Eles andaram por lá? |
Alguns
criacionistas questionam a figura do monstro leviatã descrita em Jó capítulo
41. Algumas traduções atuais da Bíblia deram a ele o nome de crocodilo, mas uma
análise mais aprofundada revela que os detalhes contidos nas descrições do
livro de Jó fazem menção, sem dúvida alguma, aos dinossauros. Alguns críticos se
utilizam do seguinte argumento: o potencial autor para o livro de Jó é Moisés.
Portanto, Moisés viveu no Egito, e naquela região do rio Nilo havia muitos
crocodilos e, portanto, a criatura que Moisés conhecia, no período em que
escrevia o livro de Jó, provavelmente fosse um crocodilo. Os crocodilos eram
cultuados pelos egípcios e, portanto, eram criaturas sagradas para aquele povo.
Por outro lado, mesmo nos tempos do Antigo Testamento, algumas pessoas ganhavam
a vida matando crocodilos e comercializando a pele deles. Devido a esse e
outros fatores, os crocodilos se tornaram extintos em alguns lugares. Pesquisas
arqueológicas encontraram evidências de que etíopes caçavam e matavam criaturas
parecidas com crocodilos, além de evidências de dinossauros e humanos
coexistindo, em um Mosaico do Nilo de Palestrina.[1] Arqueólogos encontraram esse
mosaico no antigo local do Templo da Fortuna, na cidade de Palestrina.
Especialistas acreditam que o Mosaico do Nilo é do primeiro século a.C.,
durante o reinado de Sulla.
Dessa
forma, há evidências de que pessoas na Etiópia (que também era banhada pelo rio
Nilo) frequentemente caçavam e matavam crocodilos nos tempos bíblicos,
excluindo esse tipo de réptil (crocodilo) da afirmação de Deus de que pessoas
não poderiam arrancar seu couro ou furar com uma lança sua couraça (Jó 41:7, 13).
Ademais, o fato de os crocodilos serem sagrados para os egípcios levanta,
ainda, outro problema: não faria sentido Deus falar a Jó que pessoas não conseguiriam
matar os [supostos] crocodilos, uma vez que os moradores daquela região (Egito)
nem sequer cogitariam essa hipótese.
É
válido também apresentar algumas evidências históricas para a existência de
dinossauros no Egito. Registros do historiador grego Heródoto, que viveu no
século V a.C., e do historiador judeu Flávio Josefo (o mesmo que traz relatos
da existência de Jesus Cristo), que viveu no século I/II d.C., descreveram
répteis voadores entre o antigo Egito e a Arábia Saudita, que todos os anos
tentavam invadir essas regiões.[2, 3]
Mas
será possível que os dinossauros tenham vivido no “deserto” do Egito? Sabemos
hoje que a região do Saara nos tempos bíblicos era muito diferente do deserto
que é hoje. De acordo com o paleontólogo Nizar Ibrahim, “o local tinha grandes
rios cheios de peixes, predadores semelhantes a crocodilos, répteis voadores e
tartarugas”.[4] Esse cenário se encaixa perfeitamente como um local adequado
para a existência de dinossauros semiaquáticos que viviam sobre os rios (Nilo,
por exemplo) daquela região. No entanto, é possível que existissem dinossauros
aquáticos tão imensos como aquele que Deus descreveu em Jó 41:12? E quanto ao
verso em que são descritos os espinhos ou as fileiras de escamas nas costas,
tão ligadas que nem o ar passaria entre elas (Jó 41:15-17)?
Em
1912, por exemplo, foram encontrados no Egito os primeiros ossos do espinossauro,
mas somente em 1915 eles foram descritos pelo paleontólogo alemão Ernst Stromer
von Reichenbach, que, no entanto, não conseguiu decifrar suas capacidades de
adaptação ao meio ambiente.[4, 5] Somente em 2014 é que foi encontrado um
esqueleto de Spinosaurus aegyptiacus,
uma espécie de cruzamento entre pato e crocodilo, descoberto na região de Kem
Kem (deserto do Saara), no Marrocos, o qual demonstrou que ele tinha adaptações
para se mover tanto na terra quanto na água.[6] Esse foi o maior dinossauro
predador conhecido até hoje, superando em mais de três metros o maior exemplar
do T-rex já descoberto.
