Garrafas de vinho de presente |
Segundo
nota no site da revista Veja, depois
de saudar casais que celebram 50 anos de matrimônio, o papa Francisco disse
nesta quarta-feira que “não se pode encerrar uma festa de casamento bebendo chá”.
“Seria uma vergonha. O vinho é necessário para uma festa”, afirmou o chefe da
Igreja Católica na tradicional audiência geral, no Vaticano, diante de 20 mil
fiéis que lotaram a Praça São Pedro. Francisco também elogiou os casais que
estão há meio século juntos e ressaltou que eles são exemplos para os jovens. “Esse
sim é que é o vinho bom da família, o vosso é um testemunho que os jovens
casais devem aprender. Obrigado pelo vosso testemunho”, disse. Durante seu
discurso na audiência geral, o papa também recordou trechos do Evangelho e
falou sobre o primeiro sinal de misericórdia de Jesus nas bodas de Caná e sobre
a transformação da água em vinho. De acordo com o sumo pontífice, o primeiro
milagre de Jesus “indica a transformação da antiga Lei de Moisés no Evangelho
portador da alegria”. “Em Caná os discípulos de Jesus se tornam a sua família e
nasce a fé da Igreja. Àquelas núpcias todos nós somos convidados, para que o
vinho novo não venha mais a faltar”, comentou o líder.
Acho
que o papa Francisco nunca deve ter visto uma festa de casamento que acaba em
bebedeira e briga. Acho que não levou em conta os muitos alcoólicos com a vida
e a família destruídos, e que começaram bebendo “com moderação”. E também acho
que não estudou a Bíblia direito, pois, do contrário, não iria sugerir que
Jesus teria dado vinho fermentado aos convidados da festa, sendo que Deus, no
Antigo Testamento, condena o uso de bebida alcoólica.
Antes
de voltar à Bíblia e à declaração do papa, é bom lembrar que, na primeira
atualização de diretrizes sobre álcool no Reino Unido em 20 anos, especialistas
advertem claramente que nenhum nível de consumo regular de vinho é isento de
riscos. Em 1995, a diretriz dizia que beber pequenas quantidades de álcool,
especialmente vinho tinto, poderia reduzir doenças do coração para homens com
mais de 40 anos e mulheres pós-menopáusicas. No entanto, as novas disposições,
divulgadas recentemente, afirmam que a evidência que sustenta efeitos
protetores agora é mais fraca do que era na época do relatório de 1995.
Levando
isso em conta juntamente com todos os riscos agudos e crônicos conhecidos para
a saúde devido ao consumo de bebida alcoólica, mesmo em níveis baixos,
confirma-se a conclusão do estudo de que não há justificativa para a recomendação
de beber vinho por motivos de saúde, nem para começar a beber por razões de
saúde. Muito pelo contrário, afinal, o risco de desenvolver câncer, por
exemplo, aumenta com qualquer quantidade consumida regularmente.
John
Holmes, pesquisador sênior da Universidade de Sheffield, disse que os chamados
benefícios do álcool para a saúde podem ter sido “substancialmente
superestimados”. Hoje se sabe que, no caso do vinho, o que faz bem são
substância contidas na uva. E o suco puro não fermentado carrega essa vantagem
sem as desvantagens do álcool.
Voltando
à Bíblia, existem várias palavras nela traduzidas como vinho ou bebida forte,
como oinos, vinho embriagante ou
vinho doce; shekar, bebida
embriagante; e tyrosh, vinho fresco
recém-espremido da uva, ou seja, o puro suco da uva. A Enciclopédia Judaica informa
que o vinho fresco antes da fermentação era chamado yayin-mi-gat (vinho de tonel). O livro de Lamentações (2:12)
fala de um vinho (yaín) como alimento
de bebês de colo, e esse só poderia ser o puro suco da uva.
O hebraico yaín e o grego oinos são palavras genéricas que representam todos os tipos de vinho, tantos os embriagantes quanto os não fermentados. Logo, para identificar quando se trata de um ou de outro tipo de vinho, devem-se avaliar os contextos literário e social da época.
