Quase um ano após o afastamento de um cientista da Royal Society por supostamente defender o ensino do criacionismo nas escolas, um evento reuniu em Londres dois dos principais protagonistas do episódio. O autor da reportagem que desencadeou a crise que culminou com a demissão do cientista se desculpou publicamente por sua parcela de responsabilidade no mal-entendido. Os dois participaram de um simpósio destinado a discutir como a imprensa deveria abordar o criacionismo, realizado durante a Conferência Mundial de Jornalistas de Ciência, que acontece esta semana em Londres, no Reino Unido. A confusão surgiu a partir de uma declaração do biólogo Michael Reiss, então diretor de educação da Royal Society, a academia britânica de ciências, durante o festival da Associação Britânica para o Avanço da Ciência, realizado em setembro de 2008 em Liverpool.
Na ocasião, Reiss declarou que o criacionismo deveria ser abordado nas escolas de modo a esclarecer, principalmente para os alunos adeptos das ideias criacionistas, por que elas não têm validade científica e como o conhecimento científico é construído.
Na semana seguinte, Reiss – que também é padre da igreja anglicana, a principal do Reino Unido – foi forçado a deixar seu posto na Royal Society, menos pelo que disse e mais pela forma como o episódio foi coberto pela imprensa britânica. Jornais prestigiosos afirmaram que o cientista defendia o ensino do criacionismo nas aulas da ciência, o que criou um enorme desconforto na academia britânica.
Um dos pivôs da crise foi uma reportagem do diário The Guardian assinada pelo repórter de ciência James Randerson (na foto acima). Embora a matéria apresentasse de forma adequada o raciocínio de Reiss, ela não era nada ponderada na abertura e no título – “Ensine criacionismo, diz cientista eminente”. Nos dias seguintes, o episódio foi noticiado por outros veículos com grande alarde.
Sentado ao lado de Reiss no simpósio desta semana, Randerson reconhece que errou a mão em sua matéria, mesmo não tendo sido o responsável pela escolha do título. “Lamento que essa matéria tenha contribuído para o afastamento de Reiss da Royal Society”, reconheceu o jornalista, hoje editor do portal de meio ambiente do Guardian na internet. “Senti-me bastante culpado por isso.”
Reiss manifestou não guardar rancor do episódio. Ele disse à CH On-line que, embora tenha deixado a academia britânica contra a sua vontade, seu afastamento teve ao menos um lado positivo. “Pude voltar imediatamente à Universidade de Londres como professor de educação científica com dedicação integral.” Reiss dirige hoje o Instituto de Educação dessa universidade.
Na calorosa discussão promovida no simpósio, predominou a visão de que a imprensa não deve dar o mesmo espaço a teorias evolucionistas e a visões criacionistas. “Os jornalistas de ciência não devem ser obrigados a tratar o criacionismo como uma visão válida em nome do equilíbrio só porque muitos acreditam nisso”, argumentou Randerson, que, além de jornalista, é doutor em genética e evolução [será que é por isso que ele favorece o ensino da evolução?].
Sua visão foi corroborada pelo jornalista Steve Mirsky, da revista Scientific American, dos Estados Unidos. Mirsky defendeu o compromisso do jornalista com com a verdade. “Não podemos apenas apresentar visões opostas do mundo: temos a obrigação de esclarecer ao leitor que uma delas é a verdadeira.”
Michael Reiss ressaltou que consequências perigosas podem advir de visões equivocadas sobre a ciência, como a crença de que o HIV não causa Aids e de que as mudanças climáticas não são acarretadas por atividades humanas. [As comparações são por demais descabidas. Querem de todo jeito tratar os criacionistas como gente de mente estreita, e ignoram a lista de serviço que esse tipo de pessoas tem prestado aos famintos, doentes e sofredores em todo o mundo - inclusive aos infectados pelo HIV.]
(Ciência Hoje)
Nota: Engraçado... Criei este blog pela mesma motivação de divulgar a verdade que vem sendo escondida (ou tratada com leviandade) por muitos setores da chamada grande imprensa. Posso citar uma série de adjetivos depreciativos aplicados aos criacionistas pela mídia secular (tenho colecionado esses "recortes"), enquanto jornalistas de ciência se recusam discutir as ideias a fundo, recorrendo ao rasteiro ataque ad hominem ou contra a religião. Afinal, é bem cômodo sair do campo da ciência e tratar o assunto como simples controvérsia entre ciência e religião. O criacionismo bíblico, embora tenha, sim, um componente religioso, também se vale da ciência experimental para sustentar e ratificar suas premissas. A matéria deixa claras duas coisas: (1) o jornalista tem uma tremenda responsabilidade diante de suas fontes, com aqueles de quem fala/escreve e diante de seus leitores; e (2) a verdade, para aqueles que não têm compromisso com a Verdade absoluta, pode ser (e é) manipulada de acordo com seus interesses.[MB]