quarta-feira, julho 29, 2009

Darwin "explica" até crise econômica

Algum tempo atrás, li que a teoria darwinista poderia "explicar" até a origem do Universo, num tipo de "seleção natural cósmica". O que fizeram foi juntar a teoria dos multiversos (nunca empiricamente demonstrada) com a seleção natural que faria o trabalho de selecionar os universos mais "aptos" a sustentar vida. Assim, "resolve-se" a dificuldade de explicar como surgiu um universo tão finamente ajustado, com leis físicas precisas, cheio de evidências de teleologia (projeto). Se surgiram bilhões ou mais de universos e alguns deles foram selecionados, pelo menos em um deve ter surgido a vida, afinal, estamos aqui, não é? Simples assim. Nada de prova. Pura fé especulativa. Agora querem usar Darwin para explicar também a crise econômica, "provando" mais uma vez que o darwinismo é, para alguns, a "teoria explica tudo".

Deu no G1: "No ano em que se comemoram os 200 anos de nascimento do cientista britânico Charles Darwin e os 150 anos de sua obra-prima, A origem das espécies, o economista norte-americano Robert H. Frank [foto acima] defende que as ideias do naturalista se aplicam mais apropriadamente à economia do que as teorias de Adam Smith, 'pai' da teoria econômica clássica. [Assim como Darwin "explica" melhor cosmologia do que os cosmólogos, agora "explica" melhor economia do que o pai dessa ciência.]

"Economista, autor de livros e professor da Cornell University (EUA), Frank contesta o conceito da 'mão invisível' de Smith e diz que o que beneficia um indivíduo não necessariamente beneficia toda a sociedade. Crítico da intervenção estatal na economia, Smith defendia que, em um ambiente de livre concorrência, o bem-estar coletivo é decorrência da harmonização dos interesses dos indivíduos por meio da 'mão invisível' do mercado.

"Para Robert H. Franck, a teoria da seleção natural de Darwin, além de ajudar a explicar a crise financeira enfrentada desde o ano passado, pode apontar saídas para os governos das economias prejudicadas. 'A competição favorece qualidades e comportamentos de acordo com a maneira que eles afetam o sucesso de indivíduos, não de espécies ou de grupos', escreveu o economista em artigo publicado no jornal The New York Times.

Algumas ideias de Frank são até mesmo óbvias e ele usa Darwin, o aniversariante da hora, apenas para fazer brilhar suas (de Frank) opiniões. Note este exemplo que ele dá: "Você quer que seus filhos tenham uma educação acima da média. Então, todos trabalham mais para pagar por escolas melhores para os filhos. Mas quando todos gastam 20% a mais para pagar pela escola, todos ficam na mesma situação. Então, as pessoas trabalham mais horas ou pegam turnos extras ou novos empregos. Nesse caso, a mão invisível não leva ao melhor resultado, mas à pior consequência." Óbvio. Nem precisa apelar a Darwin para justificar isso.

Outro exemplo de hibridização teórica: "Quando o ambiente fica mais competitivo na versão darwiniana, o resultado pode ser cada vez pior. Por exemplo: quanto maior é a competição entre os alces machos na busca por parceiras, mais os chifres deles crescem. Isso é ruim para eles, como um grupo, porque eles ficam mais fáceis de serem capturados. Já a boa visão de uma águia é um bom exemplo do que o que é bom para o indivíduo também é bom para o grupo. Pode acontecer dos dois jeitos."

Agora a explicação darwinista de Frank para a crise: "Os investimentos mais arriscados ficaram cada vez mais populares porque as pessoas queriam ganhar mais, e as pessoas estavam dispostas a investir neles porque seus vizinhos investiam e eles queriam tanto dinheiro quanto os vizinhos. Todos investiram no risco, e todos perderam." [E viva o grande Darwin!]

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