domingo, setembro 28, 2014

Cientista brasileiro afirma sua crença em Deus

Ricardo Castro
“Tenho 35 anos, sou casado, tenho um filho e espero outro para novembro. Nasci em Brasília, fiz minha formação em São Paulo, moro nos EUA e estou de férias no Rio. Sou um cientista católico devoto. Não vejo contradição entre religião e ciência, e a fé em Deus me dá inspiração para trabalhar e vencer.” Essa declaração corajosa foi feita pelo cientista Ricardo Castro, em entrevista concedida ao jornal O Globo (confira). É interessante notar que ela vem menos de uma semana depois da declaração de “fé” de outro cientista, o britânico Stephen Hawking (confira). Castro é nanocientista e seu trabalho já obteve vários prêmios internacionais, ensina e pesquisa há cinco anos e meio na Universidade da Califórnia (UCDavis). Leia a entrevista abaixo:

O que é, mais precisamente, nanotecnologia?

É uma ciência que desenvolve materiais com propriedades diferentes em função do tamanho reduzido. Fazemos interferência em átomos. Há muitas coisas por aí que se dizem nanotecnológicas sem ser. Há uma certa moda nano. Nem tudo o que fazemos é sexy como o marketing das indústrias gostaria.

O que você faz, na prática?

Investigo como atuam as interações entre átomos de um material e que alterações podemos fazer para aperfeiçoá-lo. Toda a matéria é governada pelas interações em nível nano. Sabemos por testes que isto ou aquilo funciona, mas não como, nem o que acontece com as propriedades desse material. Há pouca ciência básica nessa área, é fundamental se queremos avançar. É o que faço: tentar entender o nano e controlá-lo.

No que você está trabalhando no momento?

São vários projetos, mas um dos que mais gosto está no programa Ciência Sem Fronteiras, em que atuo com pesquisadores brasileiros e a indústria local. Estudamos como melhorar as propriedades de um material muito usado chamado aluminato de magnésio. É uma cerâmica cristalina e resistente, substitui o vidro. É usada em blindagem, exploração offshore. Hoje, é feita com cristais grandes. Se a produzimos com nano, cristais menores, ela se torna mais resistente e transparente, só que é muito sensível ao calor. Tentamos substituir um átomo por outro e obter um material muito melhor, mais estável.

Fale de outros projetos.

Meu trabalho interessa, por exemplo, ao Departamento de Energia dos EUA porque nosso grupo estuda materiais com aplicação nuclear, que podem ajudar a resolver o problema do lixo atômico e tornar a atividade nuclear mais segura e com menor custo.

Que materiais?

Um deles é a zircônia, uma das cerâmicas mais usadas do mundo. Pode ser empregada, por exemplo, em células de combustível. A nanozircônia é ainda mais resistente e durável. Porém, fica instável no calor. A manipulação atômica, no entanto, pode torná-la mais resistente às altas temperaturas e mecanicamente. A nanozircônia é resistente à radiação, ela a captura. Em testes, fica intacta. Por isso, é tão promissora. E, pelo mesmo motivo, minha pesquisa interessa ao Departamento de Energia, ao Laboratório de Los Alamos e à UCDavis.

Você é um cientista brasileiro de nível internacional. Como vê a ciência no Brasil?

O Brasil forma excelentes cientistas e produz ciência de boa qualidade. Fiz toda a minha formação aqui e consegui reconhecimento lá fora. Mas a ciência brasileira precisa se abrir mais, precisa se internacionalizar. Necessita de uma estrutura mais ágil, motivadora, produtiva, competitiva. O pesquisador brasileiro é muito menos competitivo que o americano, por exemplo. O brasileiro tem grandes qualidades, é adaptável e criativo. Todavia, falta a ele autoestima quando no exterior. E mais foco em resultado.