Ordem a partir do caos? |
No
ano passado, uma equipe de físicos causou furor na academia ao defender que a Segunda
Lei da Termodinâmica falha em nanoescala. Agora, outra equipe foi além,
garantindo que, em nanoescala, ou no reino da física quântica, não existe uma,
mas várias “segundas leis da termodinâmica”, que complementariam a clássica
Segunda Lei da Termodinâmica. O trabalho foi liderado pelo brasileiro Fernando
Brandão, atualmente na Universidade College de Londres. A Segunda Lei da
Termodinâmica clássica estabelece que o Universo está em um estado de desordem
crescente, resultando em coisas como uma xícara de café quente em um ambiente
frio vai esfriar, e nunca esquentar, ou que mesmo as máquinas mais eficientes
vão perder alguma energia na forma de calor. Isso parece bastante trivial e
previsível, mas as “segundas leis” dessa termodinâmica quântica vão resultar em
fenômenos bem mais bizarros.
Há
alguma resistência em chamar a Segunda Lei da Termodinâmica de “lei” porque ela
é basicamente uma descrição estatística, que só vale quando há um número de
partículas suficientemente grande em um sistema. Por isso, os físicos têm-se
interessado em saber se ela se manteria válida em sistemas muito pequenos, nos
quais há um número muito pequeno de partículas.
Surpreendentemente,
a equipe descobriu que a desordem também tende a crescer nos sistemas em
nanoescala – validando a Segunda Lei clássica nesses sistemas quânticos –, mas
há “segundas leis” adicionais que restringem o modo como essa desordem pode
aumentar.
“Essas segundas leis adicionais podem ser imaginadas como dizendo que há muitos tipos diferentes de desordem em pequenas escalas, e todos eles tendem a aumentar conforme o tempo passa”, disse o professor Michal Horodecki, membro da equipe.
Isso
significa dizer que, em nanoescala, há medidas adicionais de desordem – todas
diferentes da conhecida entropia – que quantificam os diferentes tipos de
desordem. A equipe demonstrou que, além
do esperado aumento da entropia, todos os outros tipos de desordem também aumentam
com o tempo.
“Embora
uma casa quântica vá ficar mais bagunçada, em vez de mais arrumada, como uma
casa normal, nossa pesquisa mostra que as formas em que ela pode ficar
bagunçada são restringidas por uma série de leis extras. Se não fosse estranho o
suficiente, a forma como essas segundas leis interagem umas com as outras pode
até mesmo fazer com que pareça que a Segunda Lei da Termodinâmica tradicional
foi violada”, explica o professor Jonathan Oppenheim.
Nessas
aparentes violações, o que ocorre é que um pequeno sistema quântico pode ficar
mais ordenado quando entra em contato com outro sistema maior, mas este, por
sua vez, fica mais desordenado, ainda que a desordem seja difícil de detectar
porque o sistema é muito maior do que o primeiro, que se organizou. O efeito líquido, garante a equipe, é uma
maior desordem.
Os
pesquisadores afirmam que seu estudo permitirá um melhor entendimento de como o
calor e a energia são transformados em escala quântica, com importantes
aplicações no desenvolvimento de nanomáquinas, motores biológicos e computadores
quânticos.
Nota:
Se tanto em nano quanto em macroescala a entropia aumenta (tudo tende à
desordem), como explicar a hipótese de que da desordem (ou do “nada”) teria
provindo a ordem, as constantes universais e a leis físicas das quais o
Universo depende para existir? Como explicar que elementos inorgânicos teriam
se organizado espontaneamente num suposto mar primitivo e dado milagrosamente
origem à vida – que dependeria de ordem e aporte de informação crescentes a fim
de evoluir? Ao que tudo indica, a teoria da macroevolução contraria uma lei científica
cada vez mais confirmada. [MB]
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