Propaganda enganosa e irresponsável |
[O
título original desta matéria é “Composto do vinho pode impedir doença
incurável em mulheres”, mas basta você todo o texto para perceber que se trata
de propaganda enganosa. Será que houve “financiamento” por parte dos produtores
de vinho? – MB]
O vinho já
foi ligado a incontáveis benefícios à saúde, desde a prevenção contra o câncer até
a perda de peso. Agora, cientistas da Polônia e dos Estados Unidos descobriram
que uma substância encontrada na bebida pode impedir que mulheres desenvolvam a
síndrome do ovário policístico (SOP). A doença é conhecida por ser
uma das principais causas de infertilidade entre mulheres. Ela se desenvolve
quando os níveis de hormônios esteroides, como a testosterona, estão altos e
causam a formação de cistos. Os sintomas mais comuns são ganho de peso,
excesso de pelos no rosto, acne e até ausência do período menstrual. O estudo
revelou que um composto natural do vinho tinto, chamado resveratrol, pode
reduzir a quantidade desses hormônios no organismo. Essa substância, encontrada na casca de uvas e em nozes, é conhecida
por ter propriedades anti-inflamatórias. [Portanto, não é própria do vinho,
mas da uva.]
O
estudo foi feito com 30 mulheres que tinham ovários policísticos. Elas foram
divididas em dois grupos: um tomou suplementos que continham 1.500 miligramas
de resveratrol e o outro recebeu pílulas de placebo. [Note que elas tomaram
pílulas da substância contida na uva, não taças de vinho.] As participantes
tomaram os comprimidos diariamente durante três meses e doaram amostras de
sangue no início e no fim do estudo. Além disso, elas receberam um teste de
tolerância à glicose para medir o risco de diabetes. Os resultados
surpreenderam os pesquisadores. Os níveis de testosterona das mulheres que
tomaram o resveratrol caíram em 23,1%, enquanto aumentaram em 2,9% no caso das
voluntárias que receberam placebo.
Os
níveis de sulfato de dehidroepiandrosterona (DHEAS), outro hormônio que o corpo
pode converter em testosterona, também tiveram um declínio de 22,2% no grupo
das mulheres que tomaram o suplemento. Já as participantes que ganharam a
pílula de placebo tiveram um aumento de 10,5% na quantidade de DHEAS em
seu sangue.
Houve
também uma redução no risco de diabetes entre as mulheres que tomaram o
resveratrol. Elas se tornaram mais sensíveis à insulina, sendo que os níveis
desse hormônio em seu sangue caíram 31,8%.
Essa
não é a primeira vez que o resveratrol foi associado a benefícios para a saúde.
Em 2006, um estudo publicado na renomada revista científica Nature revelou que a substância natural
poderia estender a vida de ratos.
Apesar
de interessantes, ambas as pesquisas não afirmam que uma taça de vinho por dia
irá aumentar seu tempo de vida ou proteger as mulheres contra as doenças. Isso
porque o resveratrol é encontrado em baixas quantidades na bebida. Para chegar a uma quantidade de duas
pílulas de 250 miligramas da substância, seria preciso beber mais de mil
garrafas de vinho tinto por dia. [E aí está a mentira deslavada: o vinho
não faz bem, pelo contrário, por ser uma bebida alcoólica, faz mal. E é de uma
irresponsabilidade sem tamanho induzir as mulheres a beber vinho como se fosse
um “santo remédio”. O título até poderia ser: “Mais um artigo fajuto em defesa
do vinho”]
(Exame)