciava o fim do sábado legal (Jr 31.31-33; Os 2.11). Isso
se cumpriu com a chegada do novo concerto (Hb 8.8-12). Exigir a guarda do
sábado como condição para a salvação não é cristianismo e caracteriza-se como
doutrina de uma seita.” Aqui fica claro a quem eles querem atacar. Nenhum
adventista do sétimo dia esclarecido crê ou ensina que a salvação se conquista
pela guarda do sábado. Isso seria absurdo, e o guia mente uma vez mais. Cremos
que a salvação é pela graça (Ef 2:8), inteiramente pelos méritos de Cristo.
Obedecemos à lei de Deus porque entendemos que Ele sempre quer o melhor para
nós (Sl 119:97); porque ela é como um espelho que mostra o pecado em nós mesmos
(Tg 1:23-25) e aponta para Jesus como a solução. A lei diagnostica o pecado;
Jesus perdoa. Amamos a Cristo e por isso obedecemos aos Seus mandamentos (Jo
14:15). Se isso é ser “seita”, prefiro pertencer a essa seita. Os primeiros
cristãos também enfrentaram esse tipo de acusação (At 24:14).
O guia de estudos da Assembleia de Deus deste
trimestre acusa na capa a sociedade de estar em mudança, mas se esquece de que
os evangélicos aceitaram uma mudança muito pior que a da sociedade: a mudança
na lei de Deus, promovida pelo poder descrito em Daniel 7:25 e Apocalipse 13. Oro para que muitas
pessoas sinceras, ao estudar esse guia da Escola Dominical, sejam despertadas
pelo Espírito Santo, façam perguntas, questionem a si mesmas e a seus líderes, e tenham a humildade de reconhecer o
verdadeiro Deus Criador e Seu memorial eterno da criação.
Michelson Borges
Assista a vídeos
sobre o sábado, do programa Na Mira da Verdade (clique aqui).
Para saber mais: leia os livros Do Sábado Para o Domingo e
O Sábado na Bíblia