O hebraico yaín e o grego oinos são palavras genéricas que representam todos os tipos de vinho, tantos os embriagantes quanto os não fermentados. Logo, para identificar quando se trata de um ou de outro tipo de vinho, devem-se avaliar os contextos literário e social da época.
O
fato é que só há um tipo de vinho recomendado na Bíblia, e se trata do tyrosh, o puro suco da uva
recém-espremida. Em Provérbios 3:10, tyrosh aparece
como símbolo de bênção e prosperidade: “E se encherão fartamente os teus
celeiros e transbordarão de vinho (tyrosh)
os teus lagares.” Também em Deuteronômio 11:14: “Darei as chuvas da vossa terra
a seu tempo, as primeiras e as últimas, para que recolhais o vosso cereal e o
vosso vinho (tyrosh) e o vosso
azeite.”
Todos os vinhos embriagantes e as demais bebidas fortes são tidos como mortíferos (veja, por exemplo, Pv 23:29-32) ou alvoroçadores (Pv 20:1; Ef 5:18) e impróprios para o consumo daqueles que seguem a sabedoria e a justiça (Pv 23:20, 31, 32 e Pv 31:4).
Quando às bodas de Caná, evento relatado em João 2, Cristo não poderia ter produzido vinho alcoólico, cujo efeito sobre muitos dos convidados, após beberem “fartamente” (palavra utilizada pelo próprio texto), certamente seria aquele descrito em Provérbios. Ele estaria trazendo para Si, em última instância, a responsabilidade pela intoxicação alcoólica daquelas pessoas. Além disso, o Senhor não poderia contrariar o ensino que o Espírito posteriormente transmitiria por meio de Paulo: “Não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá; porque o santuário de Deus, que sois vós, é sagrado” (1Co 3:16, 17).
Todos os vinhos embriagantes e as demais bebidas fortes são tidos como mortíferos (veja, por exemplo, Pv 23:29-32) ou alvoroçadores (Pv 20:1; Ef 5:18) e impróprios para o consumo daqueles que seguem a sabedoria e a justiça (Pv 23:20, 31, 32 e Pv 31:4).
Quando às bodas de Caná, evento relatado em João 2, Cristo não poderia ter produzido vinho alcoólico, cujo efeito sobre muitos dos convidados, após beberem “fartamente” (palavra utilizada pelo próprio texto), certamente seria aquele descrito em Provérbios. Ele estaria trazendo para Si, em última instância, a responsabilidade pela intoxicação alcoólica daquelas pessoas. Além disso, o Senhor não poderia contrariar o ensino que o Espírito posteriormente transmitiria por meio de Paulo: “Não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá; porque o santuário de Deus, que sois vós, é sagrado” (1Co 3:16, 17).
É
bom lembrar, também, que o suco puro da uva é um símbolo utilizado por Cristo
para o Seu sangue, cujo derramamento nos dá vida e nos purifica de todo o
pecado. Segundo o falecido teólogo Renato Groger, “há, no milagre efetuado em
Caná (o primeiro do ministério público de Jesus), um significado teológico
extraordinário ligado à morte do Salvador e à mudança por ela operada na vida
daqueles que O aceitam. Assim, definitivamente, o vinho produzido pelo Senhor
era um suco de uva de qualidade tão excepcional que impressionou o mestre-sala
e chamou a atenção do público para o ministério do Senhor”.
O
papa diz que “não se pode encerrar uma festa de casamento bebendo chá”. Pois eu
já participei de muitas festas “regadas” a suco e a chá. E quer saber? São
muito melhores do que aquelas nas quais se consome álcool. Nas festas sem
álcool, as pessoas conversam umas com as outras de maneira clara. Elas se
alegram de maneira genuína e não por causa de estados alterados de consciência.
Creio
que o papa não foi feliz com a afirmação que fez, ainda que quisesse exaltar a
importância da família. De qualquer forma, o vinho da uva não é pior que o
vinho da prostituição mencionado em Apocalipse 18:3. Quem lê entenda. Mas tem
que estar sóbrio para compreender...
Michelson Borges
Leia também: “Bebidas alcoólicas: uma abordagem bíblica”