Em
2001, foi descoberto o fóssil de um dinossauro herbívoro gigante (27 metros de
comprimento) que vagava pelos mangues da agora desértica região do oeste do
Egito.[7, 8] O fóssil foi encontrado num sítio arqueológico no deserto do Saara.
A descoberta é a segunda realizada na região de Baharlya desde 1935, quando o
geólogo alemão Ernst Stromer descobriu fósseis de vertebrados, incluindo
crocodilos, e de quatro dinossauros: spinosaurus, carcharadontosaurus e bahariasaurus,
além do saurópodo aegiptosaurus.
E
o que dizer de algumas das descrições detalhadas que Deus fez do monstro
Leviatã? Já vimos que, no caso de um crocodilo, seu couro possui, sim, pontos
fracos a ponto de ser perfeitamente possível furá-lo com uma lança; fato que se
opõe à descrição de Jó 41:7, 13, 23 e 26. Além disso, em Jó 41:30 nos é dito
que a barriga do bicho é coberta de cacos pontudos; é certo que ninguém
afirmaria que essa característica realmente exista em um crocodilo.
Portanto,
em resposta ao título do artigo, as evidências existem, assim como também a
possibilidade de que o Leviatã descrito por Deus a Jó não seja, de fato, um
crocodilo.
(Everton Alves)
Referências:
[1]
Towers R. Mosaico de Palestrina mostra humanos interagindo com dinossauros.
Darwinismo, 2015. Disponível em: https://darwinismo.wordpress.com/2015/09/05/o-mosaico-de-palestrina-mostra-humanos-interagir-com-dinossauros/
[2] Macaulay GC (Trad.). The History of Herodotus. Book II.
Londres e Nova York: MacMillan and Co, 1890, pp: 75 e 77. Este
livro foi originalmente escrito por Heródoto em 440 a.C. Disponível em: http://classics.mit.edu/Herodotus/history.2.ii.html
[3]
Sabino. “A Bíblia e os dinossauros” (parte 6) – relatos históricos
sobre dragões. A lógica do Sabino, 2009. Disponível em: https://alogicadosabino.wordpress.com/2009/11/19/a-biblia-e-os-dinossauros-parte-6-relatos-historicos-sobre-dragoes/
[4]
Entrevista concedida pelo paleontólogo Nizar Ibrahim. “Gigante nadador.”
Entrevistadora: Mariana Rocha. Ciência
Hoje das crianças, 2014. Disponível em: http://chc.cienciahoje.uol.com.br/gigante-nadador/
[5]
Presse F. “Novos fósseis revelam dinossauro que sabia nadar.” G1.com, 2014.
Disponível em: http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2014/09/novos-fosseis-revelam-dinossauro-que-sabia-nadar.html
[6]
Ibrahim N, Sereno PC, Dal Sasso C, Maganuco S, Fabbri M, Martill DM, Zouhri S,
Myhrvold N, Iurino DA. “Semiaquatic
adaptations in a giant predatory dinosaur.” Science.
2014 Sep 26;345(6204):1613-6.
[7] Smith JB, Lamanna MC,
Lacovara KJ, Dodson P, Smith JR, Poole JC, Giegengack R, Attia Y. “A giant
sauropod dinosaur from an Upper Cretaceous mangrove deposit in Egypt.” Science.
2001 Jun 1;292(5522):1704-6.
[8]
Presse F. “Segundo maior dinossauro do mundo é encontrado no Egito.” Folha de S. Paulo, 2001. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u3859.shtml